De falcatrua a fraude

14-05-2014 19:13

Todos temos bem presente o que significa para a humanidade o trabalho, a sua riqueza, a sua necessidade e ninguém, provavelmente, desconhece casos muito tristes de desemprego entre amigos, familiares e conhecidos, bem perto de nós, a sofrer este flagelo sem fim à vista.
Mas no meio deste panorama desolador existem ainda outras situações que são gravosas, que revoltam e são muito perversas, bem como algumas pessoas sem escrúpulos que se aproveitam do panorama actual…
Com a devida autorização da “vítima” eu hoje exponho um desabafo de uma antiga aluna, que como tantas outras, sofrem, desmoralizam-se e não merecem…
-Foi um desperdício de tarde, de tempo e de dinheiro em transportes-
“Fui chamada para um entrevista, na medida em que estou desempregada. Cheguei à hora e ao local marcado. Apareceu uma senhora à porta, a mesma que me tinha convocado por telefone. Disse que o colega é que tinha a chave da loja e naquele momento não estava ali. Enquanto esperávamos pelo suposto colega, ela conversou comigo, perguntou-me a minha formação, o que fazia, etc.
Entretanto, passado alguns minutos, ligou ao suposto colega e disse-me que ele ia demorar muito tempo pelo que ia pedir “à amiga da loja de baixo” que lhe cedesse o espaço para me fazer a dita entrevista.
Tudo bem, entrei, estavam lá uma rapariga e um rapaz, que nos cederam o espaço e fomos para o escritório.
Começou-me por falar do trabalho que me esperava se fosse seleccionada, um negócio, que consistia em vender artigos de uma nova marca “X”, explicou-me que funcionava em sistema de pirâmide e eu iria receber comissões das vendas que fizesse.
Percebi que não se tratava de um emprego mas sim de um negócio, tipo aqueles negócios por catálogo que todos conhecem. Até aqui tudo bem.
Entretanto e depois de explicar tudo disse que eu teria de dar um investimento inicial de 150€ ou 250€ - que se convertia no produto para eu usar ou vender ao preço que quisesse.
Fiquei mais ou menos entusiasmada e ela disse que gostava muito que eu aceitasse.
Vim para casa pensar e contei ao meu namorado. Ele torceu o nariz e perguntou-me como é que eu tinha a certeza que iria receber os 150€ do investimento. E se era uma coisa séria.
Fui então investigar e sinceramente, pareceu-me tudo muito estranho. O site até tem “bom ar” assim à primeira vista. Mas fui ver alguns detalhes e encontrei o seguinte:
- Clicando em “Sobre nós” - não aparece nada;
- Clicando em “Compras on-line” - não aparece nada;
- Clicando em “Mapa” aparece vagamente o nome de uma rua que não corresponde ao local e não tem número de porta;
- Na informação de “Apoio Cliente” aparece um número de telemóvel que por acaso é o da tal pessoa que me ligou e me entrevistou;
- No site também tem lá um suposto passatempo para ganhar o produto, com um link do facebook que, por sua vez, não existe.
Por tudo isto e outras coisas que depois investiguei, conclui que só fui, definitivamente perder tempo. Ainda não tenho a certeza absoluta se é uma fraude, mas que é uma falcatrua, não tenho dúvidas.
E pronto, é preciso ser forte. Já não ia a uma entrevista desde Dezembro. E agora vou a uma em Abril e aparece-me isto...
Estive mais longe de deixar tudo e todos, meter-me num avião para outro país mais evoluído e DECENTE e voltar a Portugal só para férias.”
Diga-me o leitor o que se pode e deve responder a uma jovem neste caso de desespero…e não é dos piores…há histórias bem mais trágicas…
Não merecemos isto, é a única certeza que se me afigura! Somos um povo de brandos “costumes “mas a desolação toca a todas as idades e profissões. É triste, muito triste sofrer esta tormenta em benefício de nada nem de coisa alguma.
Será que ainda acordaremos numa manhã de esperança em que o Portugal perdido se voltou a encontrar? Será que o Abril em Portugal ainda vai voltar a ser um slogan que realize e concretize o muito que todos os de boa vontade fizemos por este país tão vandalizado por alguns?
Perguntas sem resposta, mas realidades que nos tocam profundamente, face às quais não nos podemos abater, desanimar, nem deixar de lutar.
Maria Susana Mexia