Uma espiritualidade comunitária para a família

30-12-2013 11:05

Com o Advento, entrámos no mês de dezembro, mês que nos conduz à festividade do Natal, em que nos é dada a conhecer a Família de Nazaré. Nesta caminhada natalícia, a liturgia apresenta-nos as figuras de Maria ( 8 de dezembro), de José ( 22 de dezembro), de Jesus Cristo (25 de dezembro). Assim, Maria, ao dizer sim à Vontade de Deus, deixa que nela opere o Espírito Santo; José, homem justo, ao acolher sua esposa grávida, oferece um lar e uma família ao Filho de Deus. E acontece Natal e o Emanuel, o Deus connosco, vem habitar entre nós, nasce a família de Nazaré, a Sagrada Família que também celebraremos com festa a 29 de Dezembro.

Encerrado o ano litúrgico com a festa de Cristo Rei, iniciámos também um ano especial da Família, com a igreja universal a debater o tema, num primeiro momento, em Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos em Outubro de 2014; com a igreja diocesana a refletir, também no âmbito do seu sínodo e respetivos grupos sinodais, a temática “Família – Natureza e Missão”; e com a unidade pastoral das nossa paróquias a ter por lema “A família nos caminhos da Fé”. Nesta linha pastoral, leia-se o recente apelo aos pais e famílias feito pelo nosso bispo, D.Antonino, e que transcrevemos, ao lado, na edição deste jornal.

FAMÍLIA !  A família é a base da sociedade, o alicerce da construção da vida. Mas ela também é o prolongamento da obra criadora de Deus. Por isso, a família é uma pequena Igreja, uma célula viva da Igreja – Igreja doméstica, no dizer do concílio Vaticano II – pois “Deus é Amor” e, como diz a canção, “onde haja a caridade e amor, aí habita Deus”. A família, à imagem do amor trinitário de Deus, é a primeira fonte do amor, logo a primeira presença de Deus. De facto, se pais e mães, marido, esposa e filhos vivificarem com o sobrenatural o seu amor, olhando-se entre si também como irmãos, amando-se uns aos outros como Ele recomendou, Cristo não poderá deixar de estar presente entre aqueles que estiverem unidos em seu nome: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles” (Mt18,20).Então, cada núcleo familiar poderá espelhar melhor a Família de Nazaré, a família das famílias, família que Deus compôs com o mais puro afeto natural mas a menos egoísta e a mais aberta ao mundo.

Numa época em que, graças às novas tecnologias comunicativas, tudo tende para a unidade, é necessária também para a família uma espiritualidade comunitária, que sublinhe que se vai a Deus com o irmão, que nos fazemos santos juntos. Uma espiritualidade, nascida do Evangelho, que leve cada membro da família a chegar a Deus, fonte de Amor e a descobrir no irmão - portanto também no marido, na esposa, nos filhos, em cada próximo - o caminho para chegar a Deus. Melhor dizendo: eles são o primeiro caminho para chegar a Deus, pois neles está Jesus e neles, antes de tudo o mais, é a Jesus que amamos. Além disso, este sentido do amor a Jesus no outro gera a abertura a todo o próximo, cria a generosidade na família, a unidade, a fraternidade universal segundo o desejo do Mestre: ”Que todos sejam um”         (Jo, 17, 21).

Que nos santificamos juntos, particularmente em família, afirma-no-lo S. Paulo: ”O marido não crente é santificado pela mulher e a mulher não crente é santificada pelo marido” (1Cor 7,14), isto é, o cônjuge cristão, por força da sua união com Cristo pelo sacramento, torna-se canal de graça, através do qual Deus santifica a família.

Uma espiritualidade comunitária para a família, assim definida, é utópica? Não é, muito embora seja uma meta de maior perfeição. Porém, temos sempre a possibilidade de recomeçar cada dia, nesta caminhada para este ideal de família, como Deus a concebeu.

Vivamos este ano da família, ao jeito evangélico, estreitando os laços, purificando o amor, alargando os horizontes da mesma a todo a humanidade, pois “todo o homem é meu irmão, nosso irmão”.