Reflexões

Agora vai e repara a minha casa!

16-07-2014 18:46

A vida está marcada por uma sequência contínua de partidas e chegadas, chegadas e partidas. Nestes últimos dias, a nossa unidade Pastoral (Proença-a-Nova, Peral, Cardigos e São Pedro do Esteval) viveu esta maravilhosa sequência de viagem. Caminhar de peregrino que ganha mais vida quando guiado pela exortação de Jesus: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá as suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade” (Mt 6,34).
Ora, para nós, o sermos membros da grande família que é a Igreja Católica e de uma comunidade concreta (a paróquia, a comunidade religiosa,…), implica envolvermo-nos em catequeses, encontros de formação e de avaliação da ação apostólica, convívios, acampamentos, retiros e vigília de oração.
Nestes últimos dias, os diversos grupos de reflexão sinodal existentes nas paróquias de Cardigos (Vales), Peral, Proença-a-Nova e S. Pedro do Esteval reuniram-se em convívio para avaliar a caminhada de reflexão e propositura de acção apostólica da diocese para a família na sua natureza e missão; os jovens do 8º e 9º anos da catequese, durante 3 dias (fim-de-semana/27 a 29 junho) tomaram a sério o slogan “Somos +”; o Agrupamento 157 do CNE (Escuteiros)- Proença-a-Nova, com o tema “Alvitrar para preparar”, rendeu-se ao acampamento durante 3 dias; os jovens crismandos mergulharam na onda do retiro espiritual (28/junho) e no domingo (6julho) receberam o Sacramento do Crisma.
Os Missionários do Preciosíssimo Sangue, na realização do seu II Congresso da Província Ibérica e no âmbito de preparação da celebração dos duzentos anos da sua fundação, fizeram uma viagem ao passado para fundamentar o presente e alargar horizontes.
A unidade pastoral acolheu de 30 de junho a 6 de julho, um grupo de rapazes de carisma franciscano. Os frades Capuchinhos Franciscanos durante 7 dias palmilharam de um ao outro extremo, estas “terras do pinhal”, ao estilo de Francisco de Assis, levando a palavra do Evangelho e testemunhando a alegria da fé em Cristo.
Eis-nos pois a viver uma verdadeira sinfonia de chegadas e partidas… E é nesta sinfonia que se espelha a possibilidade de alcançarmos a vitória!
Agora que alcançámos estes patamares, ninguém jamais se deixe ofuscar pelas modas e as conveniências do momento, ninguém permaneça acomodado na sua zona de conforto, não fiquemos ancorados no lugar de partida. Porque a vida é uma sequência contínua de partidas e de chegadas. Portanto, seja cada um de nós protagonista da história, mergulhemos na vida, como fez Jesus.
A todos os jovens que receberam o Sacramento do Crisma e a todos os grupos que fizeram a experiência da caminhada sinodal marcada pelo tema: “Família – Natureza e Missão”; a todos os jovens que pela primeira vez viveram com emoção: “Somos+”;  a todo o Agrupamento 157-CNE, que em acampamento ousou “Alvitrar para preparar” (…), a todos nós, o Senhor dos senhores diz, como outrora a Francisco de Assis diante do Crucifixo: ‘Francisco, vai e repara a minha casa.’
Qual casa? A minha Igreja! Sim, coloca-te ao serviço da minha Igreja, amando-a e trabalhando para que transpareça nela sempre mais e mais a Face de Cristo. Mas para o sucesso deste cumprir da missão por cada cristão,  no florescimento e contínuo crescimento da família cristã, para a evangelização do mundo e na afirmação da Igreja Católica, importa ter a consciência de duas verdades: 1) que fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho, e quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes e descobrimos dons e capacidades que não sabíamos ter, e recursos que não pensávamos conseguir; 2) que Jesus prometeu: “Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Padre Ilídio Graça
 

