Reflexões

Das crises à Esperança

12-06-2012 18:10

 5 - O Evangelho de Marcos, resposta aos cristãos de Roma, em crise de fé

O Evangelho de Marcos foi escrito, segundo a tradição, em Roma, entre o ano 60 a 70, por ocasião da perseguição de Nero. Esta foi a primeira perseguição oficial sofrida pelos cristãos. Depois de um tempo de crescimento, graças à pregação dos apóstolos, sobretudo de Paulo, as comunidades cristãs enfrentam uma feroz perseguição. Muitos são presos, atirados às feras e crucificados. Nem Pedro e Paulo escaparam. Pedro é preso, condenado e crucificado, de cabeça para baixo e Paulo é morto à espada porque era cidadão romano.

Com esta perseguição a igreja enfrenta uma grande crise de fé. Os cristãos perguntam-se: Jesus não é o Senhor? Não foi Ele que venceu até a própria morte? Não está Ele à direita do Pai? Então porque deixa morrer assim os seus discípulos, os seus amigos? E muitos passam para o outro lado, outros escondem a sua fé, outros fogem e abandonam a comunidade.

Foi neste ambiente de crise que Marcos resolve escrever o seu Evangelho para ajudar a fé destes cristãos, apresentando-lhes o caminho de Jesus. Também Jesus, sendo Deus, foi preso, condenado e crucificado.

Para Marcos Jesus é o Homem-Deus que desde o princípio do seu ministério escolhe o caminho da cruz, que veio para morrer e dar a vida, fazendo a vontade do Pai. Por isso, a maior parte do Evangelho de Marcos é constituído pelo relato da Paixão e Morte de Jesus. E durante a sua vida pública, sobretudo, a partir do Capítulo 8,27, dedica o seu tempo a instruir os Apóstolo preparando-os para esse momento dramático da sua vida.

Mas apesar de todo o esforço de Jesus e das suas catequeses constantes sobre a sua Morte, Jesus avança sozinho para a Paixão. Todos o abandonam, até os discípulos. Mais, para Marcos Jesus morre como qualquer homem, abandonado de todos, até do próprio Deus, lançando um grito de angústia: “Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste?” (Mc 15,34b)

Contudo foi esta forma de Cristo enfrentar a morte que levou o centurião romano, um pagão, a declarar: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39).

Eis o objectivo de Marcos, ao escrever o seu Evangelho: levar todas as pessoas, cristãos ou pagãos, doentes ou com saúde, perseguidos ou livres a reconhecer e a confessar que o Crucificado é o Filho de Deus que veio para salvar a todos.

 

Frei Manuel Arantes da Silva, ofmcap

Nota: (Se alguém quiser aprofundar estes temas leia a Revista Bíblica, série científica, nº 20)

Fim

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Família cristã afirma-se pela sua identidade

03-06-2012 15:35

No centro do mês de Maria, 15 de maio, assinalámos o Dia Internacional da Família, promovido pelas Nações Unidas para chamar atenção, a todas as pessoas de boa vontade, para a importância da família humana.

Nesse dia, o meu olhar interrogativo deteve-se nas nossas comunidades paroquiais de Peral, São Pedro do Esteval, Proença-a-Nova, Cardigos, nomeadamente, nos livros de registos de batismos e de casamentos. Vi que as nossas famílias são todas ou quase todas cristãs! Que bom!

 Depois desta constatação prática, apesar do que se diga e de muitas exceções, experimentamos que a imensa maioria dos crentes só pertence de nome às comunidades cristãs, isto é, as suas relações com elas ou com as suas paróquias são superficiais e passageiras. Naturalmente surgiu a questão: qual é razão desta sua desintegração da comunidade cristã ou comunidade paroquial? A resposta é evidente para mim: deve-se ao fato de não haver assumido a sério o seguimento de Cristo e do seu Reino. Ora, qualquer pessoa para se considerar cristã, deve ter um ponto fixo de referência: Cristo. Um cristão é um homem ou uma mulher que quer viver segundo o estilo de Jesus de Nazaré que, perante a vida, quer assumir as suas atitudes fundamentais. Sendo assim, ou assumimos a sério o desafio de evangelizar a nossa família ou uma maioria das pessoas ficam à margem da Vida, do Evangelho. Este desafio requer que, neste contexto social em que vivemos, os membros da família adotem atitudes básicas nascidas do Evangelho.

