Reflexões

É urgente encontrar tempo para gastar com a Família

31-10-2014 11:55

A família é o lugar onde se nasce, vive e morre de maneira natural. É o espaço de vivência onde as pessoas são queridas não pelo que têm ou fazem mas pelo que são.
A família é a nossa própria empresa, a primeira, a que tem de ter a cotação mais alta na bolsa dos nossos valores, logo é nela que temos de investir a maior parte do nosso capital, do nosso esforço e, naturalmente, do nosso tempo.
Os pais modernos, para além de todos os requisitos indispensáveis e necessários têm de ter também uma agenda e esta tem de estar tão afectivamente organizada que não pode faltar tempo para “ gastar” com o cônjuge, com os filhos e todos os restantes elementos que da família fazem parte - tempo para amar, ensinar, brincar, ajudar e aprender a amar mais.
Paciência, pais! É de profunda sabedoria entender que para tudo há um tempo e o que se dedica aos filhos é uma jóia preciosa que ficará mais valorizada com o avançar dos anos.
Toda a criança precisa de uma família mas não de qualquer família. Nela tem de haver afecto, protecção, normas, educação e também uma pitada de bom humor. Só assim se pode combater a influência negativa e perniciosa a que os nossos filhos estão sujeitos, só assim os podemos ajudar a ser felizes e a poder ajudar outros a sê-lo também.
É na família que se aprende o que são os valores, as virtudes e, sobretudo, a vivê-los.
É nela que se indicam caminhos e se advertem os perigos. Na família se ensina a escolher o melhor e a rejeitar o que não interessa ao projecto de vida que se quer, não por ser proibido mas por ser contrário à natureza do bem que se pretende para o ser humano íntegro, racional, equilibrado e livre.
A liberdade será sempre um requisito indispensável para a educação e crescimento salutar dos filhos.Todavia, não podemos confundi-la com permissividade, laxismo, indiferença e, quiçá, libertinagem. Bom senso é a palavra de ordem, é sabedoria popular, é não embarcar no opinável, à toa, só porque há quem diga que é moda...
O mais importante na família é que haja vida de família, onde todos, para além dos seus feitios e maus feitios, gostos e desgostos, se empenhem em transformar a sua casa num lar e, de preferência, num lar luminoso e alegre para onde é sempre bom voltar, deixando lá fora as vicissitudes ou turbulências em que o quotidiano laboral e social, por vezes, nos aprisiona.
Se queremos acabar com a violência e a marginalidade de tantos jovens, comecemos por valorizar a família.
Maria Susana Mexia

