A alegria do SIM para sempre

03-03-2014 10:58

O papa Francisco encontrou-se com mais de vinte mil noivos oriundos de 28 países que se estão a preparar para o matrimónio, por ocasião da memória litúrgica de S. Valentim, padroeiro dos namorados.
A iniciativa decorreu na Praça de S. Pedro, no Vaticano, começou com testemunhos, música e poesia. O papa chegou depois e respondeu a algumas questões colocadas pelos casais de noivos, das quais destacamos as seguintes:  
1-O medo do “para sempre”
«Esta é uma pergunta que devemos fazer: é possível amar-se “para sempre”? Hoje muitas pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas. (…). Mas o que entendemos por “amor”? Só um sentimento, um estado psicossomático? Se é isto, não se pode construir sobre alguma coisa de sólido. Mas se em vez disso o amor é uma relação, então é uma realidade que cresce, e podemos também dizer, como exemplo, que se constrói como uma casa. E a casa constrói-se em conjunto, não sozinhos. Construir, aqui, significa favorecer e ajudar a crescer. Caros noivos, estais-vos a preparar para crescer juntos, para construir esta casa, para viver juntos para sempre. Não a quereis fundar sobre a areia dos sentimentos que vão e vêm, mas sobre a rocha do amor verdadeiro, o amor que vem de Deus.
A família nasce deste projeto de amor que quer crescer como se constrói uma casa que seja lugar de afeto, de ajuda, de esperança, de apoio. Como o amor de Deus é estável e para sempre, assim também o amor que funda a família queremos que seja estável e para sempre. Por favor, não devemos deixar-nos vencer pela “cultura do provisório”. Esta cultura que hoje invade tudo.»
2-Viver juntos: o “estilo” da vida matrimonial
«Viver juntos é uma arte, um caminho paciente, belo e fascinante. Não acaba quando vos conquistastes um ao outro… Na verdade, é precisamente então que começa. Este caminho de cada dia tem regras que se podem resumir nestas três palavras (…), palavras que muitas vezes repeti às famílias: “Posso?”, “Obrigado” e “Desculpa”.
“Posso?” É o pedido gentil para poder entrar na vida de alguém com respeito e atenção. É preciso aprender a pedir: posso fazer isto? Agrada-te que façamos assim? Que tomemos esta iniciativa, que eduquemos assim os filhos? Queres sair esta noite? Em suma, pedir permissão significa saber entrar com cortesia na vida dos outros. Escutai bem isto: saber entrar com cortesia da vida dos outros. E não é fácil, não é fácil. (…) E hoje, nas nossas famílias, no nosso mundo, muitas vezes violento e arrogante, há necessidade de muito mais cortesia. E isto pode começar em casa.”
“Obrigado.” Parece fácil pronunciar esta palavra, mas sabemos que não é assim… Mas é importante. Ensinamo-la às crianças, mas depois esquecemo-la. A gratidão é um sentimento importante. Uma idosa, uma vez, dizia-me em Buenos Aires: “A gratidão é uma flor que cresce em terra nobre”. É necessária a nobreza da alma para que cresça esta flor. (…) Não é uma palavra gentil a usar com os estranhos, para ser educado. É preciso saber-se dizer “obrigado” para avançar bem em conjunto na vida matrimonial.
“Desculpa”. Na vida cometemos tantos erros, tantas falhas. Todos os cometemos. Mas talvez haja aqui alguém que nunca tenha tido uma falha? Levante a mão, se há alguém… (…). Todos as temos! Todos! Talvez não haja dia em que não tenhamos alguma. A Bíblia diz que o mais justo peca sete vezes ao dia. E portanto nós temos falhas… Eis então a necessidade de usar esta simples palavra: “Desculpa”. Geralmente, cada um de nós está pronto a acusar o outro e a justificar-se a si próprio. Isto começou com o nosso pai Adão, quando Deus lhe pergunta: “Adão, comeste daquele fruto?” “Eu? Não! Foi ela que mo deu!”. Acusar o outro para não dizer “desculpa”, “perdão”. É uma velha história. É um instinto que está na origem de muitos desastres.”
“Aprendamos a reconhecer os nossos erros e a pedir desculpa. “Desculpa se hoje levantei a voz”; “desculpa se passei sem te falar”; “desculpa se me atrasei”, “se esta semana andei tão silencioso”, “se falei demasiado sem nunca escutar”; “desculpa, esqueci-me”; “desculpa, enfureci-me (…)”… Tantas “desculpa” que podemos dizer ao dia. Também assim cresce uma família cristã. Todos sabemos que não existe a família perfeita, nem o marido perfeito ou a mulher perfeita. Não falemos da sogra perfeita… Existimos nós, pecadores.
O matrimónio é também um trabalho de todos os dias, diria um trabalho artesanal, um trabalho de ourives, porque o marido tem a tarefa de fazer mais mulher a esposa e a mulher tem a tarefa de fazer mais homem o marido. Crescer também em humanidade, como homem e como mulher. E isto faz-se entre vós. Isto chama-se crescer juntos. Isto não vem do ar. O Senhor bendi-lo, mas vem das vossas mãos, das vossas atitudes, do modo de viver, do modo de vos amardes. Fazer-se crescer! Fazer sempre de maneira que o outro cresça. Trabalhar para isto. (…) E os filhos terão esta herança de ter tido um pai e uma mãe que cresceram juntos, fazendo-se – um ao outro – mais homem e mais mulher.”
Entre as muitas maneiras de viver o Dia de S. Valentim esta foi, sem dúvida, sui generis, e a avaliar pelo empenho e alegria de todas as partes, dá para erguer aos céus um hino de esperança num futuro mais generoso e risonho, sabendo todos como é doloroso a infelicidade, a incompreensão, o abandono e a solidão de ver chegar ao fim um sonho que se desfez, por culpa de todos e de ninguém.
Maria Susana Mexia