Nada de novo debaixo do sol

16-07-2014 18:45

Tudo na vida tem um tempo e a vida quer-se vivida a seu tempo. Transversal a todas as civilizações, culturas e tradições, sempre o Homem viveu submergido no limitado espaço de tempo que confinou a sua existência. Um tempo sentido, um tempo sonhado e a, seu tempo, um tempo concretizado.
A nostalgia do tempo que já foi e a esperança ou ânsia do tempo que há-de vir, limitam o nosso espaço de tempo e definem aquilo a que, muito simplesmente, chamamos existir.
A cadência do fluir dos nossos dias pautam o ritmo do nosso coração e impelem-nos à concretização dos ideais em tempos sonhados. Vivemos ao ritmo dos tempos mas, é importante que sejamos senhores do nosso tempo e não escravos dum ritmo dum tempo sem tempo.
A fugacidade ou a vertigem destes alienantes tempos, coarctam-nos a possibilidade da abrangência duma plenitude num tempo sem fim, porque o homem não é o Autor do Tempo. Todavia, aproveitar o tempo será uma arte de bem viver, pois a vida também é um tempo de merecer, de agradecer e de preparar outro tempo, o qual, porque está para além do tempo, não tem limite nem fim e também já não se chama tempo mas, tão só, Eternidade.
É da riqueza das marcas dos tempos que reza a história feita pelos homens e dela nos fala o livro:” Medição do Tempo” em Torres Vedras, da autoria de José Mota Tavares, José António Madruga e Carlos Guardado da Silva.
Creia o leitor que não perde o seu tempo se lhe dedicar o tempo necessário à sua leitura, compreensão e admiração.
Afinal todos somos frutos do nosso tempo, porém, a nossa intervenção no fluir dos tempos, é um acto de cidadania que acrescenta mais saber ao tempo presente, enaltece os tempos passados e enriquece os tempos vindouros.
Cientes desta certeza estiveram, seguramente, os autores desta obra, pois, “ nada de novo debaixo do sol”, excepto o esforço, a dedicação e o empenho dos que oferecem o seu tempo e se lançam na epopeia de compreender e integrar a ”harmonia do universo”.
Maria Susana Mexia
 

