Um pouco de céu

30-12-2013 11:04

Pontos de Vista

Há pessoas que vibram com o Natal e o vivem de forma expressiva, enfeitada e colorida. Há pessoas que preferem o silêncio e procuram que a época festiva seja uma revolução de amor. Há quem ignore esta data e olhe as manifestações dos outros de lado. Há quem se rodeie de presentes e jantares festivos, sem deixar que uma única gota de ternura lhe humedeça o coração. Vivências, relações diferentes com a fé, ambientes familiares ou culturais e personalidade distintas contribuem para que haja, naturalmente, formas muito diferentes de viver o Natal.

Há, contudo, pessoas que me fazem sempre pensar que tudo deve ser olhado com cuidado, para encontrar a perspectiva certa: são as que não sendo crentes mantêm um distanciamento em relação ao Natal e se dizem sem “espírito natalício”, mas têm vidas mais semeadoras de amor do que tantos cristãos. Tenho vários amigos assim, que a todo o momento se entregam sem reservas por quem os rodeia. Pessoas que são Natal, porque fazem a sua parte para que um mundo melhor seja possível – e o fazem sem perceber os milagres que a toda a hora transportam consigo. Às vezes, penso que o Natal acontece mesmo nos recantos mais improváveis. Em quem não o prepara, não procura e julga não crer – mas quer que haja espaço para o sorriso dos outros.

A bondade, simples e desprendida, sem tiques de benevolência ou beatice, não escolhe credos ou raças. Há pessoas que nascem com uma inesgotável capacidade de dar. Dar sem expectativas de nada, sem moedas de troca, sem pesos nem medidas. Dar mesmo quando pela frente está quem não sabe entender tanta generosidade, quem se aproveita dela ou faz dela uma paródia.

Haverá sempre momentos em que quem dá sem medida se sente um pouco atropelado. Dar com intensidade e ser incompreendido às vezes fere. Mas pessoas que nasceram com uma inesgotável capacidade de pensar nos outros não conseguem ser de outra forma. E ainda bem: porque percebem que darem-se e esgotarem-se é a melhor forma de felicidade que podem ter. São pessoas com uma altura impressionante, capazes de agarrar as nuvens e trazer o céu ao meio de nós. Sempre que alguém transporta um pouco de céu entre as suas mãos, o Natal acontece.

M. I. C.