SEMANA SANTA EM PROENÇA-A-NOVA

Domingo de Ramos

5ª Feira Santa

 

"Temos que fazer da nossa vida um serviço ao outro"

Foi com estas palavras, ditas num dos sermões feitos pelo pregador, P. Luís Filipe, que se viveu o mistério pascal de Cristo, momento privilegiado do culto cristão. A "teologia dos três dias" (BALTHASAR, Teologia dei tre giorni, 2000), comemora o mistério da cruz gloriosa de Cristo, o seu repouso no sepulcro e a sua ressurreição. Estas celebrações iniciaram-se com a Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, onde se incluiu a cerimónia do lava-pés. Na usa homilia, o P. Luís questionou o sentido que tem para cada cristão a vinda à Eucaristia, dizendo: "Quando vamos à Eucaristia do que é que vamos à procura? O que esperamos encontrar aqui cada vez que nos reunimos? Viemos cumprir a nossa tradição? Vimos porque isto faz parte da nossa educação? Vimos porque é costume? Em cada Eucaristia Jesus diz-nos sempre: "assim como eu vos fiz deveis fazer vós também". Significa isto que aquilo que nós vivemos em cada Eucaristia não é para ficar aqui fechado dentro destas 4 paredes, é para levarmos para a nossa vida, é para o vivermos na nossa família, na nossa casa, no nosso grupo de amigos, no nosso trabalho".

Salientou depois a presença de Jesus na nossa vida, "Quando nós caímos por terra, quando nós somos os últimos, quando nos bate à porta o sofrimento, quando tudo na nossa vida parece que não tem sentido, Jesus está lá a bater, está lá a dizer quanto nos ama. Este Jesus em quem nós acreditamos é um Jesus que está presente sempre na nossa vida".

 

"Este Cristo é o justo que reclama justiça"

«Jesus foi um homem justo, que acabou por ser julgado por uma multidão manipulada e que o condenou. Jesus não tem medo de reclamar justiça, não tem medo de enfrentar a multidão, não tem medo de se manter firme nos seus ideais». Foi com estas palavras que o P. Luís no sermão do Pretório apelou à confiança em Jesus, à necessidade de aprendermos com Ele, "não ter medo de dar a cara, não ter medo da nossa condição de fé, não ter medo de assumir que somos filhos de Deus, somos amados por Deus". Apelou depois à reflexão de cada um sobre os nossos próprios julgamentos,"de que lado nos colocamos? Do lado da multidão, daquelas multidões que não pensam e que muitas vezes se deixam manipular? Que se deixam levar pelos outros?".

"A cruz faz parte da nossa vida"

Foi a partir da cruz e do seu significado, que o sermão do Encontro nos levou a um aprofundamento desta nossa passagem por este mundo, um mundo de contrastes, que não aceita a cruz, cruz que faz parte da nossa condição humana. O P. Luís Filipe salientou como Jesus aceitou a sua cruz, carregou-a até ao fim. A dada altura da sua caminhada diz "meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Não é isto que muitas vezes dizemos na nossa vida?, interrogou-nos o pregador: "Às vezes parece que todos nos abandonam. Parece que tudo à nossa volta perde sentido. É nesta altura que olhamos para Jesus e vemos que levou a sua cruz até ao fim e compreendemos que quando a nossa cruz se torna pesada, Cristo carrega-a connosco".

Hoje ninguém quer ouvir falar do sofrimento, mas o sofrimento é uma realidade. "Hoje ouvimos muita gente dizer que não vale a pena a vida de muitos idosos; a vida da pessoa que sofre; a vida daquela pessoa que tem uma doença incurável; a vida que antes de nascer já está condenada à morte" disse. Interrogou-se sobre uma sociedade em que o ser humano é tão inteligente, que até faz de tudo para defender os animais e não é capaz de defender uma vida que está para nascer! Como é possível no mundo onde a tecnologia nos aproxima uns dos outros, tenhamos pessoas de idade que morrem abandonados? "A nossa sociedade é uma sociedade de desencontros. É uma sociedade que necessita olhar para Cristo para compreender como Deus vem ao nosso encontro, como Deus nos ama", referiu o P. Luís Filipe.

 Uma das tradições mais antigas de Sexta-feira Santa tem a ver com as diversas capelanias que, neste dia, vêm acompanhas da sua cruz em Via-Sacra. Em algumas delas, as pessoas ainda percorrem os quilómetros que as separam da Vila, a pé. Há até quem, vindo de fora, não perca este dia.

Às 10 horas começam a chegar e fazem uma entrada solene na capela da Misericórdia. Depois seguem na procissão do Pretório às 11 horas. Ao longo dos anos, em algumas aldeias, são cada vez menos as pessoas que acompanham a cruz, como disse alguém: "Não há mais ninguém que possa vir, a maioria das pessoas são idosas e já não conseguem vir". A tradição e a devoção fazem deste dia um verdadeiro dia de fé.

 

Vigília Pascal

 

Na Vigília Pascal - chamada por Santo Agostinho «a mãe de todas as Vigílias» - aconteceu uma soleníssima celebração, muito rica de simbolismo e de símbolos: a luz, a água, o círio pascal, a cor alegre dos paramentos, a explosão de som e luz. A celebração dividiu-se em quatro partes.

Na primeira parte aconteceu a liturgia da Luz; na segunda parte a Liturgia da Palavra; na terceira parte a Liturgia Batismal e na quarta parte a liturgia Eucarística.

O Sr. P. Luís Filipe salientou na sua homilia a luz de Cristo, este Jesus Cristo que ilumina a nossa vida, "mas não ilumina só com pequenos gestos, com gestos de bondade, não ilumina só com mandamento do amor, não ilumina só porque perdoa, mas ilumina porque Ressuscitou, e nós agora compreendemos, assim tem todo o sentido a nossa esperança". Lançou depois o desafio de não ficarmos com Ele só para nós, "aprendamos a sua palavra, procuremos refleti-la, procuremos confrontar-nos com ela, procuremos levar essa palavra para a vida".

Os nossos agradecimentos a todos quantos tornaram possível, mais uma vez, uma tão grande manifestação de fé. O Sr. Padre Luís Fílipe, que durante estes dias nos ajudou a refletir e interiorizar a mensagem de Jesus; à GNR que organizou o trânsito ao longo das procissões.