Maljoga - Em jeito de síntese...

É mesmo uma síntese aquilo que passarei a escrever! Não é que não me apeteça, ou seja falta de tempo, ou desinteresse! Desengane-se quem assim estiver a pensar. É que é difícil descrever como foi o 1º Pedestre – Percursos do Lameiro da Serra, promovido pela A. Cultural da Maljoga, tal foi a sua dimensão humana!

O 1º dia começou cedo com o amassar do pão, da broa e do bolo finto, ao que se seguiu o aquecer do forno com lenha de esteva e eucalipto para apressar as modas, pois o dia era longo e as actividades recheadas de coisas boas! Enquanto o pão fintava e a broa ganhava fole, o nosso amigo António da Mata, presenteou os nossos amigos dos quatro cantos de Portugal e muitos outros da nossa Maljoga, com uma belissima explicação do mundo maravilhoso das abelhas. Homem habituado a estas coisas, e em jeito de bom anfitrião, logo desafiou os mais atrevidos para uma lagarada de morangueiro! Aquilo é que foi ver pé ante pé a esmagar os morangueiros que já lacrimejavam de tanto doce! Havemos de o provar lá mais para diante ó António!

Já mijava no lagar um mosto delicioso que fazia as delicias de miúdos (e eles eram muitos) e graúdos, quando no forno da aldeia se enfornavam a broa de milho, o pão de trigo e os pães chatos recheados com coisas boas, todas elas mediterrânicas. Fizemos também o pão rico com aquele fruto que em outros tempos, a alguns alveitérios, fazia trocar os passos enquanto guardavam os rebanhos de cabras pela serra! O almoço foi partilhado, como se de uma família se tratasse, e assim foi todo fim de semana, partilhado em família! À tarde, o Pedi Papper começou na Aldeia Ruiva, lugar de pernoita dos de Lisboa e do Norte do Centro e do Oeste, eu sei lá de onde veio tanta gente! Daí desse Portugal..., cheio de gente boa! Foi uma percurso cheio de peripécias, desde a Isna ao Moinho Branco, passando pela Várzea da Ribeira, seguindo-se a nossa Maljoga e uma visita ao moinho, que aqueles lá do Oeste procuraram pelo Cabeço da Porca, Serra das Talhadas, Lameiro da Serra..., mas de moinho só viram estes de agora, modernos, que já não moem pão, e lentamente vão triturando um caminho mais limpo, em busca de maior sustentabilidade. Não têm culpa de não encontrarem o nosso moinho a água da levada da Foz da Água Boa, lá na terra deles é nos montes e serras que o pão nosso de cada dia ganha forma de farinha!

O jantar foi feito na grelha, e na panela. O Domingo começou às 8.00h com um pequeno almoço servido em bufete(parecia um hotel), todos compareceram à hora marcada! O Rui Lavrador e o Lameiro da Serra esperavam por um belo grupo de corajosos, que nem a chuva, o vento ou o frio foram capazes de deter. E lá foram quase 2 dezenas em busca dos caminhos que os levaram num percurso circular de quase 3 horas! Os restantes, receando uma gripe ou um resfriado, fizeram-se à estrada em descoberta de outros encantos do Concelho de Proença. A hora do almoço chegou por volta das 13h, e às 4 dezenas de convidados, juntaram-se outras 4 dezenas de conterrâneos para um almoço, em que o rei foi o cozido, que não era à portuguesa, mas à Alentejana! Alentejana sim senhor! Porque a si o que é seu! E nestas coisas da comida, não façamos trocas e baldrocas! O que é daqui, é daqui, e não é dali! E quem o diz sou eu mesmo, que defendo religiosamente a origem das coisas! Teoria à parte, estava delicioso, começando pelo caldo do cozido a regar umas migas de pão com hortelã, e passando pela diversidade de legumes e leguminosas. Pela tarde a fora um magusto, agua pé ainda a pedir umas geadas, mas muito boa, fizeram companhia aos participantes enquanto se apuravam os resultados do Pedi Papper. Ganharam todos!

Acabou, mas o Sol, ficou cá dentro!

Rui Lopes,Presidente da Direcção ACDRS de Maljoga

 

 

Vai ter lugar no próximo dia 14 de Agosto, um dia de convívio na aldeia da Maljoga - O Almoço de Verão. Com animação musical, quermesse, venda de rifas, torneio de sueca, torneio de malha, leilões.

