Nas Moitas Campo arqueológico de novo em escavações

25-08-2014 16:07

Decorre de 4 a 30 de Agosto as escavações no Campo Arqueológico Internacional de Proença-a-Nova, (CAPN) situado junto à povoação das Moitas, pelo terceiro ano consecutivo, novamente com âmbito internacional. O CAPN foi a modalidade definida para concretizar o acordo estabelecido entre a Câmara Municipal de Proença-a-Nova e a Associação de Estudos do Alto Tejo para a valorização do património arqueológico municipal.
Durante este período a equipa vai prosseguir as escavações iniciadas no ano passado na mamoa com cerca de 40 metros de diâmetro e cerca de quatro de altura, considerada uma das maiores do distrito. Os trabalhos são dinamizados pela Associação de Estudos do Alto Tejo, em parceria e com o apoio financeiro do Município de Proença.
A equipa no terreno é acompanhada por uma direção cientifica constituída por cinco arqueólogos. O campo atrai jovens estudantes, na sua maioria de Arqueologia, de diversas nacionalidades. Além de portugueses, participam quatro jovens espanhóis, uma jovem brasileira e um jovem inglês residente em Portugal.
O campo funciona dividido em dois turnos, num total de 40 inscritos. O CAPN realizou-se pela primeira vez em 2012 com a escavação e reconstrução (parcial) da anta do Cão do Ribeiro. Em 2013 o CAPN teve âmbito internacional e consistiu na escavação de dois outros monumentos megalíticos (Vale de Alvito e Cabeço da Anta) integrados no PR1 PN (percurso pedestre História na Paisagem). A continuação dos trabalhos nestes dois monumentos consubstancia o CAPN 2014.  A Proença-a-Nova corresponde uma das mais densas manchas de sepulturas pré-históricas, daquele tipo, identificadas, de modo pioneiro, pelos arqueólogos alemães Georg Leisner e Vera Leisner, publicada, postumamente, na obra Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel - Der Westen, em 1995.
O programa do Campo Arqueológico (CAPN 2014) inclui, para além dos trabalhos de escavação arqueológica e de outras práticas de campo, quatro visitas de estudo e dez palestras, de acesso livre.
Fomos ao terreno acompanhar o andamento dos trabalhos. Falámos com os responsáveis dos dois campos.
O arqueólogo João Carlos Caninas falou-nos do andamento dos trabalhos, concretamente da Anta do Vale do Alvito, uma sepultura pré-histórica envolvida por um montículo em argila, em forma de “broa” com cerca de 30 metros de diâmetro. “Em 2012 investigamos uma sepultura chamada Cão do Ribeiro e conseguimos compreender a estrutura da sepultura, com uma câmara, com corredor de acesso que eram originalmente cobertos com terra e pedras e tinha também um átrio aberto onde tinham lugar rituais relacionados com o culto dos mortos. O monumento do Cão do Ribeiro deu resultados muito interessantes, que ainda estão em estudo, sobre a forma como foi construído este monumentos e os rituais funerários que acolheu, que tencionamos divulgar no próximo ano”, disse João Caninas. Para além disso o monumento foi parcialmente restaurado, repondo partes da estrutura que foram danificadas ao longo do tempo. “Neste momento o monumento tem condições para ser visitado e tal como os outros dois em estudo este ano foi integrado pelo município num percurso pedestre chamado História na Paisagem. Os residentes têm acolhido muito bem estes trabalhos e tem havido uma excelente receptividade para estes estudos da parte de todos os proprietários que autorizaram estes trabalhos”, referiu João Caninas.
Explicou-nos ainda que estas construções “são muito padronizadas e podem encontrar-se construções idênticas noutros pontos do território português”.
Neste momento estão duas equipas a trabalhar no terreno, uma em cada um dos monumentos, estruturadas em diversas sub-equipas cada uma das quais orientada por um arqueólogo. Ainda não foi identificado o povoado, de cabanas dispersas, onde podem ter vivido os construtores destas sepulturas mas situava-se, provavelmente, a curta distância, no planalto das Moitas. Segundo João Caninas o topónimo Moitas poderá significar mamoas.
Passámos depois para o Cabeço da Anta, uma mamoa com cerca de 38 metros de diâmetro e mais de três metros de altura. Conversámos com o arqueólogo Mário Monteiro que nos explicou o trabalho que ali estava a ser desenvolvido e que já está avançado. “Já temos definida a área da câmara funerária e estamos a investir na sua escavação.”
Conversámos também com alguns dos participantes. A Mariana Reis, de Proença, prestes a entrar para a universidade, está ali “porque adoro história e isto veio de encontro à minha curiosidade em saber mais sobre esta área”. Do Brasil, da Universidade de Minas Gerais, veio a Taisa, estudante do 2º ano de Arqueologia. Veio pela formação que pode adquirir e também pela vontade de sair para outro país onde pode acrescentar algo mais ao seu estudo e trabalho. O Steffan nasceu em Coimbra, estuda também no 2º ano de Arqueologia da Universidade de Coimbra, passa muito do seu tempo e Inglaterra. Como é a sua área de estudo, “é uma paixão que tenho e aqui venho desenvolver e também aprender mais”.
Conceição Cardoso