Pergulho

A Câmara Municipal de Proença-a-Nova procedeu à requalificação da área envolvente à capela do Pergulho e pavilhão multisusos.

As intervenções passaram pela colocação de passeios sobrelevados, pavimentação de passeios junto à capela, bem como na entrada para o pavilhão multiusos. O espaço onde funcionou a antiga capela também foi requalificado, e recuperado um antigo fontanário. Inaugurou-se ainda uma obra escultórica da antiga capela, ou seja, uma pequena replica da mesma, que foi descerrada pelas entidades presentes. Da escultura faz também parte um boi de bronze.

Das intervenções consta ainda a criação de um jardim, com plantação de árvores e colocação de uma pérgola para fazer sombra, junto ao pavilhão.

 

Para o presidente da Câmara, João Paulo Catarino, esta é uma requalificação à semelhança de outras que “temos feito pelo concelho, em várias dezenas de lugares. No fundo, “ para além da beleza estética, é também importante que as pessoas destas localidades sintam que a Câmara Municipal está atenta às suas necessidades. “Melhorando as aldeias, melhoramos a auto-estima das pessoas”.

Esta inauguração integrou-se nas festividades em honra de S. Marcos que decorreram nos dias 24 e 25 de Abril.

PF

 A lucidez aos 87 anos

 

Ao percorrer as nossas terras, não é difícil encontrar pessoas cuja idade nos merece o maior dos respeitos. Numa dessas andanças fomos parar a casa da Dª Ilda de Jesus, residente no Pergulho. Tiramo-la do seu descanso, numa tarde soalheira, para com ela recordar outros tempos.

Criar 11 filhos não foi tarefa fácil. Mas a Dª Ilda não se queixa e fala com orgulho desse tempo, repetindo vezes sem conta “éramos pobres, mas felizes”. A palavra feliz sai-lhe vezes sem conta da boca. Faz-nos pensar, até porque neste momento lhe falta já completamente a visão.

Entrando no conceito de felicidade que hoje temos, não é por certo fácil entender essa felicidade no meio de tanta dificuldade, da falta de tanta coisa. Para ir trabalhar para o campo, colocava os filhos bebés no cesto da horta ,à cabeça e assim lá ia trabalhando, amamentando e cantando. Ou quando o filho mais velho adoeceu e teve que ir sozinha com ele, dentro do cesto, à cabeça, a pé, até Proença, á procura do dr. Paisana para que visse o filho pois estava muito preocupada. E regressou, sozinha. Teve que parar no caminho algumas vezes pois ele era pesado e estava a ver que não conseguia chegar a casa. “Mas com a graça de Deus tudo se passou”. Não saem lamúrias da sua boca.

Recorda com saudade o Pergulho cheio de gente, os bailes que se faziam. Não pudemos deixar de falar da festa do Pergulho. Os seus olhos brilham, “ai menina se visse a feira que aqui se fazia, era uma coisa linda, vinha gente de todo o lado”. O santo padroeiro do Pergulho, S. Marcos é o santo protector dos animais.

Antigamente os animais, nomeadamente os bois, eram o braço de trabalho das nossas gentes. Aqui acorria gente de todo o lado, não só do concelho, mas de outros concelhos bem distantes. Conta a Dª Ilda que começavam a chegar ao Pergulho 8 dias antes. As tapadas à volta da capela enchiam-se e era preciso reservar lugar. Além disso os que vinham de mais longe precisavam descansar, até porque o boi cansado tinha mau aspecto e quando chegasse o momento da venda o caso complicava-se. Era pois necessário que o animal descansasse para que pudesse render mais.

A Dª Ilda recorda que a sua casa se enchia de gente, na maioria amigos com quem o marido negiciava, daí era preciso dar-lhes de comer.

De ano para ano tornavam-se conhecidos, esperava-se o ano todo por aquela feira. As promessas eram mais que muitas.

Mudam-se os tempos, os bois foram substituídos pelos tractores e a feira e as promessas acabaram. Hoje resta a recordação dum acontecimento que marcou o Pergulho, as suas gentes e claro todo o concelho.

A festa do Pergulho tem hoje um significado um pouco diferente. Ela faz a ponte entre os que ficaram e os que partiram. Ela é motivo para vir à terra natal, para matar saudades, para recordar outros tempos. Se outra função não tiver, tem pelo menos o mérito de manter viva a fé dum povo que apesar de longe mantêm intactas as suas raízes.