É à noite

16-07-2014 18:44

Desde sempre, a noite foi um motivo de inspiração para poetas, pintores, cineastas e outros artistas. Não é novidade que “o lado lunar” de que fala Rui Veloso traz consigo uma atmosfera diferente do ambiente diurno. Agora, o que eu não entendo é o que se passa com os meus filhos logo que o sol se começa a pôr e que, se nós os deixássemos, se prolongaria até finalmente caírem para o lado.
Durante o dia, correm, jogam à bola, assistem a desenhos animados, ajudam a pôr a mesa, mas tudo é sempre algo conturbado. De cinco em cinco minutos, alguém ralha, alguém aparece a chorar, alguém se queixa de alguém. Todos os motivos, mesmo os mais pequeninos e impercetíveis, são causa para uma estrondosa choradeira, um prolongado queixume e até para um corte de relações durante alguns minutos.
Ao longo do dia, às vezes, parece que nunca se vão entender, que não falam a mesma língua e que não conseguem brincar juntos a nada, mais de dois minutos. E é assim durante todo o dia, a não ser que durante a tarde vejamos um filme bestial com umas belas pipocas ou que os enfiemos na piscina (contudo, neste caso, corremos mais riscos, porque há sempre um que molha o outro sem que este o deseje).
À medida que nos aproximamos do jantar, aumenta a cumplicidade e depois do jantar é o despertar! Depois de jantar, os meus filhos descobrem a magia da brincadeira juntos, o encanto de ter muitos irmãos e brincam por tudo e por nada. Conseguem estar mais de meia hora a correrem uns atrás dos outros sem parar e sem discutirem, em tremenda galhofa. E mesmo quando, fruto de alguma pequena irregularidade do pavimento ou de algum pequeno empurrão, algum cai, levanta-se logo a seguir com cara alegre, mesmo que no joelho escorra um pouco de sangue. (Algo impossível de acontecer durante o dia. Era logo motivo para pronto-socorro junto da enfermeira mãe, com muito choro à mistura!)
A animação depois de jantar é demais. Ontem, tivemos música, cantoria e dança e parecia que os tínhamos ligado à corrente elétrica. Brincavam e saltavam uns com os outros, abraçavam-se e riam-se como se não houvesse amanhã. No dia anterior, ou melhor, na noite anterior, estivemos a brincar aos espanhóis…falávamos espanhol (portunhol) e os miúdos corriam à volta da cadeira do mais pequeno dizendo “Buenas noches, chico!” Isso é que foi galhofa! O pequenito, com os seus dois dentinhos recém-chegados, ria-se, ria-se e mexia a cabeça de um lado para o outro à procura dos irmãos que não se cansavam de correr.
Tudo isto acontece depois de jantar, quando a luz do dia já escasseia muito, quando tanto o pai como a mãe já não podem com um gato pelo rabo, a criançada ainda está na maior. O que vale é que a risada é tão grande, ficamos tão contaminados que, por momentos, não há cansaço que nos valha e só queremos rir e gozar aqueles momentos à grande.
E mesmo quando finalmente os conseguimos aninhar na cama e dizer-lhes até amanhã, logo que a porta se fecha, surgem mil e um assuntos que faltam ser falados e que na escuridão do quarto são o desencadear de mais galhofa. Se os formos ver depois de adormecer, o cenário é inacreditável. As camas todas reviradas, a dormirem na diagonal ou mesmo de pernas para o ar, porque adormeceram no meio de grandes brincadeiras.

 Rita Gonçalves
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês
Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional
Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)

A relatividade do Tempo

16-07-2014 18:43

Este artigo é uma singela homenagem. Conheci um senhor muito ilustre, bem-falante, simpático, inteligente, artista e ao mesmo tempo humilde.
Este senhor morava num lar. A viuvez, a falta de saúde e a solidão levaram-no até lá. Apesar das vicissitudes da vida e das várias dificuldades que encontrou, mantinha a força de artista!
Era um poeta talentoso e com a peculiaridade do rigor, simetria, rimas e vocabulário rebuscado. Os seus poemas tinham alma e eram por norma retrato de muitas vivências, pessoas que passaram na sua vida, sítios que o marcaram, paisagens e outros elementos da natureza.
Tinha a capacidade de decorar meticulosamente todos os seus versos para que alguém gentilmente os pudesse escrever. Isto porque a sua vista já não o permitia fazer. Decorava por vezes, durante dias a fio até que alguém finalmente os passava a papel.
Tinha material de qualidade e de sobra para fazer um, dois ou três livros. E apesar das inúmeras publicações que outrora fez em jornais, o seu maior sonho era publicar um livro. Sabia exatamente quais os trabalhos que queria ver nesse livro e aguardava ansiosamente que os responsáveis da instituição o ajudassem nessa sua árdua mas não impossível tarefa.
Continuava a ter inspiração, mesmo com a idade avançada e a saúde pouco favorável. Trabalhava arduamente todas as palavras no seu cérebro e transformava-as em arte.
Todos sabiam do seu sonho e ele vivia para isso. Mas o tempo foi passando e com o passar do tempo veio o medo de morrer. Mas mais do que o medo de morrer, era o medo de o sonho não se concretizar: “Com o tempo que estão a demorar, ainda morro sem ter o meu livro publicado”.
Não errou. Morreu, Deus o guarde em paz. E quem podia ter concretizado este sonho, ainda cá está. E agora mesmo que o faça, o principal interessado não poderá assistir àquilo que poderia ser o concretizar do sonho da sua vida…
É uma história verdadeira e que apesar de ter tido um fim menos feliz, realça o poder do sonho na vida do homem tal como nos ensina o poema de António Gedeão “Eles não sabem, nem sonham que o sonho comanda a vida”. Vamos sonhar e vamos ajudar os outros a concretizarem os sonhos, porque a felicidade do próximo também é um compromisso nosso.
Sara Beja
Pós-graduação em Gerontologia
Sara.beja@hotmail.com

