A vida é como uma estrada!

19-11-2014 17:21

Cidadania, conceito que nos chegou da antiga Grécia, naqueles tempos em que os Sócrates eram verdadeiros pensadores e filósofos, admitindo e confessando que, na realidade, a única coisa que sabiam era que nada sabiam, contrariando assim as informações sagradas do Oráculo de Delfos, cuja pitonisa, após consulta divina, seguramente afirmava ser este modesto homem o mais sábio de Atenas. “ Douta ignorância” dizem os entendidos nas lides do amor à sabedoria (fileo+sofia= a filosofia) e do bem-querer para toda a comunidade.
Tempos remotos ou talvez não tanto, hoje a golpada é entrar de cernelha, esgrimindo piruetas intelectuais, fazendo-se passar por parafuso de rosca moída duma artesanal engenhoca, o reflexo mais perfeito duma arrogância que, muito longe de ser douta, jamais poderá levantar voo, qual ave de rapina de asas cortadas, na alienante fantasia de confundir uma águia-real com uma galinha de capoeira, que bica-bica mas não olha o horizonte, não enxerga, não vê mais longe…
Com a longa e desgastante experiência de quem viveu e vive a epopeia da educação, receita única para uma cidadania sustentável, não posso deixar de insinuar e pôr o dedo nas chagas que todos nós, uns mais do que outros, deixámos que se instalassem à nossa volta, aumentassem e contagiassem, pois são deveras contaminantes para quem não está “vacinado”contra estas novas pragas, quiçá, resultado das alterações climatéricas, familiares, parentéricas, etc.
A vida é como uma estrada, tem normas, faixas, regras e muitos sinais, uns proibitivos, outros obrigatórios. Condutor normal conhece-os e obedece-lhes, pára no vermelho, avança com precaução no amarelo e quando o verde lhe acena segue o seu caminho olhando para os espelhos retrovisores para avaliar se tudo vem bem ou há algum sinal de perigo nas suas imediações, pois prever as manobras perigosas dos outros também faz parte duma condução atenta e segura.
Conduz na estrada como na própria vida, dentro dos limites previamente estabelecidos para bem de todos e não para capricho de alguns, não passa o risco contínuo que, logo lhe indica sonoramente, que se está a aproximar da beira, da margem, que está a fugir para um terreno onde o perigo aumenta, pode derrapar, cair na ravina, enfim, ir por ali abaixo. Também sabe que não pode ir em contra mão, tão óbvio quanto isso, dá de choque com todos os que, pacatamente, circulam e cumprem em nome do bem senso, das normas vitais e as regras para tal elaboradas.
Ora bem, quem se sabe orientar tem toda a liberdade de chegar ao seu destino, deixar e facilitar que aos outros o mesmo possa acontecer, quem prevarica e circula na berma ou passa a margem permitida, meus queridos amigos, como não aprecio termos eufemísticamente perversos, chamo-lhe um marginal, um fora de lei, uma “persona non grata”, “tout court”.
Se a lei, a justiça e a autoridade, não chegam para “domesticar” estes cidadãos, é mister que todos nós colaboremos e exerçamos o nosso dever de cidadania activa e participada.
Pactuar com o que está mal é prevaricar também, por isso temos uma sociedade esquizófrenizada, diz uma coisa, faz outra e permite outras.
Tolerância, não! Preguiça, Inércia, Desleixo, poderão ser os termos mais adequados…
Após esta consideração, eu atrevo-me a lançar um desafio ao leitor amigo: sem perder tempo, nem dinheiro, nem horas suplementares, não será que todos, um pouco por onde nos movemos, poderemos colaborar na defesa e na reconstrução duma sociedade normal, educada, com uma higiene mental onde o ambiente moral ainda seja um factor dominante para a dignidade humana? É certo que técnicos de limpeza e higiene, desde há anos, vêm varrendo as ruas e os passeios, mas quem varrerá esta “espécie de folha caída” que assola e invade os nossos caminhos e as nossas vidas?
Sejamos solidários e, generosamente, exerçamos o nosso dever de cidadãos atentos e vigilantes, em busca duma qualidade que tanto falece neste nosso Portugal, façamos parte da solução e estrangulemos o problema, eliminando-o o mais radicalmente possível, aliás “quando se mata o bicho acaba-se a peçonha”. Violento? Não, caro leitor, a realidade está bem pior do que o cenário que aqui apresento e nós podemos exterminá-la.
                                                         Amílcar dos Santos – Professor