Ele também reza: "Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo!"

02-11-2011 14:26

Todos os anos, celebrarmos o dia de Todos os Santos e o dia de todos os Fiéis Defuntos respectivamente, dias 1 e 2 de Novembro. Neste último, a comemoração fica envolta em saudades. Saudades daqueles que viveram entre nós; que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida. Deles guardamos os mais simples gestos e, particularmente, quando mergulhamos na oração, sentimos os ruídos dos seus passos, o som das suas vozes…

O mês de Novembro é, deveras, um tempo de forte simbolismo pessoal e comunitário. Para além das celebrações referidas, da devoção às almas do purgatório e os ofícios de defuntos que enchem as nossas igrejas, é o tempo outonal que convida a um maior recolhimento. Na onda dessas diversas comemorações e na evidência de uma natureza que se vai despojando dos seus adornos, o homem criado à imagem e semelhança de Deus depara-se com motivos suficientes para uma reflexão serena e, ao mesmo tempo, adulta, sobre as realidades últimas: a santidade de Deus e a nossa vocação à santidade, a finitude da nossa existência, a morte, a eternidade, a relação com os nossos mortos, o encontro definitivo com Deus…

O recolhimento sadio imerge-nos no que há de mais profundo, mais essencial e mais elevado no ser humano: a sede de Deus. "Como a noite esconde da sua escuridão o desejo que tem da luz e como a tempestade aspira secretamente pela calma que sucederá à sua fúria assim nas profundidades inconscientes do coração humano ressoa o grito": "Eu desejo a Ti, somente a Ti"! Todavia, acontece que o homem, e até o homem crente, que se identifica por cristão católico, ou membro do corpo místico de Cristo, não raras as vezes, em vez deste grande desejo, anseia o sangue, o escândalo, a difamação, a mentira. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Reza o salmo 41; repetem-no os crentes em Deus, rezamo-lo, nós os cristãos. Infelizmente, não raras as excepções, vem ao manifesto, a grande dicotomia: proclamar com a língua e viver como abutre. Procurando avidamente o bicho morto, a saber a podre, em vez de procurar o ser vivente, o belo, o maravilhoso, a verdade, o Deus vivo… diante de um possível cenário fúnebre, eis que os abutres, não esperam por mais… abeira o momento favorável para o ataque, accionemos os sinos da torre, pois está em vista, carcaças e mais carcaças para o manjar. Como é actual o salmo 54: "…Se me tivesse ultrajado um inimigo, eu poderia suportá-lo; se contra mim levantasse quem me odeia, desse eu poderia esconder-me. Mas tu, um homem como eu, meu amigo e confidente, com quem eu partilhava conselhos agradáveis, com quem eu ia feliz para casa de Deus!" Emergidos no cenário do Outono e à luz das grandes comemorações – Todos os Santos e Todos Fiéis Defuntos – sejamos vigilantes e prontos para accionar "os sinos" com o anúncio: "Procurai, antes, o reino de Deus, e o resto vos será dado por acréscimo. Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao Pai dar-vos o reino" (Lc 12,31-32).

 

P. Ilídio