Para que uma família se possa considerar cristã, são necessárias as seguintes atitudes: em primeiro lugar, assimilar como parte mais íntima da sua vida este mandamento: “O Senhor nosso Deus é único Senhor e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Mc 12,30). Isto significa, antes de tudo, estar disponível a cumprir a Sua vontade acima de qualquer vontade humana própria ou alheia. Foi a atitude essencial que Cristo, com a sua palavra e o seu exemplo nos deixou. É natural perguntar-se: “Como manter o olhar fixo em Deus e na sua vontade”? Caros batizados, paroquianos… ajudar-nos-á muito: o hábito da oração pessoal. “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto” (Mc 12,9). Anima o teu cônjuge e os teus filhos a fazerem o mesmo; a prática da oração familiar. A família, como igreja doméstica, deve prestar culto a Deus, e dar graças pelos benefícios que recebe d`Ele. Não pares enquanto não conseguires, na tua casa, esta oração diária ou semanal, se ainda não existe; a leitura assídua do Evangelho. Se ser cristão consiste em imitar o estilo de vida de Cristo, é fundamental que, em cada dia, conheças melhor a Sua pessoa e atitudes vitais, com a leitura diária e meditada de uma passagem do Evangelho.

Outra atitude intimamente ligada à primeira e que carateriza a família cristã é a fraternidade. Cristo não foi apenas o homem de Deus, mas também o homem dos homens. Eis uma grande tarefa! Acolhe a tua família com alegria e entusiasmo. Faz da tua família uma verdadeira comunidade fraterna. Educa os teus filhos para que a sua opção pelo homem comece em casa com a opção pelo bem e felicidade de cada um dos membros da família. Por fim, motivada e impulsionada pelas duas primeiras atitudes, a família cristã identifica-se no compromisso com a sociedade, o mundo. Ela não é uma entidade privada, como às vezes se pensa. É uma realidade comunitária e pública, mesmo que tenha a sua intimidade e privacidade. Isto quer dizer que a família está feita para viver no amor e na justiça, com as outras pessoas e famílias. Significa que a família é responsável pela transformação da sociedade e deve comprometer-se na sua transformação.

Aconchegados pelo amor de Nossa Senhora de Fátima, Mãe de Deus, e estimulados pelas celebrações das festas de Compromissos dos jovens do 9º ano da catequese, do Envio dos jovens do 10º ano no domingo, 20 de maio, e das Promessas de alguns escuteiros do Agrupamento 157, tomemos a peito o caminho que leva a nossa família à sua verdadeira identidade: “comunidade de vida e de amor”.

Pe. Ilídio Graça

Infâncias perdidas, adultos manipuláveis

03-06-2012 15:35

Há uns tempos, tive a oportunidade de ler excertos de uma obra sobre a influência da televisão nas crianças – Tempos cativos: as crianças TV de Liliane Lurçat (Lisboa, Edições 70, 1998).
Gosto de ver televisão e acredito que, quando bem usada, pode ser um óptimo instrumento ao serviço das aprendizagens das crianças e dos adultos. Contudo, reconheço que Lurçat tem razão nas ‘denúncias’ que faz… A autora defende que, embora a televisão apresente diversas vantagens, também pode causar aquilo que ela designa de “tempos cativos” e “infâncias roubadas”.
“Tempos cativos”! A televisão (e não só) “prende” a criança, no interior de uma casa, frequentemente sozinha, podendo ocupar de tal modo o seu tempo que esta fica com menos possibilidades de interagir com o “real verdadeiro”. O seu conhecimento do real passa a ser mediatizado pela televisão e não fruto de um contacto efectivo com as pessoas, as situações, a experiência da natureza, a leitura de livros adequados que a fascinem e que promovam o desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da linguagem e do pensamento.
“Infâncias roubadas”! A TV rouba às crianças o direito a terem uma infância que seja um tempo protegido de iniciação à vida adulta: introduz a criança, de modo brutal, num mundo que ela ainda não está preparada para entender, e trata-a como um adulto criando nela necessidades de consumo e utilizando-a como meio para levar os seus pais a comprar mais um par de ténis iguais aos da “Pancrécia” da novela em voga ou o mais moderno dispositivo electrónico para ouvir música...
Além disso, ao repetir imagens que, com a frequência, se tornam habituais e “normais”, a televisão pode gerar aprendizagens inconscientes, não trabalhadas racionalmente. Pode alguém dizer que é bom a criança conhecer o mundo que a rodeia. Mas não serão muitos dos aspectos negativos deste mundo também uma consequência dos conteúdos que a maioria das crianças e adolescentes se habituou a “telever”? Será que nós próprios, no fim de um dia de trabalho, conseguimos estar simultaneamente a ver e a ajuizar criticamente sobre o que vemos sem nos deixarmos influenciar nem um pouco? Pessoalmente, acredito que o excesso de televisão torna as pessoas muito mais facilmente manipuláveis: o público vai apreendendo passivamente modelos de vida, formas de pensar e factos noticiados misturados com opiniões; depois, a pouco e pouco, perde o hábito de construir as suas próprias opiniões e começa a aderir simplesmente às da maioria. Perde, pois, uma parte importante da sua liberdade... Termino com umas frases de Lurçat:
Uma personalidade dominada, massificada, é o apanágio de muitos adultos cuja emoção programada vibra ao ritmo das “boas causas”, mundiais ou locais. O exercício do raciocínio tornou-se tanto mais difícil quanto se dilui facilmente nos “bons sentimentos” colectivos, mais fáceis de libertar do que uma verdadeira compreensão dos problemas. As pessoas não deveriam impedir-se de pensar, não deveriam impedir-se de compreender, mesmo que isso vá contra a corrente. (…) Ser livre não é só ser-se capaz de se desembaraçar dos problemas (…). Ser livre é também ser responsável, é portanto saber pôr questões e saber pôr-se em questão. (p.151)
Adelina Castelo – Professora