Nova missão com ímpeto em Cristo Jesus

25-08-2014 16:10

Depois do deserto, novos tempos, desafios novos,…

Na época estival que se apresta a chegar ao fim, muitas pessoas tiveram a oportunidade de gozarem as suas férias; outras andaram contra o relógio à procura de emprego; outras aproveitaram as férias para ganhar mais algum dinheiro e atenuar as suas despesas. Numa ou noutra situação importa sempre ter encontrado oportunidade para realização pessoal e desejável descontração e retempero das forças, quer no ambiente familiar e no silêncio do seu quarto, quer nos convívios sociais da comunidade ou festas populares, e para manter o ânimo levantado na esperança de que é possível construir dias melhores. Esperança que é sempre maior se fundada no espírito cristão.
A festa em honra de Nossa Senhora da Assunção ao Céu em corpo e alma situada no umbigo do mês de agosto e no decorrer das férias de verão é um marco ou uma espécie de bálsamo para a época que se aproxima. Mais do que ser epicentro neste mês do calendário, esta solenidade de Nossa Senhora é um desafio a todos os cristãos a não baixar os braços, uma vez que Ela mostra a nossa futura glória. Entretanto, as festas do Sagrado Coração de Jesus que se avizinham nas nossas paróquias do Peral, São Pedro do Esteval, Cardigos e Proença-a-Nova sugerem-nos a ideia de que ninguém está só. Deus é um Pai que nos ama ternamente. Leva-nos pela mão nos caminhos da vida. Ele está presente antes de nós e à nossa frente!
Sabendo isto, muitos fiéis destas paróquias não se poupam a esforços para participar nas celebrações do Sagrado Coração de Jesus. Na atitude de agradecimento dos grandes favores divinos, além de participarem nos actos litúrgicos, dispõem-se a fazer as suas ofertas em bens agrícolas e/ou valores monetários ou então colaborando no arranjo e leilão das fogaças.
Na vida de Cristão importa ser firme e inabalável na fé, procurando continuamente progressos na obra do Senhor, sabendo que qualquer fadiga não é inútil no Senhor.
Está à porta a época do início do ano escolar e por isso já está no ar a ardente preocupação na aquisição dos livros e também a corrida em arranjar alojamento para os estudantes que vão estudar fora da terra. É também a época de forte preocupação na organização e programação do ano pastoral. Para ambas as situações é preciso encontrar resposta ajustada.
Nesta época em que as férias vão ficando para trás e a preocupação e a ansiedade próprias do início de novos tempos, como o ano escolar e o ano pastoral aumentam, contemos com a presença amorosa e real do amor de Cristo. Agora, importa lançar-se cada um de nós e cada comunidade em direção à meta, em vista do prémio do Alto que Deus nos chama a receber em Cristo Jesus. Por isso, lança-te para a meta inteiramente penetrado de sincero amor fraterno que, sem fraquezas ou simulações, enfrenta todas as situações, sem excluir ninguém. Porque “Se tem o dom do serviço, que o exerça servindo; se do ensino, que ensine; se é de aconselhar, aconselhe; se é de distribuir donativos; faça-o com simplicidade; se é de presidir à comunidade, faça-o com zelo; se é de exercer misericórdia, faça-o com alegria (Rom12,7-8).                           Padre Ilídio Graça
 

Ser Voluntário

25-08-2014 16:10

Gosto muito de ser voluntária.
É um papel importante da minha vida, criar objectivos e expectativas que proporcionem melhoria e qualidade de vida de pessoas e comunidades.
Na sociedade actual reconhece -se que o voluntariado tem um espaço próprio de actuação, cujo trabalho se situa numa linha de complementaridade do trabalho profissional e nas instituições.
No voluntariado temos que actuar de uma forma livre, desinteressada, responsável e com muito amor ao próximo.
Perante Deus e perante os homens, através do testemunho, o trabalho do voluntário, são obras e gestos esculpidos no livro da vida em letras de ouro que o tempo não apaga.
Trabalho com idosos.
Tento ajudá-los a viver serenamente, valorizando a sua experiência, a aceitar as suas limitações como algo natural e fecundo de riqueza interior.
O voluntário deve tornar sãs as instituições  e as condições  de vida no mundo, para que todas se conformem com as regras da justiça e favoreçam a prática da virtude.
Os idosos com quem trabalho têm histórias de vida lindas. Todo o voluntário sai mais rico  quando semeamos e nos damos inteiramente, mesmo que não vejamos frutos, nem correspondência, nem agradecimento, nem benefício pessoal.
O Senhor ensina- nos a dar liberalmente sem calcular retribuição alguma. Um dia recebê-la- emos em abundância.
Luísa Loureiro

