O Rei vai Nú

27-01-2015 18:56

A educação nos valores e para os valores é uma urgência na nossa sociedade. Reflectindo sobre o tema veio-me à memória um episódio que ocorreu há uns anos numa aula de Sociologia, quando eu estava no 12º ano. O professor lançou a proposta de debatermos acerca dos “Valores”, palavra que colocou no sumário da aula.
De seguida, entreteve-se a escrever alguns tópicos no quadro, tais como “Aborto”, “Homossexualidade/Adopção”, “Eutanásia”, “Divórcio”, “Experiências Genéticas”, “Relações Extraconjugais”, entre tantos outros...
À medida que as palavras iam surgindo no quadro, eu ia adivinhando que se iria seguir um debate longo e controverso.
Não errei! O professor começou por dividir a turma, questionando quem era a favor da maioria dos tópicos e contra. Pediu que nos separássemos segundo as nossas convicções. Fui à procura do meu grupo, o grupo do “contra”, quando me apercebi que do outro lado só havia um grupo, o grupo daqueles que estavam a favor. Éramos 28! “Como era possível eu ser a única que estava “contra”? Têm de haver mais!”, questionava eu. Estava enganada.
O professor deu início ao debate, lançando os temas e pedindo opiniões. Recordo-me de naquele momento ter reflectido acerca de muita coisa, de muitas atitudes e de tanta falta de coerência. Eram 27 contra um, e o professor depressa se juntou à maioria.
No fim daquele debate senti um desconforto subterrâneo e crescente. Deparei-me radicalmente, com o homem moderno desorientado e inseguro; que perdeu a referência que lhe servia de orientação e não consegue encontrar parâmetros válidos sobre os quais fundar os seus juízos. Deparei-me com uma juventude que não sabe distinguir entre o bem e o mal, entre o verdadeiro e o falso, entre o belo e o feio, entre o justo e o injusto, entre o útil e o prejudicial, entre o lícito e o ilícito, entre o decente e o inconveniente etc. Uma juventude que vive como que suspensa no vazio. Não quero estar a ser pessimista, até porque nem me é próprio, mas fiquei chocada, quando me apercebi que as antigas certezas culturais e morais jaziam por terra; os valores sobre os quais se fundava a nossa civilização foram como que esmagados e dissolvidos; os pontos de referência do progresso e da acção perderam a sua consistência.
Perante este quadro há que levantar a voz da razão e proclamar que o rei vai nú. Mesmo que isso não seja popular, e mesmo que corramos o risco de ser considerados conservadores. A verdade é que vivemos um ambiente de fim de festa.
A atitude que tomei diante daquele debate foi resultado dos valores que defendo. Se pensamos que ser cristão é apenas estar bem com todo o Mundo, atrevo-me a dizer que andamos bastante enganados. Se fossemos do Mundo, o Mundo amar-nos-ia. Mas não somos do Mundo.
Se somos cristãos a sério a nossa fé deixará um rasto de perplexidade; a nossa liberdade interior tornar-se-á provocadora; a nossa denúncia das injustiças tornar-se-á incómoda. Se o perseguiram a Ele, também nos perseguirão a nós. Será sinal de que estamos a combater o Bom Combate.
Só me recordo de no fim da aula riscar no meu sumário a palavra “Valores”, e escrever “Contravalores”.
Hoje, sei que o que faz falta não são só os valores, mas também os critérios para os arrumar. O que nos falta é uma bússola que nos leve sempre de volta ao Oriente, como outrora aos Reis Magos, num caminho de Optimismo, onde primeiro se deva Olhar e Ouvir, Observar e só depois de uma forma Organizada, Ousar, Opinar e Orientar.  
Ana Rita de Assis Libório