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Qual o ser mais maravilhoso do mundo?

03-06-2012 15:34

Já alguma vez experimentaram acordar bem cedo, numa linda manhã de Sábado, espreitar pelo canto do olho sobre o monte de mantas que cobrem o vosso corpo e apreciar a beldade mais fascinante à face da Terra? Aquela ternura em forma de pessoa que canta e encanta todos os que para ela olham? Aquela coisa querida e delicada coberta de lençóis azuis de flanela que dorme entre aquelas grades de madeira cobertas de peluches? Aquele respirar doce e calmo dum ser inocente caído neste mundo cruel? Sim, é mesmo isso… um bebé. Um lindo, pequenino, meigo e perfeito bebé. Aquela preciosidade que salta da cama mal ouve a minha voz, aquele príncipe que mal me vê estende aqueles gordinhos e fofinhos braços para me dar um grande beijo de bons dias e dizer: mana! Aquele rapazito de poucos meses que se diverte horas e horas a brincar comigo no chão da sala, com aqueles brinquedos que nós não achamos piada nenhuma, mas que para eles são tudo… Quando chega a hora de comer, tanto ele como eu ficamos de barriga cheia, ou ate mesmo na hora de mudar a fralda, quando toda a gente se ri mas ninguém tem coragem de fazer o sacrifício e mudar a fralda à criança. E ao chegar a noite, quando aqueles olhos verdes e brilhantes se fecham sobre o meu colo, depois de um longo dia de pura diversão, e aquelas mãos se deixam cair pela minha cara e se agarram à minha roupa, eu olho para aquele “monstrinho” e digo: quem é a alma neste mundo que tem coragem para fazer qualquer mal que seja a esta preciosidade? Quem tem coração para maltratar estes seres maravilhosos que tanta vontade de viver nos dão? Quando apenas é preciso ter amor e carinho para dar e receber e uma mão carinhosa que passe na macia cara daquela pedra preciosa e diga: adoro-te!

Inês Henriques

Novas experiências

03-06-2012 15:33

Quando ouvimos a expressão «no nosso tempo é que era bom!» fica sempre no ar um tom nostálgico, uma referência e uma meia verdade.

De fato, o nosso tempo de juventude tinha coisas boas que se perderam, nomeadamente o tempo para brincar e inventar os nossos momentos de lazer. Hoje as crianças têm o tempo todo ocupado e até as brincadeiras já são programadas. Porém, o tempo em que vivemos proporciona experiências inovadoras e incomparáveis de aprendizagem.