Ter filhos

25-08-2014 16:09

Nos últimos tempos, fruto das notícias da actualidade e de outras conversas, tenho-me questionado sobre porquê é que as pessoas não têm mais filhos e até porquê é que nós temos cinco filhos. As perguntas são de resposta complexa, mas o que é facto é que muitas vezes me perguntam se foi por querer, se ficamos por aqui, se sempre quisemos ter muitos filhos,… e o assunto não parece fácil de explicar só com sim ou não.
Pergunto-me porquê é os casais não têm mais filhos, lembro-me daquelas ideias de dar um cheque de 500€ por cada filho, recordo as questões fiscais e laborais que estão em cima da mesa. Espero sinceramente que se decida o melhor para as famílias e que não se continue a prejudicar quem tem mais filhos.
Mas à parte de tudo isso, parece-me que os casais não têm mais filhos porque não arriscam. Porque inventaram a pílula e a massificação do seu uso fez com que os casais se sentissem donos e senhores da vida e, formatados nessa lógica, nem põem a hipótese de arriscar, de viverem abertos à vida, quer ela venha, quer ela não venha. É como diz o provérbio popular “Quem não arrisca não petisca!”.
Do que vou ouvindo nalgumas entrevistas de famílias numerosas, ninguém esteve parado a planear ter 3,4,5,6,7… filhos. Ninguém se senta um dia à noite para falar sobre o número de filhos que vai ter, quanto é que vai custar, quanto é que vai pagar mais no supermercado, se poderá continuar a ir viajar, se, se, se… Simplesmente, há casais que estabeleceram o limite dos dois filhos, idealmente o casalinho; e há outros que não estabeleceram limites e se deixam surpreender pela vida.
E ainda bem. Planeado só tivemos o primeiro. Às vezes, olho para todos os outros e penso o que seria da minha vida se eles não existissem. Como é que eu poderia ser feliz sem o meu russito que tem tanto de atravessado como de meiguinho? Sem a minha mandona que faz uma tragédia a partir do nada? Sem o meu zé TT (todo-o-terreno) que leva tudo à frente e só pára para comer ou para um colinho? E sem a alegria e a tranquilidade do pepito?
Lembro-me do olhar de pânico do meu marido quando engravidava. Lembro-me do pânico que sentia quando descobria que estava grávida. Lembro-me da tristeza do meu marido quando percebia que eu estava grávida ainda antes de eu perceber. Lembro-me… lembro-me, lembro-me. E depois vejo o olhar do meu marido quando assiste às travessuras do quarto, que é tal e qual a cara do pai. Vejo o encanto com que vê a pequenita a dançar para ele. Vejo o quanto se dá para que todos estejam bem.
Que bom é ser surpreendido pela vida e ir deixando-se ser feliz. Certamente seria feliz só com o casalinho piroso, certamente seria feliz só com um filho, mas de certeza que sou muito mais feliz com cinco. Não planeámos nada, apenas mantivemos abertura para que a vida entrasse na nossa vida.
Os casais não têm filhos porque não têm dinheiro, não têm filhos porque estamos num ambiente de crise. Os casais não têm filhos porque estão noutra. Foram formatados assim e consideram as famílias grandes giras, agitadas, mas para outros, que, de facto, nem conseguem bem compreender. Parecemos boas pessoas, até com alguma capacidade de raciocínio, mas ter cinco filhos, não lembra ninguém!
A lógica da surpresa traz consigo o calor inebriante de um filho que inunda a nossa vida e não deixa que nada volte a ser como dantes. A família torna-se aberta a quem vem. Os irmãos amam quem vem sem ainda saberem se vem ou não.
O melhor que podemos dar aos nossos filhos são os irmãos. O melhor que nos podemos dar a nós próprios é a possibilidade de ter filhos.
  Rita Gonçalves
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês
Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional
Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)

Em busca dos Valores Perdidos

25-08-2014 16:09

Não falemos de valores filosóficos, esta abstracção poderá ficar para quem, em recanto meditativo, possa reflectir sobre a sua essência.
Debrucemo-nos agora sobre os valores que unem os homens na vida e na sociedade: a saudável convivência, o bem comum, o trabalho, o lazer, a entreajuda, a cultura e o divertimento.
Valores da vida que pacifiquem a eterna tensão entre a necessidade de vivermos juntos e a vontade de cada um viver à sua maneira.
A moralidade abarca a totalidade da nossa existência e, dado que somos seres sociáveis, a vida moral transborda da pessoa para toda a sociedade e nela se projecta influenciando-a.
Fomos feitos para viver uns com os outros, o homem não é um ser solitário mas um ser solidário na cooperação do bem comum, na reciprocidade e no altruísmo.
Não é fácil, por vezes, também não é confortável mas é a única via de felicidade possível aqui e além… Parafraseando Martin Luther King “ ou aprendemos a viver juntos como irmãos ou morreremos juntos como animais…”.
O agir ético do homem é medido e julgado pela sua consciência – o núcleo mais secreto de si mesmo, o santuário onde ele se encontra a sós consigo e com Deus.
Este juiz secreto da nossa consciência não fica passivo ou indiferente - se for bem formado - ao seu agir e ao dos outros: louva ou repreende, aprova ou condena, tranquiliza ou inquieta.
Todos aspiramos a um ideal de vida no qual acreditamos e pelo qual lutamos, já que sem esta referência as ideias esvanecem-se, a sociedade fica parca de esperança, o sentido da existência dilui-se e a vida fenece sem se ter concretizado.
Valores então para quê? Para que o vazio não se instale, para que o absurdo não se imponha como elemento destruidor e para que consigamos perceber o porquê e o para quê da nossa vida.
Os valores são uma bússola, uma referência de caminho a seguir. Não estão mortos nem fora de moda, antes são a clareira de luz e de esperança que nos resta para atravessarmos a aridez das sucessivas crises em que têm mergulhado a nossa vida.

