O Nosso “Senhor Vigário III - O “construtor”

24-08-2011 16:00

 Apesar da sua intensa actividade pastoral ainda lhe sobrou tempo para edificar lugares de culto dignos em diversas aldeias e de restaurar alguns dos existentes. Não me vou demorar a lembrá-los todos até porque os conhecemos. Depois foi edificação do edifício anexo à igreja matriz com infra-estruturas para a catequese e Livraria Paroquial e a restauração da própria igreja. Ainda me lembro de um dia ter desabafado comigo: “Alguns criticam-me por eu não ter restaurado primeiro a igreja mas, se apanhassem a igreja restaurada depois já não ajudavam para a construção desta obra que faz tanta falta como a igreja”. Só à custa da generosidade de alguns, do trabalho voluntário de muitos e da sua própria teimosia foi possível levar a bom termo essas obras. Vi-o, de mãos a sangrar, agarrado à picareta… Ao lado de algumas capelas, irão também surgir centros sociais paroquiais como o das Moitas, Pergulho ou Vergão.

 A consciência de que “sem cultura não há pão”, levaram-no a acolher de bom grado e com entusiasmo a proposta de um grupo de proencenses, com o Sr. Armando Martins à frente, para a construção de um colégio onde os filhos desta terra pudessem estudar. Não só aceitou a proposta mas ele próprio deu a cara pela construção de um edifício com essa finalidade. Antes que tão ingente tarefa levasse ao desânimo, apressou-se a lançar as bases com o funcionamento dos primeiros anos em instalações anexas à Igreja da Misericórdia. Foi professor, deslocou-se a Coimbra à procura de professores que aqui quisessem leccionar, deu a cara pelos empréstimos necessários… Nesse tempo já eu era um jovem seminarista e passava a maioria do ano fora. Nas férias, preso na aldeia ao trabalho agrícola, mal me apercebia do que acontecia na vila. No entanto, ouvi tantas vezes o P. Alfredo contar-me o que aconteceu que me ficaram na memória muitas das angústias e alegrias desse tempo. Posso afirmar que o Colégio Diocesano era a “menina dos seus olhos” e a concretização do sonho de uma formação da nossa juventude de base verdadeiramente humana e cristã. Foi por isso que sofreu imenso com todo o processo “revolucionário” de transição do colégio para o ensino oficial. Ordenado sacerdote em 1974, vivi os meus três primeiros anos de sacerdote nesta terra e era professor no colégio, também um dos saneados pelos militares da 5ª divisão, quando se deu essa transição. Seria um nunca mais acabar e talvez pudesse ferir ainda algumas sensibilidades se falasse disso. O P. Alfredo nunca se convenceu da impossibilidade e até da inutilidade de restaurar o ensino particular em Proença. A degradação a que chegou o edifício que lhe tinha custado tanto suor e lágrimas foi uma dor para ele. Podíamos dizer que “morreu com o colégio atravessado” embora lhe tenha servido de algum conforto o facto de, nos últimos tempos da sua vida, ir ouvindo notícias do restauro que resultou no belo edifício em que nos encontramos.