Ao abrirmos a página da do Agrupamento de Escolas Pedro da Fonseca de Proença-a-Nova, podemos ver muitas atividades extracurriculares proporcionadas aos alunos. Fixo-me numa notícia denominada «Novas Experiências» e contemplo a novidade da educação pré-escolar da nossa escola: um leque de atividades que levam à descoberta empírica do mundo no qual as crianças se preparam para apreender e, mais tarde, construir. Ficamos a saber que a educação está cada vez mais ligada à comunidade envolvente como a realidade das famílias, dos centros produtores e promotores de ciência como o Centro de Ciência Viva e Câmara Municipal. Os alunos do pré-escolar participaram em atividades como: recolha de pilhas e de papel a ser entregues no Viveiro Municipal que visitaram nessa circunstância; em ateliers no Centro de Ciência Viva de Moitas como “Manteiga da Floresta”, “Caldeirada de papéis”, “Aromas da Floresta” e “Bolo da caneca”, “Fábrica de velas” e “Uma floresta na escola”; no âmbito da semana da leitura, o jardim-de-infância de Moitas deslocou-se a casa da D. Maria de Jesus, avó da aluna Letícia, para ouvir duas histórias “A Cinderela” e o “João, pé de feijão”, fazendo, posteriormente, o registo gráfico das histórias em contexto de sala de aula.

O Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes, 35) afirma «O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem». Se a Educação é a arte de ajudar a pessoa a ser mais, aquilo que temos está ao serviço do ser. Neste sentido, seria um erro ou mesmo um pecado grave deixar de lado a abertura da escola atual e as possibilidades do nosso tempo. No entanto, em muitos setores da nossa sociedade há um tom de contestação uma vez que a existência de muitos meios não significa obrigatoriamente melhor educação. Julgo que, embora candidamente, a insatisfação resulta do nosso desejo de perfeição e querermos a melhor escola possível.

Neste sentido, penso que estas atividades vêm reforçar a ideia de que a escola é veículo transmissão de saberes: conhecimentos, saber fazer e saber ser e estar em sociedade. A escola não é mais um setor na vida de um estudante mas é a estrutura que a sociedade lhe proporciona para conhecer(-se n)o mundo para o fazer evoluir.

Numa linguagem bíblica poderia afirmar que são bem-aventurados aqueles que são capazes de ensinar o caminho entre o mundo dos conhecimentos e o mundo real das pessoas.

 

YOUCAT no nosso Jornal

03-06-2012 15:32

A Ascensão de JESUS para a Casa do PAI

 

Depois de, com os Seus, ter subido ao ponto mais alto do Monte das Oliveiras e ter abençoado toda a terra, toda a humanidade que O acolheu e acolhe, Jesus Cristo terá aberto os braços, em jeito de abraço, querendo apertar contra o peito todas as multidões que Ele veio libertar… Nós não vimos, a Sagrada Escritura não pormenoriza, mas deduzimos!

E na Sua voz única, amorosa e poderosa, Ele fez a última promessa: «Ides receber uma Força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós»; e deu a última ordem: «e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo». Como no monte Tabor, aquando da transfiguração diante de Pedro, Tiago e João, Jesus ter-Se-á transfigurado em beleza inigualável, elevando-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. “Cristo entra com todo o Seu ser humano na Glória de DEUS”! Veio salvar-nos e foi preparar-nos um lugar!

«Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse JESUS que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o Céu.» (Act 1, 11), disseram os dois anjos que vieram despertá-los da contemplação em que ficaram.

Acordai, homens de todas as nações, idades, tempos e gerações! Acordai! O Senhor Jesus vai voltar “para julgar os vivos e os mortos e o Seu Reino não terá fim”, afirmamos ao rezar o Credo, onde se inscrevem os dogmas da nossa fé. Vai voltar e não tardará! Os sinais do fim dos tempos, que precedem a segunda vinda de Jesus - «esta renovação misteriosa, que há-de transformar a humanidade e o mundo, a Sagrada Escritura chama-a de “Os novos Céus e a Nova Terra”» (2Pd 3,13) e (Catecismo da Igreja Católica 1043) – esses sinais são evidentes. Estão todos aí, nesta sociedade sem lei, sem moral, sem honra… onde tudo é permitido e Deus ignorado e rejeitado.

«Se eu não tenho perspectiva do mundo que há-de vir, da parusia, do apocalipse, de uma nova terra, de uma vida nova, nunca vou ser movido para a conversão! Quando temos a perspectiva correcta: esse mundo velho vai desaparecer, esse vale de lágrimas vai acabar, e nós teremos uma terra nova, a qual precisamos conquistar. Então sim, há razão de ser para a evangelização com renovado ardor. Há lugar para uma nova evangelização. Nova em seus métodos, nova em suas expressões!» (Pd. Jonas Abib).