Susana Mexia

“Retiremo-nos sozinhos para um lugar deserto, para que descanseis um pouco”

29-07-2014 15:42

Os meses de julho e agosto são de certa forma uma ponte entre o final e o início do ano pastoral. É um tempo de férias. Este tempo é um desafio, sobretudo às famílias que sofrem por ausências e desencontros devido ao apertado ritmo de trabalho, a encontrar o clima sereno e a atmosfera tranquila para momentos de diálogo em família e para viver a intimidade familiar. O tempo de férias é também oportunidade para fazer emergir as exigências e os projetos de cada um.
Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, vendo o stresse e o cansaço dos seus discípulos, disse-lhes: “Retiremo-nos sozinhos para um lugar deserto, para que descanseis um pouco” (Mc 6, 31). Este convite de Jesus é na verdade um desafio a sair da rotina, a fugir do ambiente habitual de vida, para mergulhar serenamente noutros ambientes ou ocupações que possibilitem encontrar-se consigo mesmo e com os outros.
As féria não são uma questão de modernidade ou uma motivação casual, mas algo que desde sempre está previsto nos planos de Deus: “Deus terminou todo o seu trabalho; e no sétimo dia, Ele descansou de todo o seu trabalho” (Gen 2,2). Este convite de Jesus estende-se até aos nossos dias para alcançar as numerosas famílias, para alcançar todas as pessoas.
 Infelizmente, deparamos com uma multidão de trabalhadores que ainda nem sequer foi bafejado pelo tributo “férias” e, por isso, existe e atua no campo do trabalho como uma autêntica máquina. Outros, por dificuldades económicas ou de trabalho, por motivos de saúde ou outros problemas, não conseguem esta oportunidade de descanso, nem ao menos para ouvir o coração palpitar ao lado de quem mais gosta e degustar a frescura duma singela limonada.
No entanto, independentemente da situação em que se encontra a pessoa e ou a família, grita por um momento para quebrar a rotina e as demais pressões e encontrar espaço e tempo para escutar o silêncio, para estar com o outro e com a natureza, para sentir a intimidade familiar (…) sob o grave risco de se perder a si próprio, a família…
Felizmente podemos nos gloriar pelo facto da nossa Igreja, em muitos cantos do mundo, ter uma organização pastoral adequada para responder ao convite de Jesus: “Retiremo-nos sozinhos para um lugar deserto, para que descanseis um pouco”. Assim aconteceu na nossa Unidade Pastoral.
Desejamos boas férias aos nossos catequizandos e a todos os nossos catequistas. Depois de um ano pastoral naquela correria escola/catequese e emprego/catequese, que foi muito gratificante, agora com a sensação da missão cumprida, eis que sabe bem este mergulho: “Retiremo-nos sozinhos para um lugar deserto, para que descanseis um pouco”. Desejamos umas boas férias a todos os membros dos grupos sinodais, a todos os movimentos da nossa Unidade Pastoral e aos paroquianos que também não pouparam esforços para que a barca de São Pedro continue a sulcar os mares da vida por terras de S. Tiago Menor, de S. Pedro da Cadeira e de Nossa Senhora da Assunção.
É uma graça maravilhosa envolvermo-nos neste alegre movimento dos nossos emigrantes que chegam de férias para se reencontrarem com os familiares, amigos e tudo o resto. Assim como a ida e vinda dos nossos amigos paroquianos que rumam até outros lugares para gozar as merecidas férias.
Na onda deste período estival de ir e voltar, continuamos a fazer a ponte do fim e do início do ano pastoral. Nesta ponte, as festas dos santos populares continuam a dar espírito e vida às nossas aldeias e paróquias, estimulando grandes encontros familiares e paroquiais e a motivar os arraiais. Depois da festa em honra da Rainha Santa Isabel, nos dias 4 e 6 de julho, no Malhadal, e das festas de Vergão em louvor a Nossa Senhora de Fátima e das Corgas na devoção a Nossa Senhora do Carmo, nos dias 18, 19 e 20 de julho, seguem-se, de enre outras, a festa nos Casais em honra de São Lourenço, no dia 10 de agosto, e a 15 de Agosto a solenidade de Nossa Senhora de Assunção padroeira das paróquias de Cardigos e Proença-a-Nova. Isto tudo e outras festividades, como a festa do bodo em São Pedro do Esteval, casamentos, batizados, Missas dominicais e feriais, levam-nos a sentir que as férias implicam ainda mais a presença de Jesus. Por isso, “Retiremo-nos sozinhos para um lugar deserto, para que descanseis um pouco”. Realmente, Ele não disse “retirai-vos”, mas sim “retiremo-nos”, porque Ele quer estar sempre presente.
Aproveitando o convite de Jesus, o nosso jornal “O Concelho de Proença-a-Nova” retira-se de férias na edição de 10 de agosto e volta a 25 de agosto. Assim, desde já desejamos a todos os nossos assinantes, leitores, colaboradores e amigos que esta pausa sirva para o repouso esperado, sirva para restabelecer a mente e o corpo. E que a ponte referida sirva para levar os desafios do Ano Pastoral 2014 / 2015, com o tema diocesano: “Igreja viva – Sacramento da Salvação”.
Padre Ilídio Graça
 

