Ao Serviço da Igreja Paroquial I I

31-03-2015 12:00

 Como nasceu a paróquia

Mesmo quem não tenha muita simpatia pelas coisas de igreja, cedo ou tarde se cruza com a paróquia, seja porque convidado por um amigo para o seu matrimónio ou para a festa de batismo de uma criança, seja porque participa no funeral de um familiar. A paróquia faz parte da nossa cultura e, desde que nasceu, sempre se manteve de pé porque próxima do homem comum para responder não só às suas necessidades religiosas mas também às suas aspirações mais profundas de comunhão. Podemos defini-la como a igreja feita à medida do homem. Conhecer a sua história pode ser útil para compreender não só a sua natureza mas também para colocar os seus recursos ao serviço do homem moderno.

A Paróquia nos primeiros séculos

É sabido que nos primeiros séculos o cristianismo se difundiu em quase todas as principais cidades do império greco-romano, dando vida a comunidades, por vezes muito pequenas, mas particularmente ativas. Viviam a comunhão não só de fé, mas também de bens materiais, tinham como responsável um bispo assistido por um conselho de presbíteros e diáconos, providenciavam às necessidades das viúvas e dos pobres com os próprios recursos, difundiam com o exemplo e com a palavra a doutrina dos Apóstolos, e, sobretudo, cultivavam um estilo de vida que suscitava a admiração dos pagãos que diziam: ”Olhai como eles se amam”. Mesmo as perseguições não conseguiram sufocar a difusão da nova fé.

   Cada uma destas comunidades gozava de uma plena independência, muito embora mantendo-se estreitamente unidas entre si pela mesma fé, muitas vezes ajudando-se mesmo materialmente. Chamavam-se simplesmente igrejas: a igreja de Roma, a igreja de Cartago, a igreja de Esmirna, a igreja de Éfeso, etc. De seguida, aparece também o nome de paróquia para indicar precisamente a igreja local constituída com o seu bispo. Como explicámos no último artigo, “Paroikós” na acepção civil era o estrangeiro, o forasteiro, o não citadino, que porém vivia na cidade com direito de residência e com tudo o que legalmente isto comporta. E os cristãos durante as perseguições consideravam-se exatamente como estrangeiros no meio da cidade ainda pagã, habitantes deste mundo, mas a caminho da verdadeira pátria.

A Paróquia depois do édito de Constantino

No ano de 313, foi o famoso Édito de Milão que marcou uma reviravolta histórica, porque o cristianismo se tornou a religião oficial do estado e, das cidades mais importantes, o cristianismo difundiu-se rapidamente para as cidades menores e depois para as regiões campesinas. O número de cristãos aumentou consideravelmente, muitos locais abandonados de culto pagão foram recuperados e adaptados ao culto cristão, muitas igrejas foram erigidas de acordo com a piedade dos fiéis ou o zelo dos grandes proprietários de terrenos que queriam assim favorecer a religiosidade dos seus habitantes. Consequentemente, impôs-se aos bispos a necessidade de providenciar a formação cristã desta massa sempre crescente de convertidos.

 Da sede de um bispo à paróquia presidida por um presbítero

Pretender que esses habitantes viessem sempre à igreja onde o bispo tinha a sua sede era impossível; criar novas sedes episcopais nas cidades mais pequenas ou no campo não parecia oportuno e, então, mandava-se-lhes um presbítero que, em nome do bispo, formava a comunidade cristã. Durante um certo período, o bispo reservou-se o direito de administrar o batismo, mas depois também este sacramento da iniciação cristã é dado aos párocos nestas igrejas filiais, que lentamente adquiriram autonomia, constituindo-se em verdadeiras paróquias dirigidas por um sacerdote, sempre em ligação com o bispo.

Por muito tempo, a palavra paróquia serviu para indicar, quer a comunidade da sede episcopal, quer a comunidade com um responsável sacerdote, até que se chegou à definição atual e todo o território sob a jurisdição de um bispo, composto por várias paróquias, deixou de se chamar paróquia para se chamar diocese.

A paróquia e as suas primeiras estruturas  

À volta da paróquia, já no século V, organizaram-se obras de assistência e de promoção humana de largo alcance, como acontecia à volta da comunidade citadina dirigida diretamente pelo bispo: floresceram as escolas das quais provinham também os futuros sacerdotes, nasceram hospitais para os doentes, criaram-se alojamentos para os peregrinos, e, sobretudo, surgiu uma obra ramificada de assistência aos pobres e às viúvas, dando continuidade à antiga tradição apostólica. Para este fim e para a conservação e manutenção dos edifícios de culto e do clero, serviam as ofertas dos fiéis e os legados em bens imóveis. Entretanto, quando os confins do império romano não resistiram às pressões guerreiras dos povos nórdicos e eslavos, muitas paróquias foram destruídas. Em seguida, durante os trabalhos de reconstrução, muitos nobres, reis e senhores edificaram nas suas terras igrejas pessoais, que consideravam como sua propriedade, transmitiam em herança de pai para filho e reservando-se a escolha do sacerdote, deixando ao bispo apenas a tarefa litúrgica da ordenação. E assim até à reforma de Carlos Magno.

  D.D.C.

Nota: Adaptado  e traduzido de “Formazione alla chiesa locale”- Movimento Parrocchiale- La Parrochia- Castelgandolfo, 1995