Ser (e)migrante…e cristão cá e lá

29-07-2014 15:41

Ao longo da sua história, Portugal tem firmado a sua identidade na miscigenação resultante do fenómeno migratório.
Na definição de migração e compreensão do fenómeno, retemos a ideia de que “Os emigrados e os imigrados são indissociavelmente os mesmos, que deixaram os países em que nasceram e em que foram educados para se instalarem num outro, quer tenham sido empurrados pela miséria, pelas perseguições, quer tenham sido atraídos pela riqueza, pela liberdade ou pela modernidade do país de instalação.” (in Dicionário de Sociologia, Circulo de Leitores, 1990, p. 127)
Dos emigrantes dos séculos XV a XVII para as ‘terras  descobertas e a colonizar’, aos emigrantes do século XX idos para o Brasil e para terras de África até à mais relevante purga migratória de portugueses nos anos sessenta do século passado, assistimos hoje a uma nova saga de emigrantes. No passado os emigrantes eram rapazes ou já homens maduros, na sua maioria com família formada, gente que partia em busca do sonho de vida melhor. Estes emigrantes eram normalmente letrados, ainda que pouco; mas havia também aqueles que sendo cursados (filósofos, artistas, …) partiam para outros países em busca de cultura e de novas correntes de pensamento e de arte, porque no seu país não eram aceites nem reconhecidos; e ainda os que emigravam em exílio político. O fluxo migratório de hoje em Portugal tem a negra particularidade de a maioria dos emigrantes serem jovens formados nas universidades e escolas técnicas, ou seja, temos hoje uma emigração expressiva e preocupante da ‘inteligência’ e do conhecimento, as gentes mais capazes deixam a família e o país.
Ontem como hoje, o regresso do emigrante à sua terra natal continua a retratar a identidade portuguesa: partir em busca do sonho de vida melhor com a saudade e o desejo de um dia voltar.
Como é bonito ver a alegria efusiante nos olhos dos ‘velhos’ que contam os dias até o filho emigrado vir de férias no verão. E lá estão eles, os emigrantes a marcar vivamente a sua diferente presença com os carros nas ruas e na festa do santo padroeiro. Então as igrejas e capelas enchem-se de novo, pelo menos na missa de domingo da festa do orago da terra.
De muitos sabemos estarem integrados na comunidade da igreja na localidade onde vivem no país estrangeiro. Mas infelizmente também é verdade que muitos são os emigrantes que só voltam a entrar na igreja da sua terra natal.
Importa pois alterar esta realidade. A vivência da fé não se pode circunscrever ao meio de origem, onde assim até parece que se vai à igreja porque é próprio da terra e não por convicção de fé pessoal.
O Cristão consciente buscará a porta do templo mesmo em terra estranha. E tudo será mais fácil se aquele que emigra informar o seu pároco, pois este certamente encontrará forma de estabelecer pontes e contactos para acolhimento do imigrante pela igreja na terra estangeira.
Na condição de emigrante, tome-se por exemplo o caminho e vida de êxodo vividos pelo povo de Israel, a quem Deus prometeu a terra de leite e mel, povo eleito ao qual Deus não faltou e sempre veio em seu auxílio. Siga o emigrante a Jesus que teve de fugir da sua terra para o egipto para escapar à tirania de Herodes; o mesmo Jesus que se fez peregrino-Profeta em terras da Galileia, fora da terra onde crescera, o lugar de Nazaré. Viva o emigrante a fé cristã no estrangeiro com o mesmo espírito de anseio por vida nova que marcou o seu baptismo na capela/igreja da sua terra natal.
Proença-a-Nova, 21 de julho de 2014
Alfredo Bernardo Serra