Pensar a Liberdade (é amar o outro)

30-06-2014 19:35

Pensar a Liberdade é muito mais do que uma simples, embora justa, reivindicação política, semelhante àquelas que se fazem em Portugal em cada mês de Abril, desde 1974. Também não se reduz a uma consideração pessoal, parecida com “Sou livre de fazer e de dizer o que quero!”. Pensar a Liberdade é, então, em meu entender, um pouquinho mais, é pensar o Amor.
O Amor é, em cada ser humano, uma manifestação de Liberdade, porque somos mais livres quanto melhor amamos, e ama melhor aquele que ama a Liberdade dos outros tanto ou mais do que a sua própria. Por outras palavras, sente-se mais livre aquele que assume livremente amar o outro e atender à sua (do outro) liberdade prioritariamente. É certo que é muito difícil realizar no nosso dia-a-dia este Amor, pois ele exige orientação, autodomínio e respeito (pelo outro e por si mesmo), mas é justamente essa dificuldade aquela que nós podemos ultrapassar, basta que consideremos, ou nos recordemos, do nosso maior dom, isto é, basta que tenhamos sempre presente que é nossa efetivamente a Liberdade de escolher Amar.
Giovanni Pico Della Mirandola (*)  , um jovem prodigioso filósofo renascentista, acreditava que Deus nos havia criado livres, livres de escolher sermos com as bestas ou livres de escolhermos aproximarmo-nos dos Anjos no nosso modo de ser. A sua proposta filosófica é um elogio à Bondade de Deus, ao Seu amor pelos seres humanos, traduzido no dom da Liberdade que lhes concedeu. Na verdade, na nossa vida do dia-a-dia conseguimos ver como alguns seres humanos são divinos ou criam obras divinas e como outros insistem em escolher ser brutos e em criar conflitos e destruição.
Por esta razão, considero que pensar a Liberdade é muito mais do que pensar filosoficamente um conceito passível de diversas leituras: política, psicológica ou até jurídica. Pensar a Liberdade exige o compromisso racional de compreender o Amor, de aceitar que o Amor não se confunde com o desejo, propriedade ou felicidade, embora deles possa ser concomitante, mas antes nos liberta do egoísmo e do egocentrismo e nos permite a possibilidade de escolher aproximarmo-nos dos Anjos, ou seja, daqueles que, na terra e no dia-a-dia, sendo humanos, orientam a sua vida na direção dos outros e amam o outro como a si mesmo.
Por ser realmente difícil mas não ser impossível, eu advogo que também na educação escolar deveríamos ser capazes de ensinar a escolher Amar.
(*) – Mirandola, Giovanni Pico Della (1989). Discurso sobre a dignidade do homem. Edição bilingue. Lisboa: Edições 70, pp. 51-55.
Ana Cristina Lúcio - (Professora de Filosofia e Mestre em Ciências da Educação) 18.06.2014