Pracana da Ribeira constrói um nicho às Alminhas Concretiza um sonho antigo

30-06-2014 19:53

Teve lugar no passado dia 14 de Junho, na Pracana da Ribeira, pequena aldeia da freguesia de Cardigos, que deve o seu nome, segundo o padre Louro à ribeira que por ali corre, a inauguração de um nicho às alminhas.
A celebração da Missa campal marcou o momento, seguindo-se a bênção da capelinha.
A ideia partiu precisamente do Padre Henrique Louro. Um sonho do qual nunca desistiu, mas que morreu sem concretizar. Na altura, o Padre Louro chegou ainda a acordar com o dono do terreno, Francisco da Silva, onde iria ficar a capelinha das alminhas, mas o tempo foi passando, morreu o sonhador e o dono do terreno. Ficou a sua sobrinha, Zita que agora o concretizou. As dificuldades que encontrou para colocar em prática o sonho do tio foram muitas e os anos foram passando, mas do sonho nunca desistiu.
A localização da capelinha levou a opiniões diferentes. Mas a Zita gostava que fosse feito no sítio onde o tio o tinha projectado e a herdeira do terreno acabou por concordar que deveria ser feito onde ambos tinham acordado. Depois surgiram os pedidos de apoio para a sua construção. Como nos referiu a Zita, “as peripécias foram muitas, mas as alminhas venceram sempre. Hoje estou muito feliz porque concretizei o sonho do meu tio.”
Todos ajudaram na construção. A Junta de Freguesia com material, os residentes e os de fora das mais diversas formas. Como diz a Zita, “nós não podemos restringir só aos de cá, nós temos gente na França, na Suiça, Angola, Moçambique, no Brasil, na Colômbia, e os que estão cá em Portugal”.
Da Pracana saíram vários Padres, a Zita recorda o padre Joaquim da Silva, que saiu da Pracana há 200 anos e foi o último confessor dos enforcados (Santo Ofício, Inquisição) e era também confessor do rei.
Há 400 anos nasceu a Pracana e havia por cá muita gente, (agora são 14), a Zita recorda que nos seus anos de vida “conheci na aldeia 105 adultos e no Outeiro 22. Recordo ainda os 14 anjos que aqui morreram pequeninos, porque naquele tempo morria muita gente”.
E foi revivendo outros tempos, diferentes, mas não menos felizes. Basta ouvir e ver a alegria com que fala desse tempo em muitos aspectos, mas destaca o respeito que havia para com os mais velhos. Recordou até uma frase que ouvia quando iam a casa de um vizinho levar qualquer coisa: “Que Deus te agasalhe no céu”. Relembra com saudade estas expressões que, segundo a Zita, “se vão perdendo. Anda tudo a correr”.
A aldeia tem a capela, tem o cruzeiro, inaugurado em 26 de Setembro de 1940, faz para o ano 75 anos, e faltava a capelinha. A imagem foi oferecida pela Lurdes Sousa, filha da terra a morar em Vila de Rei. Foi com grande alegria que “tive oportunidade de contribuir para concretizar um desejo do nosso padre da terra que tinha uma grande devoção às almas do Purgatório. E como eu sabia que era desejo da família concretizar esse sonho, ofereci a imagem com muito gosto”.
O almoço convívio marcou a tarde, dando assim um tom ainda mais festivo ao momento. No final, a Zita terminou com um poema de António Correia de Oliveira:

“Fiz lampadário de
alminhas
meu pobre coração
Que nunca lhes falte
o azeite
da vossa contribuição”

Conceição Cardoso