O povo (re)une-se para celebrar o Corpo e Sangue de Cristo

30-06-2014 19:37

Este é o segundo ano em que a festa do Corpo de Deus é celebrada em Portugal no domingo seguinte da Solenidade da Santíssima Trindade, como consequência do acordo entre a Santa Sé e o Governo Português que aboliu dois feriados religiosos: a festa do Corpo de Deus, liturgicamente celebrada na quinta-feira depois de Pentecostes, e o dia de Todos os Santos. Entretanto, até 2017, altura em que a Festa do Corpo de Deus retomará o seu lugar, como ficou afirmado no acordo, a Igreja Católica portuguesa continua a solenizar o Corpo de Deus mas no domingo imediato, depois da festa da Santíssima Trindade.
Aquele acordo dissociou a inseparável ligação que existe entre a festa tradicionalmente chamada Corpo de Deus e a festa da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa. Na verdade, a associação entre estas duas solenidades manifesta a entrega suprema de Cristo ao Pai e aos seus, e ao mesmo tempo expressa a sua ação transformadora na história humana até ao fim dos tempos. Enquanto na Quinta-Feira Santa se revive o mistério de Cristo que se oferece a nós no pão partido e no vinho derramado, na festa do Corpo de Deus – quinta-feira depois do Pentecostes - este mistério de Cristo é proposto em adoração e à meditação do povo de Deus. Neste exercício de fé piedosa, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas ruas atapetadas de flores, por entre cânticos de louvor e glória ao Senhor e também para manifestar ao mundo que Cristo Ressuscitado caminha no meio de nós e nos guia para o Reino de Deus.
Seja qual for o dia da celebração do mistério do Corpo e Sangue de Cristo, os três momentos de vivência litúrgica e atitudes de fé são sempre extraordinária marca desta grande festa. Antes de tudo, acontece a reunião dos fiéis em volta do altar do Senhor, para estar na Sua presença; em segundo lugar, a procissão, no caminhar com o Senhor; e por fim, o ajoelhar diante do Senhor, a adoração que se inicia na Missa e acompanha toda a procissão, e tem o seu apogeu no momento final da bênção eucarística, quando todos se prostram diante d’Aquele que sendo Deus se humanou e, fazendo a vontade de Deus-Pai, se inclinou na Cruz dando a vida por nós, homens.
Na homilia dirigida aos fiéis reunidos na praça de S. Pedro, o Papa Francisco disse:  “Na procissão de Corpus Christi, acompanhamos o Ressuscitado no seu caminho pelo mundo inteiro. E, precisamente fazendo isto, respondemos também ao seu mandamento: “Tomai e comei... Bebei todos” (Mt 26, 26s.). Não se pode “comer” o Ressuscitado, presente na figura do pão, como um simples bocado de pão. Comer este pão é comunicar, é entrar em comunhão com a pessoa do Senhor vivo. Esta comunhão, este ato de “comer”, é realmente um encontro entre duas pessoas, é deixar-se penetrar pela vida d’Aquele que é o Senhor, d’Aquele que é o meu Criador e Redentor. A finalidade desta comunhão, deste comer, é a assimilação da minha vida à sua, a minha transformação e conformação com Aquele que é Amor vivo. Por isso, esta comunhão exige a adoração, requer a vontade de seguir Cristo, de seguir Aquele que nos precede. Por isso, a adoração e a procissão fazem parte de um único gesto de comunhão; respondem ao seu mandamento: “Tomai e comei”.
Na Unidade pastoral de Proença-a-Nova, os trinta e três altares habitualmente ativos em muitos momentos ao longo do ano litúrgico, neste dia reúnem-se nos quatro altares correspondentes às igrejas matrizes das paróquias (Cardigos, Peral, S. Pedro do Esteval e Proença-a-Nova). Sem dúvida a experiência de união na diversidade, de comunhão, do povo que caminha faz-se precisamente na Eucaristia, na Missa. Aqui tem pleno sentido a afirmação: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo.” (Gl 3, 28) e ganha expressividade, pois tanto maior e mais forte é a expressão de fé neste celebrar O Corpo e Sangue de Cristo quanto mais sólida a consciência de fé de que “Nós levamos Cristo, presente na figura do pão, pelas estradas da nossa cidade. Nós confiamos estas estradas, estas casas a nossa vida quotidiana à sua bondade. Que as nossas estradas sejam de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e com Ele! A nossa vida de todos os dias estejam penetradas da sua presença. Com este gesto, colocamos sob o seu olhar os sofrimentos dos doentes, a solidão dos jovens e dos idosos, as tentações, os receios de toda a nossa vida. A procissão pretende ser uma bênção grande e pública para a nossa cidade: Cristo é, em pessoa, a bênção divina para o mundo, o raio da sua bênção abranja todos nós!” (Papa Francisco).                                Padre Ilídio Graça
 

