«FÉ E CIÊNCIA», um diálogo pacífico!

28-07-2014 18:47

Um peregrino em busca da verdade é uma das muitas definições de Homem que ao longo da história nos têm procurado elucidar sobre este ser diferente, específico, multifacetado e com características únicas.

Desde os tempos imemoriais até aos nossos dias, sempre o Homem se apresentou como um ser inquieto, que se admira, se espanta e, acto contínuo, se lança em busca de respostas às questões que a realidade circundante lhe coloca.

O conhecimento foi e é para ele uma epopeia de vida, um doce desassossego de alma, numa constante procura de saber mais e descobrir o que desconhece mas sabe que existe…

Este mistério tão real como humano, levou Alberto Giacometti, escultor suíço, a representá-lo numa maravilhosa escultura em bronze, à qual chamou: L'Homme qui marche (O Homem que caminha de andar decidido, com o olhar posto no horizonte, em direcção à luz das estrelas).

Sequencialmente, com o decorrer da história, o Homem foi procurando encontrar respostas para os seus problemas, em sociedade, pois isolado nunca ele teria sobrevivido, na medida em que é por excelência um ser social e só vivendo interpares foi possível subsistir, fazendo face ao imenso desconhecido.

As descobertas, as respostas, eram partilhadas e o assentimento aos saberes encontrados e transmitidos eram comumente aceites por todos. Não seria seguramente feito à toa, pois a coerência das conclusões e a credibilidade e idoneidade de quem o dizia, eram factores que conduziam a uma aceitação racional e crítica.

Quase todos os conhecimentos que nós adquirimos ao longo da nossa vida devem-se ao facto de confiarmos em quem no-los transmite. Acreditamos que nos chamamos o nome, que nos dizem os nossos pais e até acreditamos que são nossos pais, sem querer investigar ou fazer qualquer experimentação credível para confirmar tal facto.

Sabemos que a Austrália existe sem nunca lá termos ido, sabemos que existiram duas grandes guerras mundiais porque nos contaram e nós fazemos crédito nessas pessoas, nos livros de história, enfim, num leque de informações que recebemos e consideramos credíveis porque a nossa razão nos aponta e indica que sim.

Há uma cadeia de confiança no saber, que se recebe dos outros e se transmite. Viver é confiar, é fazer fé do que nos dizem, do que nos contam os que sabem, porque viram, porque aprenderam, porque lhes contaram.

Sabemos muitas coisas porque acreditamos, diria que mais de 90% do nosso conhecimento é consequência do “fazer fé no que nos dizem”…

Este acto de acreditar é também o cerne da ciência, todos os cientistas acreditam que o mundo é compreensível, que vão conseguir desbravar todo o desconhecido e transformá-lo em conhecimento rigoroso. Esta atitude da Ciência é um acto de fé na capacidade humana e é a atitude mais razoável do homem no mundo e na vida.

Quem só acredita na razão não sabe nada, pois o seu conhecimento não se elaborou, não recebeu matéria-prima para o fabricar, na medida em que se recusou a interiorizar todos os conhecimentos transmitidos pelos livros, pelas tradições e pelos outros, em sociedade.

Mais grave é esta atitude redutora no plano sobrenatural ou divino, pois aqui a negação da Fé bloqueia o Homem, impedindo a sua abertura ao que está para além, ao envolvimento com uma realidade mais abrangente, mais completa. Quem acredita vê, a Fé é uma Luz que ilumina por fora e por dentro, por isso ela transforma o Homem e prepara-o para aceder à coerência da totalidade do real. Se “O Conhecimento é o nosso Destino “na expressão de Carl Sagan no final do livro “Os Dragões do Éden”, poderemos fazer um voto de assentimento a toda a Tradição e afirmar que Deus é o princípio e o fim, o Alfa e o Ómega, o sentido pleno de toda a nossa caminhada, embora errar seja próprio da Condição Humana.

A Pontifícia Universidade da Santa Cruz de Roma lançou um seminário em Roma sobre Ciência e Fé, com a duração de três anos. Contando com cerca de 50 participantes cientistas, dos quais muito poucos são de Teologia, reunir-se-ão uma vez por mês na Sede da Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma). O seu objetivo é saber como se ajudam e entrelaçam no sentido do seu objectivo comum: progresso cultural, social e económico, não perdendo de vista o horizonte de dignidade humana, ponto fulcral de todo o desenvolvimento.

Em Portugal ainda se discute uma possível incompatibilidade entre Ciência e Fé mas, a nível internacional, é pacificamente aceite que entre ambas não existem contradições nem exclusões, digamos que está “cientificamente provado” que são realidades dinâmicas em diálogo não só constante como também possível.

Susana Mexia-Professora de Filosofia