«Portanto, irmãos, enquanto esperais estes acontecimentos, esmerai-vos para que Ele vos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz. Considerai que a paciência de Nosso Senhor é para nossa salvação», diz-nos S. Pedro no 3º capítulo da sua segunda carta, versículos 14 e 15.

No próximo número entraremos no terceiro capítulo do YOUCAT – O ESPÍRITO SANTO – cujos Dons nos permitem entender o Amor com que DEUS cria, nos ama, convida, espera e SE dá.

 

Por: Maria Albertina Castanheira

 

Das Crises à Esperança

03-06-2012 15:31

4 - Atitude de Jesus Cristo face às crises do seu tempo

Na Palestina de Jesus havia, como hoje, o mundo político, o mundo social e o mundo religioso. Uma classe alta, a elite dos grandes proprietários e senhores. Identificamos também facilmente uma classe baixa (classe média) os pequenos agricultores, os pescadores, os pequenos comerciantes, que se mantinham apenas com o essencial  e tinham que trabalhar muito, para poder pagar os impostos e viver. Havia ainda os jornaleiros, a trabalhar por conta de outros e os escravos. Para além destes, existiam ainda os que estavam fora do sistema, os proscritos, os marginalizados, os pobres. É no meio deles que Jesus vai fazer alguns dos seus melhores amigos.

No tempo de Jesus havia também muitos grupos religiosos e a maior parte deles estavam claramente vendidos ao poder político e dominados por lutas e esquemas de assalto ao poder e à riqueza: Saduceus, fariseus, essénios, herodianos, zelótes etc.

Jesus e a sua família vive e sofre nesta sociedade, sujeitos à lei e obrigados a pagar todos os impostos civis e religiosos.

Jesus aproveita os seus primeiros trinta anos para trabalhar, ajudando José e Maria; viver e conviver com as pessoas do seu tempo: falar, ouvir as suas preocupações, problemas e anseios.

Ao iniciar a sua missão, Jesus começa por formar também o seu grupo que não se encaixava em nada do que havia, nem sintonizava com nenhuma das suas soluções. Era preciso uma coisa nova, por isso, vai começar  por realizar uma Esperança. Todas as outras soluções são a prazo, relativas. Só a Esperança é capaz de meter a história dentro do coração de um homem e cada homem dentro do coração da história! É por aqui que Jesus entra e avança…

Jesus optou por uma vida profética, e demarca-se de João, o Baptista. Já não anuncia a iminência da visita de Deus, mas a Sua chegada, a Sua misteriosa e eficaz presença no meio do Seu Povo. Por isso, não é mais o tempo do jejum e austeridade mas o tempo da Festa, porque o banquete que Deus tinha prometido pela boca dos profetas já começa a ser servido. Também não apareceu diante dos homens como um “sabe tudo” que lhes traz a solução para cada problema, mas como alguém que dá corpo a uma Boa Notícia, alguém que realiza uma Esperança, a Esperança mais profunda: Deus veio visitar o Seu Povo, Deus está no meio de nós, Deus veio ter connosco como Rei que reina entre nós para nos salvar de todas as formas de tirania. “O Reino de Deus já está no meio de vós!” (Lc 17, 21)

O Reino de que Cristo fala não é para “o outro mundo”, mas para este mundo tornado outro, re-novado, o mundo velho tornado novo: “Eis que eu faço novas todas as coisas”.

O Reino de Deus é um Projecto em marcha de recuperação da Humanidade perdida. E isto diz respeito a todos os homens e diz respeito a toda a Criação. Deste Reino ninguém é excluído. Mas é uma Boa Notícia dirigida a todos mas especialmente dirigida àqueles para quem a vida é madrasta e é mais difícil.

Mas, para ser Boa Notícia para todos, é preciso uma mudança em todos, uma conversão, uma nova mentalidade, mas em todos. Neste Reino de Deus não se encontra ninguém que não precise de se converter, rico ou pobre, dominador ou dominado. E as duas dinâmicas da conversão exigida pela proximidade do Reino de Deus são conversão à Justiça e conversão à Esperança.

