Querer ser feliz

31-03-2015 11:52

A felicidade é para muitos um dilema disperso e algo profundamente subjectivo. É, sem dúvida, um substantivo abstracto para muitos difícil de compreender. E é talvez por isso que é tão dificil encontrá-la, porque estas coisas gasosas que não se tocam têm que sofrer refrigerações morosas para que se reunam num só, em algo mais ou menos concreto. É preciso criar nuvens, arrumar ideias, instruir o pensamento que é como quem diz: formar a consciência.
Esta é primária e vem com alguns defeitos de fabrico, não se nota? A tendência que o ser tem para o fácil, para o cómodo; o estranho amor à preguiça, à soberba. A propensão para não trabalhar, negligência, moleza, aquele misto de ódio e desgosto provocado pela prosperidade ou alegria de outrem, arrogância, orgulho, lascívia, libertinagem, cobiça, concuspiscência, cólera ou aquela paixão que nos incita contra alguém.
Agora acarreto com as consequências desta anterior inumeração e pasmo de dor, porque percebo que, por mais voltas que dê, acabo por ter um pouco de tudo aquilo que disse. Todos os dias. Pobre de mim que “não faço o que quero e faço o que não quero”. Mas, mesmo assim, (e a boa noticia é esta): a felicidade existe.
Mas, se existe, onde está? Porque é que todos os dias batemos com a cabeça na parede e percebemos que podiamos ter feito muito mais? E o que é mais irritante é que a seguir somos capazes de dormir descansados. Como é que temos o descaramento de dormir descansados sabendo que não andamos a fazer o mínimo para honrar a nossa existência? Como é que acordamos no dia seguinte sabendo que para além de não andarmos a fazer esse mínimo ainda ousamos dormir sobre isso. Dormimos e até sonhamos que estavamos a comer gelados.
Tantas perguntas e a confusão paira no ar! A mãe põe-me a mão no ombro e relembra-me a indefinidade da vida; o pai, esse olha-me de lado, revira os olhos e sugere-me o internamento. Mas eu cá não me conformo e mastigo o “ser feliz” até se me doerem os dentes.
O condensar das “partículas felicidade” é capaz de ser mesmo um processo moroso e complicado, portanto, tem que ser levado cada dia. Talvez pensar: eu não vou ser feliz amanhã, ou quando acabar aquela semana horrível de trabalho, quando terminar a faculdade, quando tiver aquele carro espetacular, quando conhecer o homem ou a mulher dos meus sonhos ou quando me reformar e passar o dia no sofá (aí, sim, é que vou ser feliz!). Pensar: eu sou feliz hoje que sou uma arca de projectos maravilhosos e que posso lutar por ser quem eu quiser, duas palavras: coragem e vontade. O tempo é meu. Esse viver ao sabor do vento sem intervir no seu rumo não é meio para agarrar a matéria gasosa que se escapa ao mínimo descuido. Não se trata do chamado “viver o presente” mas é um tal “contruir o futuro” que soa muito melhor a alguém que mais alto quer chegar, que quer ser verdadeiramente feliz (aqui ou quando formos matéria gasosa). Portanto, ser feliz, é querer ser feliz. Vamos cair? Inevitavelmente. Ainda continuaremos a ter cá dentro tudo aquilo que não queriamos ter.
Como disse Bento XVI, “o mundo é salvo pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens” que querem ser felizes a todo o custo, sem pensarem um segundo no que é e onde encontram a verdadeira felicidade.
Frederica Vian Costa- Médica