Sucesso escolar, televisão e força de vontade

27-01-2015 18:39

Depois de quase 35 anos de experiência docente, talvez seja altura de reflectir e de - modestamente - procurar contribuir para alguma melhoria de quem estuda e de quem ensina, incluindo a autora, claro. O que tenho verificado – e comigo, muitos colegas e alunos – é que há um segredo para o sucesso: a força de vontade, pessoal, para aproveitar bem o tempo. Este segredo tem vários planos. Pode incluir:
- o ppe (plano pessoal de estudo) , um horário de estudo realista, bem cumprido,
- o registo escrito, visual, fotográfico e/ou auditivo, conforme o tipo de memória predominante, estando mesmo atento nas aulas,
- o acompanhamento habitual de cada disciplina (ten minutes a day),
- ler ou escrever mais…
Mas o principal ingrediente parece ser, de facto, decidir-se a estudar regularmente, sem deixar acumular matérias. De facto, como pergunta Escrivá, em Sulco, nº618: Para que serve um estudante que não estuda?
Fazer boas escolhas e ser uma pessoa determinada, eis o segredo. Mas como conseguir tal façanha?
Vemos como conseguem ganhar os nossos jogadores? Como se tornam famosos os actores e actrizes? Com treinos: muitos, pequenos e repetidos. Mãos à obra, então, para treinar a força de vontade em coisas pequenas e acessíveis do dia a dia, como, por exemplo, baixar-se para apanhar um papel, voltar atrás para prestar um pequeno serviço, não adiar uma tarefa necessária… e tantos outros desafios quotidianos, que descobrimos sempre que queremos!
Depois de muitas conversas com estudantes e pais, que, para recuperar ou melhorar notas, quase sempre decidem “cortar na televisão”, depois de ler alguns artigos e estudos que concluem no sentido de que “os alunos que vêem mais televisão têm piores notas e demoram mais tempo a concluir licenciaturas” (cfr. Aceprensa, 7/05), e depois de alguns inquéritos feitos a alunos, acabamos por constatar como é importante aprender a ver televisão e a aproveitar bem os tempos livres. Pelos inquéritos feitos, conclui-se que conseguem melhores resultados os alunos que “seleccionam previamente os programas que querem ver, em tempo adequado”. E a conclusão geral mas concreta é que a façanha do êxito nos pede uma primeira decisão (normalmente nocturna…): desprezar razoavelmente aquele caixote cinzento que está lá em casa e a que chamam televisão.
É que, mesmo ao longe, tal objecto prende os olhinhos e a cabecinha de muitos de nós quando não deve, no tempo útil para fazermos coisas úteis (passe a repetição), como, por exemplo, estudar. Mas… como poderá ele estudar se, por exemplo, depois de jantar, fica preso por novelas enoveladas, por jogos e joguinhos, ou por outras tele- e sofá-dependências, que não acabam até ser hora de deitar?
Que acontece à sua performance de estudante e de ser humano, se não tem hora de se levantar, nem de estudar, se chega habitualmente atrasado às aulas, se não dorme as 7 – 8 horas necessárias, enfim, se deixa de ser senhor do seu tempo? Temos o caos que nós sabemos e que, às vezes, até queremos ignorar para não lhe dar o remédio... Só que depois vem o cansaço, ficamos nervosos por nada, e o stress a mais não ajuda ninguém…
Portanto, não restam dúvidas: os melhores alunos e os melhores colegas – os que, numa palavra, criam sempre melhor ambiente - são mais fortes e livres de dependências, já que não são tão comodistas, egoístas nem tão escravos de caprichos… Todos os recentes estudos sobre a inteligência emocional destacam o auto domínio como um factor primordial de sucesso.
O sucesso pessoal e escolar é, de facto, uma questão de querer efectivamente crescer em todos os aspectos, e de começar a dar passos para atingir essa meta, a da excelência, como agora se diz.
Vamos lá querer querer, que ainda é tempo…                                                
Maria de Albuquerque - Professora/ Tradutora