 

Ser (e)migrante…e cristão cá e lá

29-07-2014 15:41

Ao longo da sua história, Portugal tem firmado a sua identidade na miscigenação resultante do fenómeno migratório.
Na definição de migração e compreensão do fenómeno, retemos a ideia de que “Os emigrados e os imigrados são indissociavelmente os mesmos, que deixaram os países em que nasceram e em que foram educados para se instalarem num outro, quer tenham sido empurrados pela miséria, pelas perseguições, quer tenham sido atraídos pela riqueza, pela liberdade ou pela modernidade do país de instalação.” (in Dicionário de Sociologia, Circulo de Leitores, 1990, p. 127)
Dos emigrantes dos séculos XV a XVII para as ‘terras  descobertas e a colonizar’, aos emigrantes do século XX idos para o Brasil e para terras de África até à mais relevante purga migratória de portugueses nos anos sessenta do século passado, assistimos hoje a uma nova saga de emigrantes. No passado os emigrantes eram rapazes ou já homens maduros, na sua maioria com família formada, gente que partia em busca do sonho de vida melhor. Estes emigrantes eram normalmente letrados, ainda que pouco; mas havia também aqueles que sendo cursados (filósofos, artistas, …) partiam para outros países em busca de cultura e de novas correntes de pensamento e de arte, porque no seu país não eram aceites nem reconhecidos; e ainda os que emigravam em exílio político. O fluxo migratório de hoje em Portugal tem a negra particularidade de a maioria dos emigrantes serem jovens formados nas universidades e escolas técnicas, ou seja, temos hoje uma emigração expressiva e preocupante da ‘inteligência’ e do conhecimento, as gentes mais capazes deixam a família e o país.
Ontem como hoje, o regresso do emigrante à sua terra natal continua a retratar a identidade portuguesa: partir em busca do sonho de vida melhor com a saudade e o desejo de um dia voltar.
Como é bonito ver a alegria efusiante nos olhos dos ‘velhos’ que contam os dias até o filho emigrado vir de férias no verão. E lá estão eles, os emigrantes a marcar vivamente a sua diferente presença com os carros nas ruas e na festa do santo padroeiro. Então as igrejas e capelas enchem-se de novo, pelo menos na missa de domingo da festa do orago da terra.
De muitos sabemos estarem integrados na comunidade da igreja na localidade onde vivem no país estrangeiro. Mas infelizmente também é verdade que muitos são os emigrantes que só voltam a entrar na igreja da sua terra natal.
Importa pois alterar esta realidade. A vivência da fé não se pode circunscrever ao meio de origem, onde assim até parece que se vai à igreja porque é próprio da terra e não por convicção de fé pessoal.
O Cristão consciente buscará a porta do templo mesmo em terra estranha. E tudo será mais fácil se aquele que emigra informar o seu pároco, pois este certamente encontrará forma de estabelecer pontes e contactos para acolhimento do imigrante pela igreja na terra estangeira.
Na condição de emigrante, tome-se por exemplo o caminho e vida de êxodo vividos pelo povo de Israel, a quem Deus prometeu a terra de leite e mel, povo eleito ao qual Deus não faltou e sempre veio em seu auxílio. Siga o emigrante a Jesus que teve de fugir da sua terra para o egipto para escapar à tirania de Herodes; o mesmo Jesus que se fez peregrino-Profeta em terras da Galileia, fora da terra onde crescera, o lugar de Nazaré. Viva o emigrante a fé cristã no estrangeiro com o mesmo espírito de anseio por vida nova que marcou o seu baptismo na capela/igreja da sua terra natal.
Proença-a-Nova, 21 de julho de 2014
Alfredo Bernardo Serra