Necessariamente este Reino de Deus inaugurado por Cristo vai provocar também a sua crise, uma crise profunda e radical porque as expectativas das pessoas não coincidiam com a Esperança que Jesus queria transmitir. Seguiam-no por causa do pão ou para obter dele um milagre e os que estavam contentes com o sistema sentiram o seu poder em risco e, por isso, moveram-lhe uma perseguição feroz que terminou com a sua morte na cruz.

Concluindo: No contexto das nossas crises, Jesus atinge-nos com uma crise mais radical, a mais profunda: a libertação de todas as lógicas escravizantes para sermos o Homem Novo, habitante dos Novos Céus e da Nova Terra.

Frei Manuel Arantes da Silva, ofmcap (continua)

“Eu, elevado da terra, atrairei todos os homens a Mim”

16-04-2012 18:22

"Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna" (Hebreus 4,16). Por volta dos anos 67 d.C., o autor da carta citada, fazia este convite aos cristãos de então. Os cristãos de hoje nas nossas igrejas, conscientes ou não da profundidade e alcance deste convite não se cansam de iniciar a missa entoando: "vamos confiantes ao trono da graça e alcançaremos misericórdia". Na Sexta-feira Santa este tom ganhou mais expressão quando as capelanias de Corgas, Malhadal, Vergão, Cimadas, Vale d`Água, Pergulho, Caniçal e Moitas tomaram as suas cruzes mestras e seguiram com passos firmes e decididos para se juntarem com os outros irmãos na igreja mãe. Aí a expressão de Jesus: "Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem" (Jo 12,13) ganhou corpo, vida. Todos e em "uníssono", na procissão do Pretório, cantaram: "Suportou grandes tormentos, Duros martírios na Cruz, Morreu para nos salvar, Bendito seja Deus" (…)! Sim, bendito seja Deus porque a Cruz de Cristo tornou-se verdadeiramente o trono das decisões, a fonte contínua e actual da transformação do homem. Ela é a fonte de uma nova compreensão da vida, uma nova sabedoria…

"Eu, elevado da terra, atrairei todos os homens a Mim" (Jo. 12,32).

Então atraídos por Ela, a Cruz, longe de ser uma rotina, é um sinal vivo que acompanha todas as bênçãos; um sinal que o crente traça sobre si desde o iniciar do dia, passando pelos momentos particulares da vida e de decisões, até ao terminar o dia; e como que, contrariando a corrente anti Cruz, para muitas pessoas, Ela aparece como que único ornamento pendendo pelo peito. Ora, esta simples ousadia advém daquelas experiências vividas e partilhadas: "O Senhor é meu pastor: nada me falta. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes, reconforta a minha alma e guia-me por caminhos retos, por amor do seu nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo…" (Salmo 23, 1 ss).

Cristo vive. Esta é a grande verdade que enche de conteúdo a nossa fé. Jesus, que morreu na cruz, ressuscitou, triunfou da morte, do poder das trevas, da dor e da angústia. Não temais foi a invocação com que um anjo saudou as mulheres que se dirigiam ao sepulcro. Não temais! Vindes buscar Jesus Nazareno, que foi crucificado. Já ressuscitou; não está aqui. Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos. É Cristo que passa!

Amigo leitor: "Procurai o Senhor enquanto se pode encontrar, invocai-O enquanto está perto" (Isaías 55,6). À pergunta dos dois jovens: "Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras? Jesus respondeu-lhes: "Vinde e vereis" (João 1,38).Lembremos a legenda de Cassiano que fala do cão que corre porque viu a lebre e dos cães que correm porque viram o outro correr, mas não a lebre. Há uma boa diferença no modo de correr!

Pe. IIídio Graça

Pontos de Vista

16-04-2012 18:21

À procura das palavras certas

 

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas… continuarei a escrever."

Clarice Lispector

 

Quando se debate a tendência para abandonar a leitura e a predominância crescente da imagem, há sempre vozes que auguram que a escrita, dos jornais à literatura, é uma actividade em declínio. Pois eu acho que mesmo que não existam leitores continuará sempre a haver quem escreva.

Escrevemos porque as palavras libertam o que dentro de nós exige expressar-se. Ou porque acreditamos que até o indizível pode ser de alguma maneira apreendido.

Escrevemos quando precisamos de exorcizar fantasmas e angústias que nos fazem falhar o sentido certo das coisas.

Escrevemos porque há perguntas, insistentes, que precisam de ser respondidas. E dúvidas que se repetem e multiplicam e nos obrigam a tentar novas respostas.

