Ser Voluntário

29-07-2014 15:46

Se formos ao  art.º 2.º da Lei n.º 71/98, de 3 de Novembro, encontramos lá a definição do que é ser voluntário. Se alguém tiver curiosidade pode ir ver. Mas não é disso que queremos falar nesta reportagem, (da lei), mas sim do ser voluntário.
Falamos então do Sr. José Esteves, natural da Murteira (Pergulho) e que depois de se reformar tem dedicado todo o seu tempo ao voluntariado. Está envolvido em projectos de solidariedade em Moçambique. Hoje, a sua vida centra-se na ajuda aos outros. A sua história começa com o facto de há alguns ter apadrinhado uma criança e foi acompanhando o trabalho dos voluntários que na altura lá estavam. As imagens foram-no sensibilizando. E a partir daí a sua história de vida no voluntariado não mais parou.
Estivemos com ele no 7º aniversário do Centro de Ciência Viva da Floresta, em Proença, onde falou da sua experiência, dos problemas que enfrenta e fez questão de mostrar onde e como gasta as ajudas monetárias e materiais nas suas causas.
No fundo, o Sr. Esteves partilhou a sua experiência de voluntário que vai ao terreno, participa na construção das obras (escolas, poços) e na aplicação do material que leva de Portugal.
A dada altura dizia: “você sabe o que é não ter água na torneira, não ter uma escola em condições para aprender a língua de Camões?”. Então fala de como tem conseguido levar a alegria a tanta criança que quer aprender e não tem escola, não tem carteiras, não tem livros, não tem lápis.
O Sr. José Esteves tem levado a cabo palestras por todo o País onde divulga os projetos de desenvolvimento local que desenvolve em várias áreas, com o objetivo de divulgar, sensibilizar a comunidade para os problemas da pobreza , mostrar o trabalho já desenvolvido e os novos projetos que pretende desenvolver.
Bate a todas as portas e toda a ajuda é bem vinda. Começou por construir uma escola, foi lá ao terreno ver a escola e foi lá para o meio do mato ajudar a fazê-la. Levou o dinheiro que angariou e todo o material foi de lá, com o objetivo de ajudar os de lá. Formaram equipas com os pais dos meninos e foram eles que fizeram a obra.
Quando chegou lá reuniu com as autoridades, com o diretor das escolas do Guru, apresentou o projeto e teve autorização. E assim foram nascendo outras escolas, recheadas com carteiras, e outro material.
O Sr. Esteves conhece já bem o terreno, as autoridades, as mentalidades e a partir daí as coisas ficam mais fáceis. Trabalha ao lado deles, come com eles, dá trabalho a várias pessoas, como por exemplo, alugar a carrinha para transportar o material para o meio do mato.
Uma coisa que estranhou foi o facto de não utilizarem talheres, comem à mão e isso o Sr. Esteves fez também e conta com alegria como eles ficaram emocionados quando viram que ele também era como eles. Outro aspeto que causa também alguma estranheza a nós europeus é o facto de eles não usarem calçado, pelo menos ali no meio do mato. Até têm sapatos, “mas quando damos por ela já estão descalços, não estavam habituados e isso vai demorar até se habituarem”, disse.
Estamos a falar de uma escola com mais de 500 alunos do 1º ao 7º. Conta o Sr. Esteves que como eram muitos e as escolas poucas, uns vão de manhã, outros à tarde. De manhã vão os mais novos porque como comem pouco aguentam-se menos, à tarde vão os mais velhos. Têm que levar o comer de casa que na maioria dos casos é uma espiga de milho ou  de  mandioca. Comem apenas o que cultivam nos campos. Muitos levavam para comer o que apanhavam no caminho. Ao nível da saúde diz o Sr. Esteves que as coisas estão  a melhorar, “nota-se uma preocupação quer na saúde, quer na educação”. Outra grande preocupação é construir as escolas junto das populações, para evitar que andem muitos quilómetros para ir à escola, “porque eles querem aprender, estão desejosos de ter livros na mão”. Além do projeto da escola agora tem outro que é arranjar uma padaria para o lar de meninas órfãs (40). Tem neste momento tudo pronto para seguir, está só a juntar mais alguma coisa para que o contentor vá cheio. Por exemplo, comprou janelas e portas que as pessoas estão a substituir por outras e pretende também levar para lá. Do resultado duma campanha do ano passado vão também painéis fotovoltaicos. Outro objetivo do Sr. Esteves não é estar sempre para lá a mandar dinheiro, mas ajudá-los a encontrar a forma de dar a volta às situações e encontrar solução para os seus problemas.
A campanha que está agora a decorrer é a do lápis. Um lápis um euro e como referiu o Sr. Esteves “a campanha está a ser um sucesso, as pessoas aderiram muito bem”. Tem colaborado também com outras Instituições e sempre que pode, ajuda também outros voluntários a divulgar as suas ações. Faz questão de frisar que a ajuda é também em Portugal, nomeadamente na sua paróquia, em Ourém.
Então vamos todos comprar o lápis para ajudar a que mais crianças tenham escola.   
                        
                Conceição Alves