A Associação Cultural, Recreativa, Desportiva e Social da Maljoga de Proença-a-Nova, vai assim dinamizar mais um encontro, que vai juntar os que ficaram e os que partiram e hoje regressam para reviver outros tempos e, acima de tudo, preservar aquilo que o tempo vai ajudando a esquecer.

Este dia vai trazer á Maljoga uma noite de fados. “Os marialvas”, grupo de fadistas de Leiria, vai proporcionar, uma noite inesquecível. Esta pretende ser também uma noite cultural, trazendo à aldeia, uma das marcas portuguesas mais emblemáticas, o fado. Quer o almoço, quer a noite estão abertos a todos quanto se quiserem associar e participar num dia bem passado, onde a gastronomia e o fado se juntam. O serão tem como título: Fado ao cair da tarde”. A partir das 20H36 (ocaso do sol) venha até à Maljoga e vai ver que não se arrependerá.

A acompanhar o serão cultural, vão estar também presentes os petiscos, sempre imprescindíveis nestas alturas.

Para nos falar da iniciativa esteve entre nós, o presidente da Associação, Rui Lopes. Referiu as iniciativas e projectos que a nova Direcção pretende levar a efeito. Antes de mais, herdou trabalhos e actividades da antiga direcção que, agora, querem continuar e portanto consolidar os objectivos. Mas, as ideias não se ficam por aí, e acima de tudo, a grande aposta vai para a promoção do património e valores da aldeia, destacando-se o património imaterial como valor fundamental. Desta forma, pretendem voltar às origens e a um passado que urge ser recuperado e que o futuro de certo agradecerá. Os valores de um povo não podem ficar esquecidos ou fechados na memória colectiva, mas trazidos ao presente para que as novas gerações o reconheçam como seu.

A par desta ambição, Rui Lopes referiu ainda a necessidade de dar continuidade às actividades regulares dentro e fora da Maljoga, divulgando as tradições.

Falou-nos ainda do Atelier dos Avós, uma iniciativa cujo principal objectivo é proporcionar momentos de convivência e de partilha de experiencias e saberes entre os “avós e netos da Maljoga”. Além disso também pretende criar um espaço de acolhimento durante o dia de crianças da nossa aldeia. Proporcionar actividades orientadas para a vida da aldeia, contactar com experiências vividas na aldeia, como por exemplo: o meu primeiro quintal – construção de um quintal; Passeio pelos pinhais, observação da natureza (fauna e flora); apanhar pinhas; O mundo das abelhas – Visita a um apiário; Os animais domésticos – O curral das cabras e a ordenha, a capoeira e os ovos, as coelheiras; Os peixes da ribeira, observação e conservação da ribeira – Sensibilização ambiental; Visita ao moinho; ou mesmo coser o pão.

Ideias não faltam e, como diz o Rui, não temos pressa, o importante é que já começamos a fazer recolhas das tradições e do património, no fundo de tudo o que faz parte da memória deste povo e que urge ser reunido. O objectivo é fazer um livro com todas as recolhas. No terreno já há várias pessoas a trabalhar, outras se lhe juntarão. O amor à causa supera todas as barreiras e dificuldades. É a partir dessa ligação emocional à terra natal que leva a que esta gente que vai partindo, não se desligue completamente. “É necessário criar motivos para que os que cá não nasceram mas cá têm as raízes, tenham motivos para vir e acima de tudo ganhem gosto por vir. Precisamos ter coisas para lhes oferecer, ou pelo menos para os “agarrar” à terra” referiu-nos o Rui.

 Conceição Cardoso

 

Fernando Alves, com raízes na Maljoga, distinguido

 

Foi condecorado pelo presidente da Republica, no dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, o jornalista da TSF, Fernando Alves com título de comendador da Ordem do Mérito Civil.

Natural da Maljoga (o seu pai António Alves co-fundador da Associação), Fernando Alves tem feito um excelente trabalho na rádio, com rubricas como “Postigo da Noite”, e “Sinais” e que constitui uma marca de referência na rádio portuguesa.

O nosso jornal endereça-lhe sinceros parabéns.

 Maljoga

Maljoga é uma das aldeias que fica no extremo do concelho. No alto da encosta situa-se esta aldeia tendo por fundo a ribeira que é o marco divisório entre o concelho de Proença e da Sertã.  A entrada da aldeia é marcada pela bonita capela que se ergue no cimo de um pequeno monte. Todos os Domingos se abre para a celebração da Eucaristia. As casas novas e recuperadas dão uma imagem renovada à aldeia. O forno comunitário é a marca de um passado recente que continua bem presente na memória destas gentes.