Celebrar o sagrado, festejar o profano

30-06-2014 19:37

No calendário, Junho é o sexto mês do ano e também mês de mudança de estação, fina-se a Primavera e começa o Verão mas com ele se dá também o início da época de festas. É também Junho um mês liturgicamente rico e cheio de celebrações festivas. Em Junho, a igreja católica celebra muitos dos seus Santos, no nosso país o Anjo de Portugal no mesmo dia do feriado nacional, de permeio os Santos Populares e a terminar, os santos apóstolos Pedro e Paulo, os dois pilares fundacionais da Igreja instituída por Cristo.
No quadro destas celebrações religiosas, a tradição festiva popular levou a que a celebração do sagrado se fosse ao longo dos tempos diluindo no jeito profano de fazer a festa. E a verdade é que hoje são muitas as situações em que a festa profana se sobrepõe à celebração do Santo padroeiro.
Diz-nos Mircea Eliade em “O Sagrado e o profano- a essência das religiões” que «o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história.». Eliade adianta ainda que «estes modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no Cosmos.» Por outro lado, é um facto também que a própria igreja católica apropriou da tradição popular e das culturas dos povos evangelizados momentos festivos para instituir no calendário determinadas celebrações litúrgicas. Mas fundamental na relação e atitude do homem para com a celebração solene do Santo e na vivência da festa é que se tenha absoluta consciência do que é sagrado e do que é profano.
Não me parece de bom tom nem tão pouco justo e razoável que a celebração litúrgica do orago da terra seja simplesmente abafada pelo programa da festa profana. É que «Honrar os santos significa, antes de mais, honrar Deus Pai, o todo Santo.» (in dicionário elementar da liturgia).
É pois tempo de celebrar a devoção ao Santo predilecto com a religiosidade própria do louvor, da petição e da acção de graças; é tempo de fazer a festa em honra do Santo Padroeiro com a dignidade cerimonial da liturgia sem misturas de programa profano. Que as festas dos Santos populares sejam de enlevo espiritual, apesar da animação também necessária e própria do convívio social humano. É tempo de as festas populares de Verão se assumirem verdadeiramente na dimensão sagrada, cumprindo-se um seu programa profano em tempo diferente, isto é, não sobreposto nas horas do dia, de modo a que cada celebração aconteça no tempo e modo próprios com a dignidade específica de cada tipo de festa. Para que tal aconteça em harmonia e paz social, é também conveniente que o agendamento horário da celebração litúrgica/religiosa do Santo e programa profano da festa sejam definidos em concertação atempada pelas partes, no respeito pela ancestral religiosidade cristã e tradição do povo.
Haja animação, divirta-se o povo! Mas viva-se dignamente a fé e com alegria cristã na festa a devoção ao Espírito Santo, em louvor de Nossa Senhora ou em honra do Santo!
Alfredo Bernardo Serra

    
 

Trabalho sim, escravidão não!

