Seja Caloiro com Moderação

17-10-2011 18:31

Era uma vez uns pequenos monstros que sonharam subir a escada da sabedoria, tendo terminado com aproveitamento o período de gestação no leito escolar. Estas pequenas criaturas indefesas, almas ingénuas por sinal, sonhadores de peito aberto às aventuras futuras, cursos elegeram e neles ingressaram.

Não estranhemos passar por estes dias junto dos grandes centros académicos e depararmo-nos com seres de faces pintadas, protagonizando enredos teatrais, fazendo flexões, cantando em decibéis próximos do berro e apresentando-se com elevados índices de sujidade. Chamam-lhes caloiros e por aí andam, presas fáceis dos excelentíssimos veteranos que, contrariando uma enorme vontade de aprender, faltam às aulas para cuidar dos novos colegas.

Mas o que têm essas frágeis almas de especial para atrair tamanho alarido? Avançará a economia portuguesa, por meados de Outubro, através desta ávida produção de penicos e orelhas de burro, indispensáveis adereços da praxe académica? Ou terão os caloiros qualquer tipo de característica intrínseca irresistível? Talvez depois de uns bons ovos e farinha possam saber a bolo, mas a economia prefere que acabem o curso antes da reforma.

A desculpa, que tanto tem de plausível como de esfarrapada, é de que a praxe é um modo de integração, de conhecer os novos colegas. Mas colocam-se dois problemas conceptuais: praxe assemelha-se a quartel, que difere de convívio e integração implica espírito académico, que em muitas cabeças mais não é que a união dos três estados físicos… O fumo do tabaco e a líquida cerveja dão o nó numa sólida “pedrada”.

Felizmente, ser caloiro e ser responsável não é, de todo, um matrimónio impossível. Basta autonomia e força de vontade para saber que rumo dar aos acontecimentos e esse é o primeiro grande teste dos novos universitários. Afinal, a passagem destas personagens a pessoas normais e correntes é uma transformação básica. Basta agir racionalmente e, quando nos corredores da faculdade, fingir que se sabe para onde se está a ir.

Carolina Duarte