O Nosso Senhor Vigário

29-09-2011 18:34

5 – O homem desprendido e pobre

 

Já referi atrás que foi graças à sua ajuda económica que pude entrar para o seminário. Quantos não seriam os seus paroquianos que poderiam testemunhar a sua ajuda silenciosa? Todos pudemos conhecer a forma desprendida como viveu. Nunca teve luxos… A sua forma de vestir era pobre e até descuidada. Os automóveis que lhe conhecemos nunca serviram senão para o seu trabalho pastoral… A casa onde morava estava desprovida de qualquer conforto e quem quiser ainda hoje pode observar isso.  Muitas vezes partilhou comigo o facto de o seu dinheiro nunca abundar. Era o primeiro a entrar na ajuda às obras da paróquia que por sua iniciativa iam surgindo. Muitas das “ofertas anónimas” que eram publicadas no jornal eram suas mas fazia-o sem ninguém suspeitar. Pediu-me segredo a esse respeito. Hoje, neste testemunho, sinto-me dispensado de o continuar a guardar. Os únicos bens que tinha, ao falecer, eram as poucas propriedades que herdara da família e duas magras contas no banco. Por testamento reverteram em favor da paróquia. Apesar de se contentar com o pouco, sempre o preocupou a miséria alheia. Recordo apenas que, no seu princípio como pároco, a abundância não era muita e nalgumas casas escasseavam os alimentos. Nesse tempo manteve bem activa a Caritas paroquial fazendo chegar às famílias mais carenciadas alguns géneros como feijão, farinha e queijo. Ainda me lembro do sabor do pão trigo que, cozido pelas nossas mães com a farinha distribuída pela Caritas, acompanhado de leite em pó e um queijo amarelo em barra, chegava diariamente às nossas escola como suplemento alimentar.

P. Armando Tavares