Falsa piedade para com quem sofre

24-08-2011 16:02

 Continuamos no período do ano em que abundam as trocas mútuas dos desejos de boas férias ou, então, aquelas perguntas rotineiras: tiveste boas férias? As férias estão a decorrer bem…? O nosso Jornal, no dia 13 de Agosto, na carruagem das férias festejou os seus 57 anos a fazer memória e história das suas gentes. Foi uma oportunidade especial para reflectirmos o nosso jornal e de sentirmos a urgência e necessidade de imprimir os esforços necessários e possíveis, para que (o nosso jornal) continue a ser um instrumento útil e indispensável no desenrolar e afirmação da história das nossas gentes e paróquias.

Enquanto muitos tomam o período de férias para criar espaço para “bem respirar”, participar em eventos, estreitar relações familiares e de amizade, ou no dizer de Jesus de Nazaré, extrair o prazer dos pequenos momentos da vida, como por exemplo, “contemplar os lírios do campo”…, outros pensam em promover a morte, mediante a legalização da eutanásia (acção médica pela qual se acelere o processo da morte de um doente terminal ou se lhe tire a vida).

Ora, que outra coisa muitas mentes desejam promover quando mergulhadas numa cultura que valoriza mais o ter e o parecer do que o ser, ou seja, que se preocupa mais em possuir bens do que ser tranquilo, alegre e coerente? É curioso ver como os meios da comunicação social maquilham os semblantes e floreiam as palavras e gestos dos seus “actores” para os tornarem atraentes! Quem se deixa comandar literalmente por estes ventos – consumismo, hedonismo – na viagem da vida, escolhe sempre os trilhos, isto é, a facilidade em vez do caminho que supõe dificuldades e sacrifícios mas que leva à vitória.

Outrora, uma maioria de portugueses, mediante o referendo, deu luz verde para a legalização do aborto. Foi e continua a ser um desprendimento de energia física, psicológica e valores materiais, numa sociedade com uma baixa taxa de natalidade e consequente envelhecimento. Hoje, naturalmente, os mesmos ventos que empurraram para o aborto, como que impedidos de compreender o valor absoluto e a beleza da vida humana, fustigam o barco para a legalização da eutanásia. Parece que estamos numa sociedade tão estranha que não arranjamos tempo para pensar. Quem pensa, por exemplo, no suicídio, não quer de maneira nenhuma matar a vida, pôr fim à existência, mas matar a dor emocional, a angústia, o desespero que abate as suas emoções. Mas voltemos à questão da eutanásia promovida pela falsa piedade para com o doente sofredor. O doente, mesmo na fase terminal, o que quer não é pôr fim à existência. Deseja no fundo do seu íntimo ser ajudado e que lhe sejam dadas as condições que possibilitem assumir mais humanamente a sua situação. Deseja ser acolhido e experimentar ser amado por aqueles que o rodeiam. Em vez destes ventos fustigantes   despenderem energia, valores materiais para formatar mentes de morte e consequente legalização da eutanásia, que tal invertermos a situação?

O Papa Bento XVI, na Jornada Mundial da Juventude em Madrid, consciente de que qualquer mudança exterior sem uma reorganização interior é uma mera máscara social, disse aos jovens: “Não somos frutos do acaso nem da irracionalidade, mas, na origem da nossa existência, há um projecto do amor de Deus”.

P. Ilídio Graça