Quase, quase, Aniversário

28-07-2014 18:51

Estou prestes a fazer 11 anos de casada e parece-me que, apesar de não ser o melhor assunto para a época balnear que estamos a atravessar, também não é tão pesado que o tenha de guardar para a rentrée.

Sim, estou à beira de comemorar com o meu marido 11 anos de casada. Hoje, por acaso, não é a melhor altura para falar cor-de-rosa do assunto porque até estamos meio “chateados” um com o outro. Um dos motivos deste arrufo é totalmente compreensível. De facto, ele tem toda a razão para estar chateado, pois sente que tem sempre de ser ele a fazer o papel de mau da fita, porque os mais pequenotes não me obedecem.

Não sei o que fazer. Até uma certa idade, não consigo fazer nada deles. É aquela idade em que são demasiado pequenos para racionalizar seja o que for, mas também já são grandinhos o suficiente para ir distinguindo o que devem fazer do que não devem fazer. Nesta fase, não sei o que lhes fazer para que me obedeçam minimamente.

Pelo contrário, com o meu marido, muitas vezes, basta um olhar e dizer o nome do filho em questão que tudo já começa a ter outros contornos. Eu, ainda que me descabele, não consigo nada. Em muitas situações, devo confessar, fico interiormente à espera que o meu marido venha intervir na situação que não consigo resolver. Depois, ele consegue terminar a birra e fica de trombas comigo, como que me chamando incompetente. É sempre a mesma coisa!

O que é que eu posso dizer em minha defesa? É verdade. Quando eles são mais crescidinhos já consigo orientar melhor as coisas, mas nesta fase intermédia, no meio da birra, eles nem param para me ouvir. Marido, tens mesmo de ser tu!

Assim, como hoje saíste a meio do pensamento “És uma incompetente!”, e como estamos quase, quase a celebrar o 11º aniversário de casamento, deixa-me que te dê um pouco de graxa e te dedique este texto. Tens as tuas coisas, típicas do género masculino, e eu tenho as minhas, típicas do género feminino, mas temos sabido rir de tudo isto, ainda que, por vezes, tenhamos de amuar um bocadinho primeiro! Já ensinei o meu marido a amuar, que ele, coitado, não sabia.

