O povo (re)une-se para celebrar o Corpo e Sangue de Cristo

30-06-2014 19:37

Este é o segundo ano em que a festa do Corpo de Deus é celebrada em Portugal no domingo seguinte da Solenidade da Santíssima Trindade, como consequência do acordo entre a Santa Sé e o Governo Português que aboliu dois feriados religiosos: a festa do Corpo de Deus, liturgicamente celebrada na quinta-feira depois de Pentecostes, e o dia de Todos os Santos. Entretanto, até 2017, altura em que a Festa do Corpo de Deus retomará o seu lugar, como ficou afirmado no acordo, a Igreja Católica portuguesa continua a solenizar o Corpo de Deus mas no domingo imediato, depois da festa da Santíssima Trindade.
Aquele acordo dissociou a inseparável ligação que existe entre a festa tradicionalmente chamada Corpo de Deus e a festa da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa. Na verdade, a associação entre estas duas solenidades manifesta a entrega suprema de Cristo ao Pai e aos seus, e ao mesmo tempo expressa a sua ação transformadora na história humana até ao fim dos tempos. Enquanto na Quinta-Feira Santa se revive o mistério de Cristo que se oferece a nós no pão partido e no vinho derramado, na festa do Corpo de Deus – quinta-feira depois do Pentecostes - este mistério de Cristo é proposto em adoração e à meditação do povo de Deus. Neste exercício de fé piedosa, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas ruas atapetadas de flores, por entre cânticos de louvor e glória ao Senhor e também para manifestar ao mundo que Cristo Ressuscitado caminha no meio de nós e nos guia para o Reino de Deus.
Seja qual for o dia da celebração do mistério do Corpo e Sangue de Cristo, os três momentos de vivência litúrgica e atitudes de fé são sempre extraordinária marca desta grande festa. Antes de tudo, acontece a reunião dos fiéis em volta do altar do Senhor, para estar na Sua presença; em segundo lugar, a procissão, no caminhar com o Senhor; e por fim, o ajoelhar diante do Senhor, a adoração que se inicia na Missa e acompanha toda a procissão, e tem o seu apogeu no momento final da bênção eucarística, quando todos se prostram diante d’Aquele que sendo Deus se humanou e, fazendo a vontade de Deus-Pai, se inclinou na Cruz dando a vida por nós, homens.
Na homilia dirigida aos fiéis reunidos na praça de S. Pedro, o Papa Francisco disse:  “Na procissão de Corpus Christi, acompanhamos o Ressuscitado no seu caminho pelo mundo inteiro. E, precisamente fazendo isto, respondemos também ao seu mandamento: “Tomai e comei... Bebei todos” (Mt 26, 26s.). Não se pode “comer” o Ressuscitado, presente na figura do pão, como um simples bocado de pão. Comer este pão é comunicar, é entrar em comunhão com a pessoa do Senhor vivo. Esta comunhão, este ato de “comer”, é realmente um encontro entre duas pessoas, é deixar-se penetrar pela vida d’Aquele que é o Senhor, d’Aquele que é o meu Criador e Redentor. A finalidade desta comunhão, deste comer, é a assimilação da minha vida à sua, a minha transformação e conformação com Aquele que é Amor vivo. Por isso, esta comunhão exige a adoração, requer a vontade de seguir Cristo, de seguir Aquele que nos precede. Por isso, a adoração e a procissão fazem parte de um único gesto de comunhão; respondem ao seu mandamento: “Tomai e comei”.
Na Unidade pastoral de Proença-a-Nova, os trinta e três altares habitualmente ativos em muitos momentos ao longo do ano litúrgico, neste dia reúnem-se nos quatro altares correspondentes às igrejas matrizes das paróquias (Cardigos, Peral, S. Pedro do Esteval e Proença-a-Nova). Sem dúvida a experiência de união na diversidade, de comunhão, do povo que caminha faz-se precisamente na Eucaristia, na Missa. Aqui tem pleno sentido a afirmação: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo.” (Gl 3, 28) e ganha expressividade, pois tanto maior e mais forte é a expressão de fé neste celebrar O Corpo e Sangue de Cristo quanto mais sólida a consciência de fé de que “Nós levamos Cristo, presente na figura do pão, pelas estradas da nossa cidade. Nós confiamos estas estradas, estas casas a nossa vida quotidiana à sua bondade. Que as nossas estradas sejam de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e com Ele! A nossa vida de todos os dias estejam penetradas da sua presença. Com este gesto, colocamos sob o seu olhar os sofrimentos dos doentes, a solidão dos jovens e dos idosos, as tentações, os receios de toda a nossa vida. A procissão pretende ser uma bênção grande e pública para a nossa cidade: Cristo é, em pessoa, a bênção divina para o mundo, o raio da sua bênção abranja todos nós!” (Papa Francisco).                                Padre Ilídio Graça