Escrevemos porque em nós há uma vontade inabalável de comunicar, uma fome de compreensão que nos faz tentar levar tudo directamente do peito até quem nos escuta.

Escrevemos porque as palavras, mesmo confusas, às vezes ajudam a arrumar ideias ou a desarrumá-las com mais elegância.

Escrevemos porque a poesia que existe nas letras, nas palavras, nas frases, não existe em mais nenhum lugar com a mesma intensidade desarmante.

Escrevemos quando a alegria extravasa e precisa de contagiar os outros (nesses dias soltam-se palavras bonitas, com esperança e sonhos capazes de conquistar o universo).

Escrevemos para preencher espaços vazios – no mundo, nos outros e dentro de nós.

Escrevemos até sobre o que desconhecemos, porque as palavras dão a quem as quer usar liberdade total para serem tudo e mais alguma coisa.

Escrevemos porque temos fome de infinito e nada é tão pleno de sentidos múltiplos e tão carregado de potencialidades como uma letra.

Escrevemos, apagamos, reescrevemos, à procura das palavras certas que nunca são as perfeitas.

Escrevemos, mas quando nenhuma palavra chega para sairmos de nós, calamos. O silêncio é a outra maneira de explorar o sem fundo de nós que as palavras procuram.

M.I.C.

Primavera de Esperança e de Amor

16-04-2012 18:21

Otto von Bismarck (1815-1898) foi estadista prussiano, unificador da Alemanha e embaixador em São Petersburgo.

Um dia teve de fazer uma viagem urgente no cumprimento dos seus deveres profissionais e, ao contrário do que era hábito acontecer, a sua jovem esposa não o pôde acompanhar. Ficou muito triste, na sua mente bailavam as palavras proferidas no dia do seu casamento:" recebo-te por meu esposo e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida".

Era óbvio que nas entrelinhas do solene compromisso estava implícita a "promessa" de viajar com ele, sobretudo se a viagem fosse demorada. Inquietou-se ainda mais quando se lembrou da intensa vida social que o marido tinha de fazer e, arrependida, escreveu-lhe:"temo que o convívio com princesas e embaixatrizes te faça esquecer de mim, que sou uma mulher simples e sem títulos, excepto o maravilhoso de ser só tua".

Bismarck não tardou em responder-lhe:" esqueces minha amada que casei contigo não só porque te amava, mas também porque tinha e tenho o propósito de te amar sempre, cada dia mais, aconteça o que acontecer".

Estas palavras são fortemente reveladoras dum amor genuíno, supremo e definitivo que se quer para sempre, enfrentando todas as dificuldades que, ao longo da vida, hão-de surgir.

O casamento é uma viagem, a afectividade é um mistério e o amor é a força mais poderosa que vibra no coração do homem mas, tal como o ser humano, não é uma realidade simples mas muito complexa.

A fragilidade e o perigo sempre afloraram, um casamento nunca está acabado, não é um estado mas sim um processo em aberto, um caminho a percorrer, por vezes, no meio de contradições, mas há que lançar a âncora da esperança, acender a luz da serenidade e dizer não ao egoísmo, ao orgulho e à solidão.

O ar do tempo não foi próspero a esta fidelidade e originou afastamentos afectivos, numa fragmentação sem fim. Mas, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e o desejo de amar e de ser amado renasceu um pouco por toda a Europa.

Muitos jovens arrepiam caminho, casando-se pela Igreja e proferindo do fundo do seu coração , promessas de amor para todo o sempre, com o desejo de expulsar da vida o "frio glacial" em que os mergulharam há muito tempo.

Sinais destes tempos de mudança são também os "cadeados do amor", que estão a ser colocados nas grades das pontes, com os nomes gravados dos apaixonados mais românticos que os fecham, lançando a chave ao rio, fazendo o propósito de permanecer juntos e unidos, não deixando que nada os separe.

Esta nova onda de paixão que avassalou a juventude, de Paris a Londres, de Florença a Colónia e também já na ponte D. Luis, no Porto, é reveladora dum clique muito significativo. São milhares e todos os dias aparecem mais, não obstante a indignação e o choque que provaca no património artistico das cidades.

Será este fenómeno revelador de que o "inverno demográfico" e o envelhecimento europeu estão a chegar ao fim e se apróxima o rejuvenescer, numa Primavera de Esperança e de Amor?

 

Maria Susana Mexia

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