CONTRADIÇÕES

11-06-2011 17:24

 Votar no menos mau…

 

Em dia de eleições, a primeira coisa que fazia, assim que saía de casa e antes de ir celebrar as missas que me esperavam em Domingo de manhã, era ir votar. Fazia-o sempre com uma certa alegria e esperança sobretudo nos primeiros anos da nossa democracia. Nas últimas eleições para a presidência da República, no passado dia 23 de Janeiro, estava internado e não pude votar. Confesso que não fiquei triste. Hoje decorrem as eleições para a Assembleia da República. Poderia ter ido votar logo à abertura das urnas mas não o fiz. Saí calmamente para as três celebrações que me esperavam esta manhã e só agora, depois de ter almoçado, fui votar. Confesso que a alegria e a esperança com que o fazia no princípio já me não acompanharam. Fi-lo por descargo de consciência cívica e também para votar naquele que me parece menos mau. Sim, sou um desiludido da política e esta campanha eleitoral, com os partidos de mais responsabilidade a atacarem-se mutuamente e a fugirem sistematicamente à dura realidade que nos espera, deixou-me ainda mais desiludido. Os nossos políticos são uma desgraça. Se no princípio olhava para eles com esperança de um futuro melhor, de um verdadeiro progresso social e de uma maior justiça para todos, hoje pouco vejo daquilo que desejei. Já era um homem adulto pelo 25 de Abril de 74. Recebi-o com o coração aos pulos e pouco tempo depois fui ordenado sacerdote, caminho que escolhi como meio de servir os outros no desejo de, quando partir, deixar um mundo melhor. Hoje sinto-me feliz pelo sacerdócio, pela entrega realizada e nunca me aproveitei da minha situação para qualquer influência política. Por isso mesmo, como cidadão que também sou, sinto-me com todo direito de opinar sobre o que por aí vai. Quando olho para o desempenho dos nossos políticos sou um homem completamente desiludido. Vejo mais compadrio, mais oportunismo, mais promiscuidade entre o poder político e o grande capital, mais ruptura social do que nos tempos “da velha senhora” que ainda conheci muito bem…

Não sei quem irá ganhar estas eleições – escrevo por volta das dezasseis horas - e confesso que não estou com muita pressa de saber. Seja quem for, sei que o compadrio, os grandes negócios escondidos, a total ineficácia da justiça, só irão diminuir um pouco porque, para vergonha nossa, é preciso que a troika do FMI e União Europeia aí esteja para nos dar um puxão de orelhas ao mínimo deslize. Por mais que os partidos, ditos de esquerda, falem desta troika como se de novos colonizadores se tratasse, a verdade é que vivemos numa irresponsabilidade total. Inebriados pelos subsídios que começaram a chover abundantes depois da adesão à união europeia, qual criança lambuzada pelo gelado que lhe é oferecido, caímos na irresponsabilidade de deixar de produzir riqueza, abandonando a agricultura e investindo apenas em alcatrão, campos de futebol, ordenados escandalosos e altas reformas para os políticos e administradores de empresas públicas, em automóveis topo de gama, etc. Claro que “não há almoços grátis para ninguém” e agora, vergonhosamente, estamos à beira da bancarrota e necessitados de que nos estendam a mão. Ganhe quem ganhar estas eleições, esperam-nos grandes sacrifícios. O que me dói é que o apertar do cinto, as privações vão, mais uma vez, bater à porta dos que não têm culpa, dos que viveram honestamente e sempre tiveram que fazer contas apertadas para se aguentarem no dia-a-dia. Para os outros, para os oportunistas e sabujos, a crise quase não é sentida. Trata-se apenas de se “privar” de mais umas férias aqui ou além ou de, até para evitar dar nas vistas, adiar a compra de mais este ou aquele automóvel ou iate de luxo. Seja quem for que ganhe as eleições, dizia antes, esperam-nos grandes sacrifícios a não ser que queiramos deitar tudo a perder com greves inconscientes e grandes manifestações de rua.

Apesar da minha desilusão com a política, resta-me apenas a esperança de que aqueles que nos conduziram a esta desgraça teimando inconscientemente em “entreter” o Zé-povinho com temas fracturantes como a aprovação do aborto, das uniões de facto, dos casamentos homossexuais sob o pretexto balofo de uma pseudo modernidade, não voltem a ser eleitos. Espero que o povo português tenha um mínimo de intuição política e de bom senso para que não lhes volte a dar o seu voto. Claro que falo de José Sócrates e seus apaniguados. Creio que a derrota política não será para eles castigo suficiente para os muitos erros que cometeram.

 

A.A. 5/06/2011: armandotavares@iol.pt