30-06-2014 19:36

“Construir um futuro com trabalho decente”

“É inaceitável que, no nosso mundo, o trabalho feito por escravos se tenha tornado moeda corrente. Isso não pode continuar!”, exclamou o Papa Francisco na mensagem enviada ao diretor geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, na qual exortou os países membros a unir esforços para acabar com o tráfico de pessoas, um horror que reduz as suas vítimas ao estado de escravidão.
O Santo Padre dirigiu esta mensagem para a 103ª sessão da Conferência deste organismo em Genebra (Suíça), que se realiza até ao dia 12 de junho de 2014, sob o tema “‘Construir um futuro com trabalho decente”, e no qual os trabalhadores, empresários e governos dos 185 estados membros discutirão sobre migração, políticas para o emprego, estratégias contra a informalidade e fortalecimento da convenção sobre o trabalho forçado.
“Esta Conferência reúne-se num momento crucial na história económica e social, apresenta  desafios para todo o mundo. O desemprego expande tragicamente as fronteiras da pobreza. Isto é particularmente desanimador para os jovens desempregados, que se podem  facilmente ficar desmoralizados, perdendo a consciência do seu valor e sentirem-se alienados da sociedade”, expressou o Papa. A este problema, assinalou, junta-se também o da migração. “Já é considerável o número de homens e mulheres forçados a procurar trabalho longe de sua terra natal. Apesar de sua esperança de um futuro melhor, frequentemente se deparam com incompreensão, exclusão e outros problemas ainda mais graves”. Expõe a muitos outros perigos, como o horror do tráfico de pessoas, trabalho forçado e a escravidão”.
“O tráfico de seres humanos é uma chaga, um crime contra a humanidade. É hora de unir forças e trabalhar em conjunto para libertar as vítimas desse tráfico e  erradicar este crime que afecta a todos nós, desde as famílias à  Comunidade Mundial”.
Nesse sentido, disse que é hora de reforçar “as formas existentes de cooperação e estabelecer novas formas de aumentar a solidariedade. Isto requer: um compromisso renovado com a dignidade de cada pessoa; uma implementação mais determinada de normas internacionais do trabalho”, assim como “o planeamento para um desenvolvimento centrado na pessoa humana como protagonista central e principal beneficiária”.
Do mesmo modo, indicou, impõe-se “uma reavaliação das responsabilidades das empresas multinacionais nos países em que actuam, incluindo as áreas de gestão de lucro e de investimento; e um esforço coordenado para encorajar os governos a facilitarem a movimentação de migrantes em benefício de todos, eliminando assim o tráfico de seres humanos e as perigosas condições de viagem”.
Na sua mensagem, Francisco afirmou que a Doutrina Social da Igreja apoia “as iniciativas da OIT, que se destinam a promover a dignidade da pessoa humana e a dignidade do trabalho”.
Maria Susana Mexia

O Dia de Portugal devia merecer mais respeito...