 

Capela de São Marcos e Centro Social e Paroquial

 

 

 Pergulho e Murteira

Duas aldeias cuja fronteira é difícil de perceber. Distam de Proença 10 quilómetros. Com um número de habitantes considerável, as aldeias têm conhecido, nos últimos tempos, a construção de casas novas e a recunstrução de algumas antigas, o que dá um ar jovem e novo à aldeia. A capela, dedicada a S. Marcos, ergue-se à entrada. Junto à capela o Centro Social Paroquial de S. Marcos, uma obra construída inicialmente para poder albergar a realização da festa de S. Marcos muitas vezes prejudicada por causa da chuva. A festa, eml ouvor de S. Marcos, padroeiro da capelania, acontece no fim-de-semana mais próximo do 25 de Abril. Sendo uma das primeiras festas da zona, junta sempre muita gente e tem na tijelada, o seu doce típico, um dos fortes motivos de atracção.Antigamente era também uma grande feira que constava do calendário nacional de feiras, a 25 de Abril. O pavilhão do centro social paroquial é um óptimo espaço capaz de albergar eventos de grande envergadura, devido às infraestruturas e espaço de que dispõe.  Povo dinâmico, aproveita todas as oportunidades para juntar os seus, residentes e não residentes. O último encontro foi no Natal. Casa cheia. Pavilhão bem grande que por vezes  junta os naturais das duas aldeias em alegre convívio e festa. É bem conhecida a generosidade das suas gentes e a tradicional e sã convivência de boa vizinhança. Não há nenhum caso de desavenças entre vizinhos que não tenha sido brevemente resolvido sem necessidade de recorrer a tribunais.Este caracter de gente boa não será certamente devido à doçura das suas saborosas tijeladas mas deve-se fundamentalmente à força da fé a marcar as suas vidas: Falar do Pergulho é falar da devoção ao Santíssimo Sacramento. Durante muitos anos manteve-se o costume, que algumas pessoas ainda mantêm, da visita ao Santíssimo Sacramento. Cada pessoa, de noite (para os homens) ou de dia (para as mulheres e as crianças) tinha a hora da sua visita durante a qual se comprometia a passar pela igreja a fazer a sua oração. A diminuição da população e o facto de ficar nas aldeias a população mais idosa não permitiu que esta tradição religiosa se mantivesse.Actualmente a equipa sacerdotal, voltou a colocar essa devoção na vida das nossas gentes. Sempre que é celebrada a Eucaristia semanal, meia hora antes é exposto o Santíssimo.

    Falar do Pergulho e de S. Marcos lembra-nos também uma antiquíssima tradição: Junto à imagem de S. Marcos havia um pequeno touro, em barro, com quem algumas mães "levavam os filhos a marrar" quando  choravam muito (supostamente por serem bravos). Bastava levá-los a "marrar com o touro" de S. Marcos para que amansassem... Este costume dava aso a tantos abusos e chacota que, em conformidade com o que contava o  pai de quem escreve estas linhas, confirmado por muitas outras pessoas, o Sr. P. Beato, pároco de Proença-a-Nova no início dos anos cinquenta (século XX), deu tal sumisso ao touro que nunca mais soubemos onde pára. Gostariamos de o reencontrar e colocar no seu sítio não para voltar "às marradas" mas para guardarmos o que é nosso.

    A lenda associa o touro a S. Marcos, devido à cura de um animal da raça bovina, atribuida a S. Marcos. Talvez daí a origem da grande feira de gado que se fazia no dia do santo (25 de Abril) que, por circunstâncias óbvias desapareceu, mas de que ainda me lembro bem. A tradição da Igreja, com base no livro do Apocalipse, identifica cada um dos Evangelistas com um símbolo: S. Mateus com o rosto de um homem, S. Marcos, com um leão, S. Lucas com um touro e S. João com uma àguia. Por que razão S. Marcos nos aparece identificado, não apenas no Pergulho mas também em outras partes de Portugal, com um touro e não com o leão (como acontece em Veneza, onde está o seu túmulo numa das mais lindas catedrais que já visitei)é mistério cuja origem é difícil desvendar.

vista geral do pergulho

    

    Presentemente existe um sacerdote nascido no Pergulho, o P. Armando Tavares, membro da equipa paroquial e professor de Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Pedro da Fonseca. Três irmãs suas são religiosas Concepcionistas.Há ainda uma outra religiosa, a Irmã Maria de Lurdes Silva, das Irmãs Franciscanas da Mãe do Divino Pastor.

    Talvez pela dureza da vida, muitos filhos desta terra sairam dela como emigrantes e muitos outros singraram nos estudos e conseguiram outras formas de vida. O Pergulho deve ser uma das terras do concelho com maior percentagem de licenciados. Não referimos os seus nomes para evitar  esquecer alguém. Não podemos deixar de falar de uma figura ilustre desta terra, o P. Manuel Alves Catarino. Faleceu há muitos anos. Deixou obra feita, nomeadamente uma Monografia sobre o Concelho de Proença-a-Nova, onde estão dados que hoje nos ajudam a comparar a realidade do concelho noutros tempos e actualmente. O P. Manuel Alves Catarino foi Capitão-Capelão Militar, condecorado com o Oficialito de Avis por serviços distintos, com louvor, Medalha de Comportamento Exemplar e Medalha Jubilar do Imperador da Áustria, Francisco José.

 vista geral de murteira