Não há problema. Ao contrário do que se diz por aí, a felicidade não é um momento ou vários momentos. A felicidade é um estado de alma. Não é volátil, não é supérfluo, não é transitório, não é circunstancial. A felicidade é o olhar que escolhemos para a nossa vida. 11 anos? Ainda só agora começou!

 

Rita Gonçalves

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês

Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional

Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)

Queridos Avós

28-07-2014 18:50

No dia 26, comemora-se o Dia Mundial dos Avós que, na minha opinião, não deve ser encarado pela sociedade como “mais um dia de consumismo” mas sim, um dia de grande e merecida homenagem aos familiares mais velhos que além de serem por norma uns queridos (os meus são), representam um papel de louvar na sociedade contemporânea.

O dia dos avós é comemorado dia 26 de Julho, porque é o dia de S. Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus, sendo estes os padroeiros dos avôs e das avós.

Já la vão os tempos em que os mais velhos da família viviam sob o mesmo teto das gerações sucessoras de genes e apelido.

As avós por norma, eram viúvas porque a esperança média de vida de um homem nos anos 50 era de 60 anos. Elas, eram as chamadas matriarcas e tudo o que se passava na família ou à volta da mesma, não podia decorrer sem o seu consentimento. Eram detentoras de um respeito que se conseguia sobrepor à figura masculina mais velha (filho ou genro) devido à idade. Ou seja, a idade era estatuto.

As crianças e jovens que assistiram e viveram nesse, hoje em dia, adultos ou gerontes, supunham talvez que o mesmo lhes fosse suceder, ou seja, ainda havia algo de positivo em chegar a uma certa idade e ser avô ou avó perante uma família que trata com o maior respeito e dignidade possível.

O cenário da atualidade mudou e apesar da grande autoridade e respeito que se perdeu, os avós estão mais flexíveis e tolerantes com os netos e restantes familiares. Por norma, os avós cedem com mais facilidade aos netos do que cediam aos próprios filhos e aproveitam a oportunidade de ser avós para corrigir algumas falhas que admitem ter cometido com os filhos. Os avós são também uma fonte inesgotável de sabedoria que surpreende a curiosidade dos netos e como também costumam ter mais paciência que os pais, transmitem-lhe muitos e importantes valores que são levados com os jovens para a vida.

Além de educadores, que são em muitos casos, os avós têm um papel preponderante na sociedade em geral. São simultaneamente alicerces e telhado de crianças e jovens em risco e evitam em muitos casos, que os netos vão para orfanatos, que passem fome e outras necessidades, ou que não vão à escola, ou que comecem a trabalhar precocemente.

Na maioria dos casos, os avós dedicam uma boa parte da sua reforma a tomar conta dos netos que, atualmente passaram a deixar de contar com a presença maternal permanente devido à emancipação feminina e à entrada da mulher no mercado de trabalho e em muitos casos, de progressão na carreira profissional. Assim, na ausência dos pais, os avós são os adultos responsáveis e chegam por vezes a ser sobrecarregados com várias responsabilidades inerentes, tornando-se em alguns casos, “escravos” dos próprios filhos.

É por estes motivos e por mais uns quantos que não foram referidos, que devemos o maior respeito a todos os avós. E sobretudo, lembrarmo-nos (não só no dia dos avós, mas sempre) de que a companhia, o carinho e o afeto são gratuitos e constituem a melhor forma de pagarmos tudo o que os avós fazem pelos netos e pela família em geral.

 

Sara Beja

Pós-graduação em Gerontologia

 

 

 

 

«FÉ E CIÊNCIA», um diálogo pacífico!

28-07-2014 18:47

Um peregrino em busca da verdade é uma das muitas definições de Homem que ao longo da história nos têm procurado elucidar sobre este ser diferente, específico, multifacetado e com características únicas.

Desde os tempos imemoriais até aos nossos dias, sempre o Homem se apresentou como um ser inquieto, que se admira, se espanta e, acto contínuo, se lança em busca de respostas às questões que a realidade circundante lhe coloca.