30-06-2014 19:36

No passado dia 10 de Junho celebrou-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A data escolhida, o décimo dia de Junho, é o dia que os anais da história assinalam como o dia da morte de Luís Vaz de Camões, nos idos de 1580.
Acresce que, neste dia carregado de significados, celebra-se também o Dia do Anjo de Portugal. Esta festa encontra as suas raízes no reinado de D. Manuel I, quando a pedido do monarca português, o Papa Júlio II instituiu, em 1504, a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já seria antigo em Portugal. A sua devoção quase desapareceu depois do séc. XVII, mas seria restaurada mais tarde, em 1952, quando foi inserida no Calendário Litúrgico português por Pio XII, para comemorar o dia de Portugal. Esta acção do sumo pontífice, vai ao encontro da secular tradição em que cada nação tem um Anjo encarregado de velar por ela. Contemporaneamente, esta devoção teve um aprofundamento na piedade popular muito devido às Aparições do Anjo aos Pastorinhos, em Fátima.
O dia de Portugal deveria ser o pretexto para celebrarmos as razões da nossa dignidade aos mais vários níveis. Os símbolos que nos enraízam numa história de nobre povo e nação valente deveriam sair reforçados quando celebramos o nosso dia, o Dia de Portugal.
Por isto tudo, é difícil perceber o que aconteceu este ano nas cerimónias do Dia de Portugal. Falo do ódio devotado à figura do Presidente, por uns quantos que se acham no direito de representar a nação por inteiro quando as contrariedades da vida nos assolam. Para além de serem sempre os mesmos, estão longe de representar o Portugal de Camões. Há um lugar para cada coisa e não ter consciência disso é perder o senso comum e, inclusive, correr o risco de debilitar as causas que se defendem. Foi uma crispação lamentável que nada dignifica os seus protagonistas. Dizia São Josemaria Escrivá: “Serenidade: Por que te zangas, se zangando-te ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar?” (Caminho, 8).
Concluo citando o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Evangelium Gaudium: “Os males do nosso mundo – e os da Igreja – não deveriam servir como desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor. Vejamo-los como desafios para crescer. Além disso, o olhar crente é capaz de reconhecer a luz que o Espírito Santo sempre irradia no meio da escuridão, sem esquecer que, «onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 20)” (n.84).
José Manuel Pimenta

Pensar a Liberdade (é amar o outro)

30-06-2014 19:35

Pensar a Liberdade é muito mais do que uma simples, embora justa, reivindicação política, semelhante àquelas que se fazem em Portugal em cada mês de Abril, desde 1974. Também não se reduz a uma consideração pessoal, parecida com “Sou livre de fazer e de dizer o que quero!”. Pensar a Liberdade é, então, em meu entender, um pouquinho mais, é pensar o Amor.
O Amor é, em cada ser humano, uma manifestação de Liberdade, porque somos mais livres quanto melhor amamos, e ama melhor aquele que ama a Liberdade dos outros tanto ou mais do que a sua própria. Por outras palavras, sente-se mais livre aquele que assume livremente amar o outro e atender à sua (do outro) liberdade prioritariamente. É certo que é muito difícil realizar no nosso dia-a-dia este Amor, pois ele exige orientação, autodomínio e respeito (pelo outro e por si mesmo), mas é justamente essa dificuldade aquela que nós podemos ultrapassar, basta que consideremos, ou nos recordemos, do nosso maior dom, isto é, basta que tenhamos sempre presente que é nossa efetivamente a Liberdade de escolher Amar.
Giovanni Pico Della Mirandola (*)  , um jovem prodigioso filósofo renascentista, acreditava que Deus nos havia criado livres, livres de escolher sermos com as bestas ou livres de escolhermos aproximarmo-nos dos Anjos no nosso modo de ser. A sua proposta filosófica é um elogio à Bondade de Deus, ao Seu amor pelos seres humanos, traduzido no dom da Liberdade que lhes concedeu. Na verdade, na nossa vida do dia-a-dia conseguimos ver como alguns seres humanos são divinos ou criam obras divinas e como outros insistem em escolher ser brutos e em criar conflitos e destruição.
Por esta razão, considero que pensar a Liberdade é muito mais do que pensar filosoficamente um conceito passível de diversas leituras: política, psicológica ou até jurídica. Pensar a Liberdade exige o compromisso racional de compreender o Amor, de aceitar que o Amor não se confunde com o desejo, propriedade ou felicidade, embora deles possa ser concomitante, mas antes nos liberta do egoísmo e do egocentrismo e nos permite a possibilidade de escolher aproximarmo-nos dos Anjos, ou seja, daqueles que, na terra e no dia-a-dia, sendo humanos, orientam a sua vida na direção dos outros e amam o outro como a si mesmo.
Por ser realmente difícil mas não ser impossível, eu advogo que também na educação escolar deveríamos ser capazes de ensinar a escolher Amar.
(*) – Mirandola, Giovanni Pico Della (1989). Discurso sobre a dignidade do homem. Edição bilingue. Lisboa: Edições 70, pp. 51-55.
Ana Cristina Lúcio - (Professora de Filosofia e Mestre em Ciências da Educação) 18.06.2014

