Sociedade fogo-de-artifício

04-12-2013 17:29

Quase todas as pessoas apreciam um bom espectáculo de fogo-de-artifício. Por isso nunca me tinha ocorrido dar-lhe uma conotação menos positiva e utilizar a metáfora que nos últimos dias ouvi na boca de escritor de livros infanto-juvenis: vivemos na sociedade fogo-de-artifício. É tudo vistoso, cheio de gadgets e tecnologias, mas tudo demasiado rápido e por vezes ilusório. Uma explosão que tão depressa como vem, extingue-se.

Não gosto de visões pessimistas, de velhos do Restelo ou da diabolização que por vezes se faz da modernidade ou das novas tecnologias. Mas é inevitável e de certa forma recorrente reflectir sobre o tanto que corremos, sobre a aceleração em que vivemos, sobre o quanto as ferramentas tecnológicas modificam as nossas formas de nos relacionarmos e sobre, em última instância, a questão de fundo que deve inquietar-nos sempre: para onde vamos; estará tanto conhecimento e tanta inovação efectivamente a fazer-nos evoluir?

Responder a perguntas tão complexas é tarefa que nunca acaba e haverá respostas para todos os gostos. Até porque todos os caminhos que fazemos são transitórios e nem sempre conseguimos ver, no momento em que damos um passo particular, o impacto que ele poderá vir a ter no futuro. Por mais que pontualmente me assuste o quanto se lê cada vez menos, por exemplo, ou o tanto que muitas pessoas partilham e comunicam em redes sociais sem mostrarem capacidade de analisar criticamente tanta informação, é preciso dar tempo ao tempo.

A tecnologia é sem dúvida um caminho para aceder melhor à informação, se bem usada. As redes sociais podem de facto ser uma nova forma de ligação entre as pessoas, desde que frequentadas com bom senso. Como em quase tudo o que é inovador, provavelmente teremos de errar e tactear no escuro para encontrar o rumo certo, para aprender e usar novas ferramentas como etapas do nosso percurso de evolução. Tornando-nos cada vez mais críticos na análise do tanto que nos rodeia e aprendendo a filtrar o que é verdadeiramente importante.

O problema é que nem sempre tem sido isso que vemos. Tanta informação que nos atropela diariamente pode tornar-nos mentalmente preguiçosos e não faltam utilizadores da internet que se mostram incapazes de filtrar o que é verdadeiro ou inexacto. Perante tanta velocidade e solicitação, nem sempre conseguimos parar e marcar o ritmo que nos convém. Perante tanta nova forma de conexão, vivemos tantas vezes rodeados de cliques e likes, mas incapazes de sair de uma profunda solidão.

O conhecimento e a tecnologia não valem grande coisa se não nos tornarem mais humanos e próximos. Bom seria se tantos recursos novos ao nosso dispor nos tornassem mais profundos e capazes de entender a simplicidade solidária e próxima que muitos analfabetos espalham sobre o mundo. Bom seria se evoluíssemos nessa humanidade. E assim, cobertos de um manto de ternura que é sinal de verdadeira sabedoria, fossemos capazes de a oferecer em doses generosas uns aos outros.

M. I. C.