Às vezes…

19-11-2014 17:22

Tatu ela, tatu ele…
Terei de dizer em abono da verdade que sempre fui avesso a tatuagens, digo avesso para não dizer que sou mesmo do contra, o que afinal definiria com mais propriedade o meu verdadeiro sentir do problema.
Engana-se quem pensa que esta coisa das tatuagens é moda de agora. A coisa já vem de longe e, eu assisti à feitura de algumas de uma forma completamente bárbara e sem o mínimo de respeito pela sanidade do tatuado.
Posso afirmar que mais de quarenta por cento dos jovens que combateram nas nossas antigas províncias de África fizeram uma tatuagem. De um modo geral era no braço e os dizeres e o aspeto não variavam muito. Se tinham o mapa da província, tinham os anos em que lá tinham estado, se era em forma de coração o desenho dizia amor desta ou daquela, ou então amor de pais. Cheguei a ver até tatuagens com erros de ortografia, mas uma coisa era certa, sempre que via alguém a ser tatuado, avisava que se a coisa desse para infetar eu, como enfermeiro, não os tratava, mas nem mesmo assim os demovia.
As tatuagens eram feitas com uma caneta de aparo ou com uma agulha que se ia embebendo em tinta de escrever, nada que se compare com o que passa hoje.
As coisas hoje passam-se de forma diferente, a forma de tatuar é diferente, os motivos também são outros e na realidade há por aí verdadeiras obras de arte. No entanto ,continuo na minha: tatuagens não é comigo, tatuar, na minha forma de pensar, é mutilar o corpo.
Hoje é moda estar tatuado, tanto se usa no feminino, como no masculino e há verdadeiras tatuagens ambulantes. São pessoas de todas as categorias sociais, mas é mais visível nos desportistas, em especial nos futebolistas. Basta olhar para um tal Raul Meireles, jogador da nossa seleção, para ver até que ponto chega a febre da tatuagem.
Tudo o que é moda parece servir e é imitado sem mais delongas, se é moda tatuar, vamos lá a isso, nem é preciso pensar se isso pode ou não prejudicar a saúde, o que é preciso é estar na moda.
Outra moda louca é também a do uso de piercing. Por muito que pense, não consigo ver onde esta a beleza do uso de tais “ferragens”. Um dia destes vi uma criatura que se passar perto de um íman gigante fica lá colado. Eu até me arrepiei de tal figura e, veio-me à ideia um caso que se passou comigo em jovem.
Estava eu a estudar em Castelo Branco, praticava atletismo, como federado no Benfica e Castelo Branco, por via dos bons resultados que alcançámos, foi um grupo de cerca de meia dúzia de nós convidados a ir prestar provas ao Sporting a Lisboa. Eramos todos muito jovens, creio até que a maioria seria ainda imberbe. Lá nos aventurámos à viagem e rumámos ao estádio de Alvalade. Para nos sentirmos mais adultos, resolvemos comprar um maço de tabaco e todos deitávamos fumo quando nos dirigimos a quem íamos referenciados, nem mais nem menos que ao famoso professor e treinador Mário Moniz Pereira. De peito inchado lá entregámos os cartões que um conceituado atleta leonino nos tinha dado, ele olhou-nos nos olhos e disparou; «Putos a fumar? Rua, não quero aqui bandalhos». Restou-nos sair porta fora e ver esfumar ali o sonho de ser um bom atleta. Quisemos parecer aquilo que não eramos e deu no que deu.
Bem, hoje talvez que a juventude me chame “velho do Restelo”, isto se houver por aí ainda gente que lê os Lusíadas, saiba quem era e o que dizia esse velho, o que já começa a ser difícil…
ÀS VEZES já me custa compreender as modas de agora, é que ele há para aí cada coisa que “valha-me Deus e todos os Santos”.
jemilioribeiro@gmail.com