Uma aventura às compras

30-06-2014 19:35

Fruto de várias vicissitudes (não há nada como iniciar um texto com uma palavra grande!), hoje vi-me obrigada a ir ao supermercado com quatro miúdos atrás. O estabelecimento comercial não era muito espaçoso, o que fez com que a própria condução do veículo comercial não tenha sido nada fácil. Para já não falar na presença de dois dentro do carro, o que não deixava muito espaço livre para as ditas compras. Apesar de tudo isto e de se tratar de um final de semana e de um final de dia, em que as energias já não abundam, dá-me sempre um certo gozo porque toda a gente olha, provavelmente pensando que sou uma mulher muito corajosa, ou muito alucinada. Às vezes, também há olhares de quase pena!
Ir às compras com filhotes é sempre uma aventura, porque não podemos e não devemos pôr-nos a gritar e a ralhar com os miúdos e, para além disso, caso haja asneira da grossa, não podemos dar-lhes uma bela palmada. Além disso, existe sempre a possibilidade de desatarem a correr pelos corredores e, nós, em vez de fazermos as compras, temos de andar atrás deles, o que também não é lá grande coisa. Outra possibilidade muito forte num meio pequeno é encontrarmos miúdos conhecidos e então, aí, é a loucura, porque esquecem-se que estão num supermercado e, em delírio, pensam que estão num parque infantil!
Pois bem, tudo isso me aconteceu nesta ida ao supermercado. Dois iam dentro do carro (temporariamente), um encontrou três colegas da escola e a minha menina andou a correr pelos corredores. O que vale é que posso mandar o mais velho atrás dela, porque ver uma criança a correr atrás de outra é sempre bastante menos vergonhoso do que ver uma mãe deixar um carro de compras com dois e correr atrás de uma miudita!
No meio de tudo, passámos por todos os corredores e não tive de lidar com nenhuma birra por causa de algo que querem pôr no carro, algo que querem que a mãe compre. Isso é estupendo. Os meus filhos fazem trapalhadas como os outros, às vezes, respondem meio torto, prendem o burro, mas não fazem birras porque a mãe não compra o que eles desejam. Os mais velhos até já aprenderam a escolher o mais barato e, quando lhes digo que podem escolher umas bolachas, já sabem que devem escolher umas que custem menos de um euro.
Pode parecer estranho estar a escrever um texto sobre isto, mas, de facto, dá-me prazer ir às compras com os meus filhos, confrontá-los com os brinquedos da moda, com os cereais que dão na televisão e ir falando com eles sobre os preços, o dinheiro, o essencial e o supérfluo. Não que eles tenham de perceber tudo de uma só vez ou que não tenham o direito de ambicionar mais, mas porque é importante saber viver com pouco, mesmo que se possa ter muito; porque é importante saber esperar, saber pensar nos outros e, progressivamente, ir pondo as coisas no seu devido lugar.
E, ao mesmo tempo, que tentamos ensinar os nossos filhos a serem desprendidos das coisas e das modas, também estamos a ensinar-nos a nós mesmos, estamos a obrigar-nos a ser o que defendemos, estamos a exigir-nos de nós mesmos uma coerência de pessoa de peça única, de uma só cara e isso é muito importante.
 Rita Gonçalves
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional
Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)

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