A Assistência Médica em Proença no século XX

27-01-2015 18:59

O ciclo de Tertúlias que tem vindo a acontecer no bar do Hotel das Amoras teve como tema de início de ano “A Assistência Médica em Proença-a-Nova no século XX”, tertúlia moderada pelo Dr. António Paisana, filho do Dr. Manuel Paisana. Quase meia centena de pessoas ouviu e partilhou as suas experiências nesta área.
Os descendentes dos médicos que marcaram a saúde em Proença, casos do Dr. Acúrcio Castanheira, Dr. Paisana, Dr. Eugénio, que em tempos bem difíceis levaram a medicina até junto das pessoas, deram os seus testemunhos na primeira pessoa.Acenturam a função social exercida pelos médico nesta altura “muitas vezes mais que médicos, eram apoio e conforto para tantas famílias em dificuldades”.
Foi feito um pouco da história desta época, no que diz respeito aos cuidados de saúde. No início do século XX, os recursos económicos e materiais eram muito poucos. Era uma medicina rural, próxima das populações que socorria os mais necessitados, sem dinheiro para pagar ao médico ou os medicamentos. A Dª Albertina Castanheira deu o exemplo do pai que tantas e tantas vezes viu o senhor da farmácia vir a sua casa trazer a fatura dos medicamentos e a sua mãe voltar-se para o marido e dizer: “Olha que ninguém esteve doente cá em casa!”. Pois, mas alguém tinha estado e o médico ajudava na compra dos medicamentos.
A Assistência Médica em Proença passou por várias etapas que foram acompanhando também o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida das pessoas.
O Dr. Acúrcio chegou a Proença-a-Nova em 22 de Janeiro de 1920 e ficou como médico municipal até 1965, sendo também delegado de saúde do concelho e depois mais 10 anos médico na Casa do Povo. Exerceu medicina em Proença durante 55 anos.
Antes dele estiveram os médicos Dr. Manuel Rosa e Dr. José Pinto Faria. Nessa época, entre 1923 e 1966 veio para Sobreira Formosa, como médico municipal, o Dr. Abílio Tomé. São Pedro do Esteval também teve médico entre 1935 e 1942, o Dr. Manuel Lopes, abrangendo uma zona que vinha até aos Galisteus, Labrunhal e outras terras. De salientar que só lá ia um dia na semana.
O Dr. Manuel Paisana veio para Proença em 1940. Foi director clinico do hospital e médico da Caixa de Previdência.
O Dr. Eugénio de Matos, antes de vir para Proença, foi médico de S. Pedro do Esteval entre 1951 e 1953. Depois, exerceu a atividade médica nas Sarzedas, onde esteve 13 anos, e depois Proença-a-Nova. Com ele deu-se a transição para a saúde pública.
Estes foram médicos que, a par de outros, marcaram os tempos mais difíceis da medicina, nomeadamente no interior do país.
Os desafios que a medicina enfrentava, naquele tempo, eram enormes e só ultrapassados com a paixão com que era exercida a medicina. Sem carro, apenas com um cavalo, distâncias enormes, por caminhos sinuosos, e lá ia o médico, sem olhar a horas, tempo, cansaço, apenas porque era preciso ir. Os testemunhos que ouvimos, quer dos médicos presentes, enfermeiros, pessoas ligadas ao sector da saúde e familiares dos médicos, dão-nos a certeza de que estes homens foram efectivamente uns heróis. Salvaram vidas que sem a sua total entrega e disponibilidade dificilmente se salvariam. O médico era um agente social de proximidade com as pessoas.
Foram relembradas tantas e tantas histórias verdadeiras de puro heroísmo quando os diagnósticos eram feitos sem o auxílio de exames e muitas vezes se arriscava no seu tratamento.
Depois do 25 de Abril, os cuidados médicos sentiram uma considerável melhoria, chegando a haver simultaneamente serviços médicos da Caixa de Previdência, do Hospital e da Casa do Povo. Depois, todas as mudanças que foram acontecendo até aos nossos dias.
As tertúlias realizam-se mensalmente, na terceira quinta-feira de cada mês. No próximo mês “A banca e os serviços no século passado” será o tema abordado.
C.C.