O conhecimento foi e é para ele uma epopeia de vida, um doce desassossego de alma, numa constante procura de saber mais e descobrir o que desconhece mas sabe que existe…

Este mistério tão real como humano, levou Alberto Giacometti, escultor suíço, a representá-lo numa maravilhosa escultura em bronze, à qual chamou: L'Homme qui marche (O Homem que caminha de andar decidido, com o olhar posto no horizonte, em direcção à luz das estrelas).

Sequencialmente, com o decorrer da história, o Homem foi procurando encontrar respostas para os seus problemas, em sociedade, pois isolado nunca ele teria sobrevivido, na medida em que é por excelência um ser social e só vivendo interpares foi possível subsistir, fazendo face ao imenso desconhecido.

As descobertas, as respostas, eram partilhadas e o assentimento aos saberes encontrados e transmitidos eram comumente aceites por todos. Não seria seguramente feito à toa, pois a coerência das conclusões e a credibilidade e idoneidade de quem o dizia, eram factores que conduziam a uma aceitação racional e crítica.

Quase todos os conhecimentos que nós adquirimos ao longo da nossa vida devem-se ao facto de confiarmos em quem no-los transmite. Acreditamos que nos chamamos o nome, que nos dizem os nossos pais e até acreditamos que são nossos pais, sem querer investigar ou fazer qualquer experimentação credível para confirmar tal facto.

Sabemos que a Austrália existe sem nunca lá termos ido, sabemos que existiram duas grandes guerras mundiais porque nos contaram e nós fazemos crédito nessas pessoas, nos livros de história, enfim, num leque de informações que recebemos e consideramos credíveis porque a nossa razão nos aponta e indica que sim.

Há uma cadeia de confiança no saber, que se recebe dos outros e se transmite. Viver é confiar, é fazer fé do que nos dizem, do que nos contam os que sabem, porque viram, porque aprenderam, porque lhes contaram.

Sabemos muitas coisas porque acreditamos, diria que mais de 90% do nosso conhecimento é consequência do “fazer fé no que nos dizem”…

Este acto de acreditar é também o cerne da ciência, todos os cientistas acreditam que o mundo é compreensível, que vão conseguir desbravar todo o desconhecido e transformá-lo em conhecimento rigoroso. Esta atitude da Ciência é um acto de fé na capacidade humana e é a atitude mais razoável do homem no mundo e na vida.

Quem só acredita na razão não sabe nada, pois o seu conhecimento não se elaborou, não recebeu matéria-prima para o fabricar, na medida em que se recusou a interiorizar todos os conhecimentos transmitidos pelos livros, pelas tradições e pelos outros, em sociedade.

Mais grave é esta atitude redutora no plano sobrenatural ou divino, pois aqui a negação da Fé bloqueia o Homem, impedindo a sua abertura ao que está para além, ao envolvimento com uma realidade mais abrangente, mais completa. Quem acredita vê, a Fé é uma Luz que ilumina por fora e por dentro, por isso ela transforma o Homem e prepara-o para aceder à coerência da totalidade do real. Se “O Conhecimento é o nosso Destino “na expressão de Carl Sagan no final do livro “Os Dragões do Éden”, poderemos fazer um voto de assentimento a toda a Tradição e afirmar que Deus é o princípio e o fim, o Alfa e o Ómega, o sentido pleno de toda a nossa caminhada, embora errar seja próprio da Condição Humana.

A Pontifícia Universidade da Santa Cruz de Roma lançou um seminário em Roma sobre Ciência e Fé, com a duração de três anos. Contando com cerca de 50 participantes cientistas, dos quais muito poucos são de Teologia, reunir-se-ão uma vez por mês na Sede da Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma). O seu objetivo é saber como se ajudam e entrelaçam no sentido do seu objectivo comum: progresso cultural, social e económico, não perdendo de vista o horizonte de dignidade humana, ponto fulcral de todo o desenvolvimento.

Em Portugal ainda se discute uma possível incompatibilidade entre Ciência e Fé mas, a nível internacional, é pacificamente aceite que entre ambas não existem contradições nem exclusões, digamos que está “cientificamente provado” que são realidades dinâmicas em diálogo não só constante como também possível.

Susana Mexia-Professora de Filosofia

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